Gestão

Boas para viver (e trabalhar)

de MELHOR em 6 de agosto de 2014

Mais um baile. Assim pode ser visto o resultado do mais recente ranking das cidades que apresentam melhores índices de qualidade de vida, de acordo com levantamento feito pela Mercer. Mais um baile, diga-se, porque quem lidera, novamente, a lista é Viena, onde nasceu Johann Strauss, o rei da valsa. O estudo constata, além disso, uma leve dominância das cidades europeias no topo da lista. Depois da capital da Áustria aparecem Zurique e Auckland, esta situada na Oceânia, em segundo e terceiro lugares respectivamente. Munique ocupa o quarto lugar, seguida por Vancouver, que ocupa a melhor posição na América do Norte. De acordo com o ranking global de 25 cidades, Cingapura é a cidade asiática que ocupa a melhor colocação, enquanto Dubai (73ª no ranking geral) está no topo da lista entre as cidades do Oriente Médio e da África. A cidade de Pointe-à-Pitre (69ª), em Guadalupe (a maior ilha das Antilhas francesas, localizada no Caribe), ocupa o primeiro lugar entre as cidades das Américas Central e do Sul.

A Mercer realiza a pesquisa sobre qualidade de vida anualmente para apoiar as empresas multinacionais e outros empregadores a compensar os diferenciais de nível de vida aos seus empregados de forma justa quando estes são colocados em transferências internacionais. Duas iniciativas comuns incluem uma ajuda de custo destinada à qualidade de vida e uma bonificação a título de mobilidade. Uma ajuda de custo para qualidade de vida ou “adversidade” visa compensar uma redução na qualidade de vida entre os países de origem e de destino, enquanto a bonificação a título de mobilidade simplesmente compensa a inconveniência de estar deslocado e ter de trabalhar em outro país. Os relatórios da pesquisa fornecem informações e recomendações de ajuda de custo por adversidade para mais de 400 cidades ao
redor do mundo, e o ranking cobre 223 dessas cidades.

“Instabilidade política, altos níveis de criminalidade e elevado grau de poluição do ar são alguns fatores que podem ser considerados prejudiciais à vida rotineira dos expatriados, de seus familiares e residentes locais. Para assegurar que os pacotes de remuneração reflitam o ambiente local adequadamente, os empregadores precisam de uma imagem clara da qualidade de vida nas cidades onde eles atuam”, afirma Slagin Parakatil, pesquisador sênior da Mercer.

De acordo com ele, em uma economia mundial que está se tornando mais globalizada, as cidades que estão além dos tradicionais centros financeiros e comerciais estão trabalhando para melhorar a sua qualidade de vida. “Com isso, esperam atrair mais empresas estrangeiras”, conta. A pesquisa realizada este ano identifica as cidades denominadas “nível dois” ou ‘emergentes’ e aponta para alguns exemplos em nível mundial. Essas cidades têm feito investimentos pesados em infraestrutura e atraído investimentos estrangeiros diretos ao disponibilizarem incentivos, tais como fiscais, habitacionais ou facilidades de entrada. “As cidades emergentes se tornarão as principais participantes com as quais os centros financeiros e as cidades capitais terão de competir”, observa Parakatil.

Itens de pesquisa

Ao avaliar as condições de vida locais em mais de 460 cidades, a Mercer leva em conta 39 fatores, agrupados em 10 categorias:

> Ambiente político-social (estabilidade política, criminalidade, aplicação de leis etc.)
> Ambiente econômico (regulamentações de mercado cambial, serviços bancários)
> Ambiente sociocultural (disponibilidade e censura da mídia, limitações à liberdade pessoal)
> Considerações médicas e de saúde (suprimentos e serviços médicos, doenças infecciosas, rede de esgoto, destinação de resíduos, poluição do ar etc.)
> Escolas e educação (padrões e disponibilidade de escolas internacionais)
> Serviços e transporte público (eletricidade, água, transporte público, congestionamento do trânsito etc.)
> Recreação (restaurantes, teatros, cinemas, esporte e lazer etc.)
> Bens de consumo (disponibilidade de alimentos/artigos de consumo diário, carros etc.)
> Habitação (aluguel de casas, eletrodomésticos, móveis, serviços de manutenção)
> Ambiente natural (clima, registro de desastres naturais)

#Q# 
Europa
No velho continente, Viena é a cidade que ocupa o primeiro lugar. Ela é seguida por Zurique (2ª), Munique (4ª), Düsseldorf (6ª) e Frankfurt (7ª). “As cidades europeias desfrutam o mais alto padrão de qualidade de vida no geral em comparação às cidades de outras regiões. Cuidados com a saúde, infraestrutura e locais de recreação geralmente contam com um padrão bastante elevado. A estabilidade política e os níveis de criminalidade relativamente baixos permitem que os expatriados se sintam seguros na maioria das localidades. A região presenciou pouquíssimas mudanças nos padrões de vida ao longo do último ano”, avalia Parakatil.

