Gestão

A existência humana nas empresas

de Marcos Nascimento em 13 de abril de 2012

Há algum tempo escuto que as grandes e importantes fusões já aconteceram e que não há mais nada de grandioso por acontecer nesse cenário. Pode ser, mas como não gosto de generalizações, prefiro ser mais cético. Principalmente porque nosso país é absurdamente grande e pouco conhecido, organizacionalmente falando. Estamos repletos de empresas fantásticas e, ainda assim, desconhecidas fora de seus Estados. Não se trata de organizações com poucos funcionários ou de faturamento insignificante, mas com dezenas de milhares de pessoas e faturamentos bilionários, capazes de causar inveja a grandes corporações globais. Pois bem, é nelas que penso ao questionar a afirmação que tenho escutado sobre F&A. Mas minha consternação não é se as fusões acabaram, mas a contextualização do que é importante nesses processos.

Se você já passou por uma fusão, como funcionário afetado pelo resultado do processo, sabe do que estou falando. Não me refiro aos que passam por isso sob o ponto de vista de quem dá apoio, como consultorias. A questão básica em um processo assim não está ligada ao valuation, nem mesmo ao volume de vendas que será multiplicado, mas se refere a sentimentos, emoções e conhecimento. E tudo isso habita em um único repositório: pessoas. O pecado que se tem cometido há muito é “commoditizar” o processo, crendo legitimamente que um profissional sabe o quê e o como fazer nessas horas.
Por mais experiência que ele tenha, nunca será a mesma coisa: pessoas e significados diferentes, sentimentos de perda, angústia, ansiedade, vingança, medo, insegurança, vaidade… Enfim, quase que uma caixa de Pandora é o que normalmente está presente nessas situações. Como resolver isso? Quem disser que sabe, mente.

O que minimiza isso é expandir a metodologia de due diligence, utilizada para analisar números e dados, para incluir o fator humano. Não falo de headcount, pois isso está no processo, mas do que pode ser denominado de capital humano. Capital mesmo, no sentido de valor agregado para o resultado da empresa. Difícil? Sim! Impossível? Não! Já vi acontecer algumas vezes e o resultado no processo de adaptação das partes foi realmente forte. Como? Utilizando o que chamamos de diagnóstico do Employee Value Proposition. Esse diagnóstico cobre tanto o aspecto soft, como valores pessoais, nível de engajamento dos funcionários, quanto os temas hard, como identificação de sucessores, planos de desenvolvimento individual, identificação de posições chave, blindagem de hot sklls entre outras coisas. Tudo isso de forma estruturada, com ferramentas e metodologia, dados comparativos, ou seja, nada de achismos, mas muita seriedade, pois só assim é que podemos tratar temas tão sérios e negligenciados nessas situações.

A provocação a se fazer é justamente essa: respeitar a existência humana nas empresas, nos momentos de F&A, é o que fará a existência ou perpetuidade das empresas acontecerem. Pense nisso quando tiver de enfrentar uma fusão! Aliás, comece por aí, pois as grandes falhas que vi e vivi nesses processos foram justamente quando julguei que era mais importante começar pelo estrutural e não pelo humano.

 

Marcos Nascimento é partner at Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams 

 

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