Gestão

A gestão de pessoas, pelas crianças

de José Augusto Neves* em 16 de maio de 2011

Muitos profissionais me perguntam o que é preciso fazer para gerenciar pessoas e obter delas o melhor de suas ações. Percebi que observar a maneira como as crianças reagem diante de determinadas situações nos ensinam, de forma simples, atitudes que são mostradas como exemplo em livros de administração. Conheço uma história interessante sobre isso. Após um dia de trabalho, o pai chegou em casa e sua esposa contou que a professora do filho do casal havia enviado um bilhete dizendo que o menino mentia na escola. Assustado com a atitude do garoto, o pai chamou-o para conversar e começou a explicar que mentir era uma atitude feia, desagradável e desgastante quando descoberta. No meio do diálogo, a mãe avisa ao pai que há um telefonema para ele. Sem pensar, o pai fala: “Diz que eu não estou!”. Percebendo a ação contraditória, ele tentou justificar o erro. “Sua mãe deve ter anotado o telefone de quem ligou. E, quando ´eu chegar do trabalho´, ligo para ele. Existem mentiras que são para o bem, pois o mais importante agora é conversar com você. Quando crescer, vai descobrir que existem mentiras ´saudáveis´, ´leves`”. Sem se perturbar, o filho, mostrando como as crianças são verdadeiras, questionou: “Você não podia apenas dizer que estava ocupado?”

Além de perceber a mentira do pai, a criança notou que seria muito mais simples que o responsável fosse sincero naquela ocasião. Não havia a necessidade de complicações. E as crianças são assim: práticas. Para começar, elas perguntam até entender. Se algo não ficou claro, elas questionam dezenas de vezes. Boa parte dos profissionais tem receio de perguntar ao chefe quando está com dúvida.

A criança não tem preconceitos, não discrimina um coleguinha pela cor, raça, religião ou por qualquer outro gênero, que nós adultos usamos para dizer se fulano é bom ou ruim, certo ou errado. Ela aceita e brinca com o outro por causa de suas atitudes. Outra característica é não guardar mágoas. A criança se aborrece com um amigo, mas os dois voltam às boas em pouco tempo. Basta resolver o problema. Muitas vezes, ficamos magoados por causa de uma crítica, às vezes até construtiva, e perdemos a oportunidade de conhecer o outro melhor.

Os pequeninos se arriscam; testam até algo funcionar. Dentro das empresas, encontramos pessoas estáticas com medo de cometer erros. Também não é difícil conhecer profissionais desconfiados e individualistas. Já as crianças confiam umas nas outras e se ajudam sem querer nada em troca. Nossos filhos possuem uma capacidade impressionante de ouvir várias vezes a mesma história. Hoje em dia, temos gestores impacientes que não toleram uma conversa até o fim. Os pequeninos não escondem seus sentimentos e são sinceros quanto à própria opinião. Postura que os gerentes deveriam ter, além de respeitar o ser humano. A criança se concentra no que está fazendo.

Encontramos profissionais avoados, que deixam sua mente vagar na tentativa de mudar o passado ou tentar controlar o futuro. Acredito que podemos ter excelentes gestores, se os próprios aprenderem com as crianças. A atitude de seus filhos talvez seja a resposta que procuram há tanto tempo.

* José Augusto Neves é consultor da Dinsmore Associates .

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