Caiu na rede

de Dum De Lucca em 21 de novembro de 2011
Adriano Vizoni
Macedo, do Grupo Fitta: importância em gerenciar os programas de e-learning para que eles não caiam no esquecimento

Imagine uma empresa com milhares de vendedores dispersos por todo o país e com o desafio de capacitá-los em situações de pressão. E se essa necessidade estiver ligada a questões como desempenho, atributos e utilização de um novo produto ou novas práticas? E se o prazo para essa ação for curto e a concorrência, agressiva? Na verdade, trata-se de um desafio comum para muitas companhias em um mercado cada vez mais competitivo: agregar conhecimento aos funcionários de maneira rápida, eficiente e por um baixo custo. Como dar conta disso? Uma saída prática é a adoção do ensino a distância (EAD) a partir do desenvolvimento de várias plataformas tecnológicas. E foi o que a Vivo fez.

Com uma força de vendas composta por mais de 25 mil profissionais distribuídos em lojas próprias, revendas autorizadas, canais de varejo, recarga, televendas e equipes de vendas corporativas em 27 cidades do país, a empresa optou por esse tipo de solução. Assim, para fazer funcionar a estratégia que previa um aumento substancial nas vendas de serviços de valor agregado, smartphones e planos de dados, apostou no preparo da equipe e no uso de recursos transmídia, como explica a gerente de capacitação comercial Vivo, Daniela Dantas de Oliveira: “Integramos sala de aula, EAD, comunidades de aprendizado e a produção de uma websérie para fortalecer o conhecimento dos colaboradores de vendas sobre esses produtos, pois percebemos que tanto os vendedores de lojas quanto os gerentes precisavam conhecer mais sobre conectividade”.

Na prática, a empresa reuniu os colaboradores em sala de aula, em turmas de 30 alunos munidos de smartphones e tablets, e disparou um conteúdo com diversos perfis de clientes, oferecendo de forma lúdica a percepção de qual seria a melhor solução para cada tipo de consumidor. “Oferecemos vários meios de aprendizagem colaborativa nessa ação. Com a metodologia transmídia, disseminamos um só conteúdo usando várias tecnologias, desde o sistema de interatividade em tempo real até chats, fóruns, comunidades, o que possibilitou uma atmosfera de pleno envolvimento.”

Disponibilizar conteúdo
Esse exemplo reforça que o avanço dessas ferramentas torna possível ter um incremento dos programas de capacitação, principalmente devido à crescente utilização de dispositivos móveis. “A facilidade com que as empresas podem disponibilizar conteúdo para seus colaboradores amplia em muito as oportunidades de aprendizado informal, que ocorre fora da sala de aula. O fornecimento de informações no momento em que as pessoas precisam, também viabilizado pela tecnologia, traz grandes ganhos para o trabalho”, diz Augusto Gaspar, diretor de professional services da MicroPower.

E o conceito de mobilidade promete mexer não somente com quem aprende, mas também com quem fornece as ferramentas e conteúdos para as empresas. Marco Eleuterio, diretor superintendente da Dtcom, que oferece soluções de conteúdo para o desenvolvimento de colaboradores, lembra que existem duas grandes fontes de tecnologia em seu segmento: os satélites (para a transmissão em larga escala para qualquer região e localidade), e a internet e as redes de celulares (para transmitir via dispositivos móveis). “A tendência é a migração, cada vez mais, para a transmissão via web e 3G, embora exista ainda uma forte presença do satélite em função da qualidade de imagem, do conteúdo e da interação. Porém, a escolha da tecnologia a ser utilizada depende muito do projeto [da companhia contratante]. A melhor é que se ajusta mais à demanda [dela]”, diz.