No ranking geral de 191 cidades, Tbilisi, capital da Geórgia (que fica na fronteira entre Europa e Ásia), é a que ocupa o último lugar no ranking das cidades europeias. Embora ela continue a melhorar em sua qualidade de vida, principalmente por conta de uma crescente disponibilidade de bens de consumo, melhorando a sua estabilidade interna e desenvolvendo sua infraestrutura.

Outras cidades europeias que ocupam as posições mais baixas incluem: Minsk (189ª), na Bielorrússia; a armênia Yerevan (180ª); Tirana (179ª), da Albânia; e São Petersburgo (168ª), na Rússia. Ocupando a 107ª posição, a polonesa Wroclaw é considerada uma cidade emergente na Europa. Desde a adesão da Polônia à União Europeia (UE), Wroclaw já testemunhou um crescimento econômico tangível, em parte devido ao seu pool de talentos, melhor infraestrutura e investimentos estrangeiros e domésticos diretos. A UE nomeou Wroclaw como a Capital da Cultura na Europa em 2016.

Wroclaw - Polônia - Crédito: Getty Images Manaus - Brasil / Crédito: Getty Images
A polonesa Wroclaw é considerada uma cidade emergente na Europa / Crédito: Getty Images Manaus: exemplo de cidade emergente devido ao seu grande centro industrial / Crédito: Getty Images

#Q#
América
As cidades canadenses encabeçam a lista das cinco principais da América do Norte. Ocupando a quinta posição, Vancouver é a primeira na lista regional, seguida por Ottawa (14ª), Toronto (15ª), Montreal (23ª) e São Francisco (27ª). As cidades que ocupam os lugares mais baixos da região são: Detroit (70ª), St. Louis (67ª), Houston (66ª) e Miami (65ª). De acordo com Parakatil, no geral, as cidades norte-americanas oferecem uma qualidade de vida alta e são destinos de trabalho atraentes para empresas e seus expatriados. “Uma ampla linha de bens de consumo está disponível, assim como infraestruturas, incluindo os recursos recreativos, que são excelentes.”

Nas Américas Central e do Sul, a qualidade de vida apresenta uma variação substancial. Pointe-à-Pitre (69ª), em Guadalupe, é a cidade que ocupa a posição mais elevada na região, seguida por San Juan (72ª), Montevidéu (77ª), Buenos Aires (81ª) e Santiago (93ª). Manaus (125ª), no Brasil, foi identificada como um exemplo de cidade emergente na região devido ao seu grande centro industrial que já presenciou a criação da Zona Franca de Manaus, uma área com autonomia administrativa que concede à cidade uma vantagem competitiva sobre as demais da região. A Zona Franca de Manaus tem atraído talentos de outras cidades e regiões, com diversas empresas multinacionais já estabelecidas na área e com a chegada de outras no futuro próximo.

“As cidades de Viena, Zurique e Auckland permanecem dominando o topo do ranking nos últimos três anos. Já no Brasil, neste ano, a cidade de São Paulo ficou cinco posições abaixo da posição que ocupou em 2012. Dentre os elementos que influenciaram essa queda, podemos citar a redução na avaliação de dois fatores: estabilidade interna – reflexo de as manifestações populares, que aconteceram em meados do último ano, terem se tornado violentas e também confrontos entre policiais e manifestantes durante a greve de professores – e o aumento do registro de desastres naturais devido às fortes chuvas e consequentes enchentes que afetaram a cidade e o país nos últimos meses do ano”, comenta Fabiano Cardoso, consultor sênior de capital humano da Mercer Brasil.

“Diversas cidades nas Américas Central e do Sul ainda são atrativas para os expatriados devido aos seus ambientes políticos relativamente estáveis, melhorias em infraestrutura e um clima agradável”, acrescenta Parakatil. “Porém, muitas localidades ainda são consideradas desafiadoras por conta de desastres naturais, tais como furacões que normalmente atingem a região, assim como a desigualdade econômica e altas taxas de criminalidade. As empresas que colocam seus empregados em transferência como expatriados nessas localidades devem assegurar que as ajudas de custo por adversidade reflitam os níveis inferiores de qualidade de vida.”

