Isadora, da Vivo; Luciana, da Editora Record; e Eva Maria, da Comunidade Esportiva Glicério (esq. para a dir.)
Isadora está no início da carreira. Luciana deixou o jornalismo e agora é executiva em uma grande editora do país. Eva largou o interior de São Paulo, chegou a morar na rua e agora ajuda jovens a terem um futuro melhor. Três histórias pautadas por competências como organização, determinação e altruísmo. Três destinos que se cruzam nesta edição em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Isadora Berardo Tumulo sempre pensou em trabalhar com pessoas e sua primeira oportunidade profissional foi um estágio na empresa júnior de psicologia da PUC, onde estudava. Lá, trabalhou num projeto de inclusão de portadores de necessidades especiais, criando um banco de dados para que as companhias pudessem ter acesso. Depois, passou por um estágio na Unilever e, em 2008, foi contratada pela Vivo como trainee, sendo efetivada como analista em RH no final desse mesmo ano.
Ela atribui a sua evolução a competências como organização e determinação. “Sou casada e meu dia a dia é corrido; por isso, a organização é fundamental. É preciso, ainda, determinação para acordar cedo e chegar tarde em casa”, relata. “Você precisa buscar aquilo em que acredita e eu acredito que desenvolver pessoas é o que quero para a minha vida”, acrescenta. Numa companhia que atua num mercado em constantes mudanças, é necessário também estar sempre atualizada, por isso Isadora cursa pós-graduação na área de serviços. No futuro, pretende investir em uma pós-graduação na área de gestão de negócios.
Para ela, as mulheres têm vontade de se realizar e seguir uma carreira profissional, mas ainda falta coragem. “Para termos sucesso é preciso dizer que somos capazes de trabalhar, sermos mães e boas profissionais. Não é fácil ter uma jornada dupla de trabalho, mas se você se propõe a realizar tudo isso, pode dar conta sim.”
Lobato e Eça
Uma devoradora de livros. Assim era Luciana Villas-Boas, atual diretora editorial das editoras Record e Best Seller. “Na infância, fui uma leitora voraz. Devorei Monteiro Lobato, Mark Twain e Érico Veríssimo. Lia até Dona Flor e seus dois maridos , de Jorge Amado, escondida dos meus pais”, diverte-se. Já adulta, se encantou por Eça de Queiroz e Mario Vargas Llosa.
Jornalista e também formada em história, Luciana trabalhou na BBC de Londres, revista Veja, TV Globo e Jornal do Brasil. Neste, foi na editoria do caderno literário Ideias que aumentou seu contato com editores. Foi quando recebeu um convite de Sérgio Machado, presidente da Editora Record, para trabalhar na companhia. “Já entrei como diretora editorial. Havia um grande trabalho de profissionalização das atividades e uma reforma gráfica por fazer, e isso foi um grande desafio. Depois, o trabalho aumentou porque a Record passou de editora a Grupo Editorial e incorporei outras empresas à minha direção, como a Civilização Brasileira e a Best Seller”.
Hoje, ela lidera 15 gerentes, cada um com sua equipe. “O líder tem de conhecer a atividade e passar confiança. É preciso reconhecer o bom trabalho de quem está sob sua liderança. Tenho orgulho do ambiente de amizade e profissionalismo que existe nas editoras em que atuo”, comenta.
Entre suas conquistas estão a criação de seus filhos, Maria Isabel, 19, e Miguel, 15, e ter contribuído para a revalorização de autores como Lya Luft (ela é uma das apostas de Luciana na editora e uma das escritoras que mais vendem no país; sua obra Perdas e ganhos vendeu cerca de 600 mil exemplares). Conselho para as mulheres que desejam obter também sucesso em sua trajetória? “Tive muita sorte e sou trabalhadora. Acredito que as mulheres precisam ter mais autoconfiança e lutar pelo que lhes é devido”, ressalta.
De olho no lance
Atenta, ela oferece lanche para uma criança e conversa com outra que tem problemas na escola. Conhecida por tia Eva, Eva Marisa Alves pode ser considerada uma verdadeira mãe para as 400 crianças e adolescentes que jogam futebol na Comunidade Esportiva Glicério, criada por ela em 2000 e que faz parte da ONG Novo Glicério, na capital paulista.
Sua trajetória não foi fácil: veio de Catanduva, no interior de São Paulo, para trabalhar como doméstica aos 14 anos na capital. Quando saiu do emprego, acabou parando nas ruas. Trabalhou como faxineira e em 1980 foi morar na Comunidade Novo Glicério. Em frente a sua residência havia um colégio e todo dia via meninos saindo da escola e que acabavam ficando nas ruas. “Conversei com os garotos e eles disseram que não ficariam na rua se eu formasse um time de futebol. Pensei: ´De que jeito? Sou uma senhora e não conheço as regras´”, diverte-se. Mas, animada para auxiliá-los, levou-os para treinar no Ginásio do Ibirapuera e, depois, no Parque da Aclimação.
Com a ajuda de Maria Lúcia Alckmin, mulher do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tia Eva conseguiu um terreno para montar seu projeto social e, na sequência, contou com o apoio da Vivo. Ela se considera uma mãe para todos os jovens de 7 a 16 anos que passam por lá e nunca perde a força de vontade para ajudar o próximo. “É difícil lidar com a falta de recursos e o preconceito. Sou negra, fui faxineira e quando ia atrás de patrocínio diziam ´Lá vem a sonhadora.´ Não dou importância e digo para os meus meninos sonharem que nem eu, que um dia eles vão conseguir”, diz emocionada.
Bate-papo |
Pedimos a Luciana, Isadora e Eva que fizessem uma pergunta às demais sobre trabalho e futuro. Abaixo, você confere o que elas pensam sobre ter experiência internacional na carreira, como lidar com a falta de recursos para um projeto social e como agir diante da expectativa de jovens e adultos em busca de uma oportunidade de uma vida melhor. Isadora responde: Tia Eva – Já trabalhei na área de RH e sei o quanto é difícil dizer “não” para uma pessoa que está procurando trabalho e que às vezes acredita que aquela empresa é a sua última saída. Como dizer “não” aos candidatos que não foram aprovados? Luciana – Como você projeta a sua carreira daqui a 15 anos? Luciana responde: Isadora – É importante ter uma experiência internacional, fazer um curso ou trabalhar no exterior para ser uma melhor gestora? Tia Eva – Se pudesse o que faria na sua área para melhorar o trabalho social no país? Tia Eva responde Isadora – Como lidar com a falta de recursos financeiros e quando algum jovem a procura com problema familiar ou relacionado a drogas? Luciana – Como você imagina sua comunidade daqui a 15 anos? |