A revolução gerada pelo avanço tecnológico, aliada à crescente importância do aprendizado, no entender de Daniel Orlean, sócio-diretor da Affero, permitiu que se atingisse a maneira de como as pessoas interagem com os tipos de conteúdo e conhecimento. Dos programas presenciais, com a ajuda de PowerPoint, que ainda hoje têm sua validade, até a transmissão via 3G, o salto foi permitir chegar à pessoa na preferência e no perfil dela. “Não são apenas as novas tecnologias, mas sim o novo perfil dos colaboradores que nos permite fazer com que o aprendizado chegue de maneira mais eficaz. Desenvolver esses profissionais da forma como acham melhor, no momento que precisam, o que pode ser o tempo todo, é otimizado por meio do sistema de soluções de desempenho”, conta.

Mais investimentos
Se a tecnologia tem avançado num ritmo cada vez mais crescente, os investimentos das empresas nessas soluções para seus programas de capacitação têm acompanhado o mesmo passo? Gaspar, da MicroPower, afirma que o investimento em equipamentos móveis para equipes de vendas e outros profissionais que necessitam trabalhar em campo para municiá-los de informações para o trabalho e também mantê-los atualizados e capacitados tem se mantido em alta. “Além disso, observamos um crescente interesse pelo conceito da universidade corporativa, que é viabilizada pelo uso intensivo da tecnologia, especialmente via teleaulas.”

O que se percebe, segundo os entrevistados por MELHOR, é uma forte migração dos modelos de capacitação habituais para formatos a distância. Nessa passagem, vê-se a substituição dos orçamentos até agora destinados para eventos presenciais para o e-learning, com uma boa redução de custos, enfatiza Eleuterio. “Evidentemente, a redução de despesas depende da ação e do número de pessoas que a empresa quer atingir”, pontua. “Quando o grau de dispersão e o número de funcionários são grandes, o ganho de retorno é de cerca de 90%”, contabiliza.

Em relação à demanda crescente verificada pelas companhias que fornecem esses cursos nos últimos dez anos, é possível observar um crescimento significativo no volume de investimentos para a educação corporativa, e, desses, a parcela dedicada ao desenvolvimento de conteúdo on-line não é pequena. “Considerando 30% de crescimento anual, os investimentos acumulados até 2015 devem superar 17 bilhões de reais”, conta Gaspar, a partir de análise feita junto às cerca de 300 empresas que participaram da edição mais recente do Prêmio e-Learning Brasil, promovido pela Micropower.

O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é um bom exemplo de quem tem olhado com mais atenção e interesse essa solução. Ele investiu em torno de 1 milhão de reais nos últimos três anos, principalmente na conversão pedagógica dos cursos presenciais para a metodologia de EAD. Mais de 20 mil colaboradores dos acionistas do centro de pesquisas já receberam um dos 44 cursos a distância que são oferecidos. Situada no município paulista de Piracicaba, a entidade tem como objetivo aumentar a competitividade do setor sucroenergético e tem como acionistas 154 empresas que, juntas, respondem por 60% da moagem de cana no Brasil.

“Transmitir os treinamentos por e-learning nos deu uma abrangência maior com uma velocidade de transferência de conhecimento enorme. Os treinamentos a distância voltados às usinas do setor atingem uma média de 8 mil pessoas por ano”, diz Rogério Salles Loureiro, gerente de TI e de gestão do conhecimento do CTC. Ele conta que as aulas são dadas via internet para um grupo com um orientador presente, e o RH de cada empresa é quem determina quando o conteúdo será repassado aos colaboradores. “Existe também a possibilidade de acesso por qualquer computador, por meio de senha e login, a qualquer hora. Além disso, ao fim de cada curso, uma videoconferência com um especialista pode ser realizada como reforço.”

O CTC viabilizou, ainda, a transposição dos conteúdos, tanto para o software quanto para um portal, o que otimizou a capacitação não só do pessoal do nível gerencial como também do chamado chão de fábrica. As aulas vão desde operador de colheitadeiras à gerência industrial, passando por gerência agrícola e controle de pragas, entre outros.  “Todos os treinamentos são feitos via o RH das usinas.