Ajuda de custo e incentivos adequados

As empresas precisam ter a condição de determinar os pacotes de remuneração para seus expatriados de forma racional, consistente e sistemática. Fornecer incentivos para recompensar e reconhecer os esforços que os empregados e seus familiares fazem ao assumirem transferências internacionais se mantém como uma prática típica, particularmente em relação a localidades difíceis. Dois incentivos comuns incluem uma ajuda de custo para qualidade de vida e uma bonificação a título de mobilidade:

> Uma ajuda de custo para qualidade de vida ou “adversidade” compensa um aumento na qualidade de vida entre o país de origem e as localidades de destino.

> Uma bonificação a título de mobilidade compensa a inconveniência de estar deslocado ou ter de trabalhar em outro país.

> Uma ajuda de custo para qualidade de vida é normalmente relacionada à localidade, enquanto a bonificação a título de mobilidade é normalmente independente da localidade de destino. Algumas empresas multinacionais combinam essas bonificações, mas a vasta maioria as fornece separadamente.

#Q#
Ásia-Pacífico
Cingapura (25ª) ocupa o mais alto nível de qualidade de vida na Ásia, seguida por quatro cidades japonesas: Tóquio (43ª), Kobe (47ª), Yokohama (49ª) e Osaka (57ª). Dushanbe (209ª), no Tajiquistão, é a cidade que ocupa a menor posição na região. “A Ásia possui uma classificação de padrão de qualidade de vida entre as suas cidades maior do que qualquer outra região. Para muitas cidades, tais como aquelas localizadas na Coreia do Sul, a qualidade de vida continua em alta. Mas para outras, tais como algumas cidades na China, com problemas como o ar que contém altos índices de poluentes, contribuem para a redução na qualidade de vida”, comenta Parakatil.

Com seu crescimento considerável na última década, inúmeras cidades em nível dois na Ásia estão começando a emergir como importantes locais de negócios para empresas multinacionais. Exemplos incluem Cheonan (98ª), na Coreia do Sul, que está localizada estrategicamente em uma área onde diversas empresas de tecnologia mantêm suas operações. Ao longo das últimas décadas, a indiana Pune (139ª) se transformou em um centro educacional e base para TI, outras indústrias de alta tecnologia e fabricantes de automóveis. A cidade de Xian (141ª), na China, também testemunhou alguns grandes desenvolvimentos, tais como o estabelecimento da Zona de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico para atrair investimentos estrangeiros. A cidade também abriga diversos serviços financeiros, consultorias e serviços de informática.

Em outros países da região, as cidades da Nova Zelândia e da Austrália ocupam uma alta colocação na lista de qualidade de vida, com Auckland e Sydney na 3ª e 10ª posições, respectivamente.

Detroit - América do Norte / Crédito: Getty Images Cheonan - Coreia do Sul - Crédito: Getty Images
Detroit: Uma das cidades que ocupam os lugares mais baixos da América do Norte / Crédito: Getty Images Cheonan, na Coreia do Sul: localização estratégica / Crédito: Getty Images

 
Oriente Médio e África
Na 73ª posição mundial, Dubai é a cidade que ocupa a melhor colocação no Oriente Médio e África, seguida por Abu Dhabi (78ª), nos Emirados Árabes Unidos; Port Louis (82ª), nas Ilhas Maurício; e Durban (85ª) e Cidade do Cabo (90ª), na África do Sul. Durban foi identificada como um exemplo de cidade emergente na região, devido ao crescimento de suas indústrias de manufatura e à crescente importância de seu porto. Geralmente, entretanto, a região encabeça a colocação mais baixa de qualidade de vida, com cinco das seis cidades com colocação inferior. Bagdá (223ª) ocupa a menor posição no geral.

“O Oriente Médio e especialmente a África continuam sendo as regiões mais desafiadoras para organizações multinacionais e expatriados. A instabilidade regional e os acontecimentos políticos, incluindo agitação civil, falta de infraestrutura e desastres naturais, tais como enchentes, impedem a melhoria da qualidade de vida em muitas de suas cidades. Entretanto, algumas cidades que provavelmente não eram consideradas atrativas para empresas estrangeiras estão fazendo esforços para atraí-las”, explica Parakatil.

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