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A gralha e o futuro

de Eugenio Mussak em 7 de janeiro de 2016
Eugenio Mussak / Crédito: Divulgação
Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação

Acompanhe esta história: o estado do Paraná tem um belíssimo símbolo que é praticamente desconhecido fora daquele estado: a gralha-azul. Trata-se de uma ave da família dos corvídeos, que encanta pela beleza de suas penas azuis, gradualmente mais escuras na cabeça e no peito. Para os paranaenses, esse belo animal-símbolo é tão importante que, diz a lenda, um caçador que tente acertá-la com um tiro verá sua espingarda negar fogo ou até explodir, pois a gralha-azul é protegida dos espíritos da floresta das araucárias. Tal devoção deve-se a uma curiosa característica do pássaro: ele é o responsável pela disseminação da Araucaria angustifolia, o majestoso pinheiro paranaense, que já recobriu a quase totalidade do Paraná e também boa parte de toda a região Sul e de São Paulo.

O detalhe curioso fica por conta do método empregado pela gralha: ela enterra os pinhões e, destes, nascerão novos pinheiros. Trata-se de uma semeadora compulsiva e incansável, que dedica sua vida à proliferação da bela árvore. A explicação para tal comportamento é que a gralhinha tem duas características: preocupação com o futuro e má memória. Enterra o pinhão com a intenção de guardá-lo e consumi-lo mais tarde, mas se esquece de onde o guardou, possibilitando, assim, sua germinação.

A gralha-azul é um dos poucos exemplos que colhemos na Natureza de animal que tem preocupação com o futuro. Bichos têm consciência do presente, do aqui-e-agora, mas, com raras exceções, como a do pássaro sulista, vivem em total despreocupação com o dia de amanhã. Não conhecem tempo, não têm noção de futuro e, do passado, guardam apenas as memórias que reforçam seus instintos. E é nessa característica que encontramos um imenso diferencial humano: nós, sim, conhecemos o conceito de tempo. Sabemos que o presente em que nos encontramos tem conexões com um tempo que passou e com um tempo que virá.    

Nunca saberemos quando o homem começou a ter tal noção de tempo, mas sabemos que somos a única espécie dotada de consciência temporal. A memória do passado e, principalmente, a imagem do futuro são qualidades mentais sofisticadas demais para qualquer outra espécie que não a humana. Nosso córtex cerebral é a parte mais elaborada de nosso cérebro e uma de suas qualidades é a análise de um número muito maior de variáveis a cada processo de tomada de decisão, entre elas, o tempo. Somos capazes, por exemplo, de adiar o prazer, e até aceitar algum sofrimento, desde que esteja a serviço de um futuro mais prazeroso. Esta é, sem dúvida, uma das vantagens competitivas que nos permitiram assumir uma posição de mando e controle no planeta, ainda que haja tanto descontrole.

Entretanto, mesmo entre nós, seres pensantes, conscientes de nossa posição neste mundo e neste tempo, há variações claras na maneira de fazermos conexões com o futuro. Buscando uma classificação simplista, mas prática, encontramos três tipos de pessoas: as que vivem o presente como se não houvesse amanhã, as que tentam, como espectadores, prever o futuro, e as que assumem a responsabilidade por sua construção. A que categoria você pertence?  

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