Motor da competitividade
Ainda de acordo com os especialistas ouvidos por MELHOR, houve uma evolução do conceito de capacitação, nos últimos anos, com a inclusão de situações mais dinâmicas, jogos, simulações e outros recursos multimídia que reduziram em muito a resistência dos colaboradores em fazer cursos on-line e que trouxeram resultados palpáveis para as organizações, que, por sua vez, podem oferecer conteúdos cada vez mais customizados.

De acordo com Eleuterio, da Dtcom, a demanda das empresas vem migrando para conteúdos cada vez mais personalizados, próprios para resolver seus problemas específicos de capacitação. E qual o perfil das companhias que demandam esses programas? Orlean, da Affero, conta que existem dois tipos. Um deles é composto pelas empresas que, por conta do recente histórico de crise, entendem que precisam fazer mais com menos e têm de desenvolver mais gente rapidamente. O outro são as organizações que, pelo aquecimento do mercado, reconheceram que o capital humano é o que move a competitividade. “As corporações têm tido consciência de que investir em pessoas é o que faz a diferença, é o que garante um resultado positivo.” No Grupo Fitta, essa filosofia é exercida na prática.

Pioneiro em franquias de agências de câmbio no Brasil e líder nacional no mercado de ouro e metais preciosos, o Grupo Fitta optou pelo e-learning para difundir o conhecimento e democratizar o saber para que ele esteja disponível a qualquer hora e em qualquer lugar. Rodrigo Macedo, vice-presidente do grupo, relata que, antes, os treinamentos eram presenciais extensos, cansativos e com custos altos, pois as lojas estão distribuídas por todo  o Brasil. “Levamos em consideração o desenvolvimento contínuo, rápido, e a acessibilidade. Recriamos o departamento de treinamento, definindo duas frentes distintas e complementares: o treinamento presencial e o treinamento a distância. Definimos um nome que gerasse credibilidade e mostrasse o objetivo do programa: Cecorp, de Centro de Educação Corporativa Fitta. O custo e o alcance foram os dois principais pontos para a criação do programa”, diz.

Adesão maior
Num primeiro momento, foram segmentados os públicos-alvo, as matérias a serem aplicadas, o número de módulos (dependendo da complexidade da matéria) e a frequência dos cursos. O processo foi desenhado pensando na inserção do usuário no mundo virtual, criando ambientes de uma loja real, com muito dinamismo e cases do dia a dia. O conteúdo é sobre o mundo Fitta  Negócio (conceitos de câmbio, marketing, franchising, moeda estrangeira), há um conjunto de temas operacional (sistemas) e comportamental (atendimento ao cliente, relacionamento). “Todas as matérias e seus conteúdos foram desenvolvidos para capacitar o colaborador em suas funções, o que não significa que ele, a critério do franqueado, não possam fazer cursos que o habilitem a executar outras tarefas, dando a possibilidade de promovê-lo dentro do organograma da empresa.” A carga horária varia de acordo com cada curso. As tecnologias são avançadas, podendo ser videoaula, smartphones, tablets ou iPhone, além de vídeos-palestra com o presidente, vídeo boas-vindas com o diretor e notícias semanais sobre o mundo Fitta, câmbio e atualidades.
O Cecorp já apresenta ótimos resultados, segundo Macedo. Em um mês, 92% da rede aderiu ao programa (não é obrigatório). Além disso, os alunos obtiveram 64% de aprovação nos cursos, a produtividade aumentou (verificado por meio de feedback recebido pelos gerentes), as reclamações dos clientes diminuíram, e há participação ativa dos franqueados nas criticas, sugestões e melhorias do ambiente virtual.

“Um aspecto muito importante é que temos uma pessoa responsável pela gestão do ambiente virtual que gera relatórios, administra, cria, desenvolve, acompanha, analisa e cuida de tudo relacionado ao ambiente virtual. Muitas empresas implantam o e-learning, mas não fazem a gestão, o que faz com que o programa caia no esquecimento. Temos metas, planilha de execução para mensurar os resultados alcançados”, finaliza o executivo.

 

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