Carreira e Educação

Conhecimento na palma da mão

de Carolina Sanchez Miranda em 28 de abril de 2015
(Crédito:Shutterstock)

  

O uso cada vez mais intenso dos smartphones e tablets como ferramentas de trabalho trouxe novas possibilidades para a educação a distância. O aprendizado não acontece apenas on-line, mas na palma da mão. Não é apenas e-learning, mas também mobile learning. E conforme a tecnologia avança, o menor dispositivo para capacitar os colaboradores não será mais o celular. Os óculos e o relógio também farão parte desse processo. É a tendência de smartificação do ensino a distância.

Na realidade, os óculos e o relógio inteligente já existem e num futuro próximo poderão ser protagonistas nesse processo; mas enquanto esses produtos não são massificados, é o smartphone — o dispositivo móvel mais presente no dia a dia dos profissionais — quem toma a dianteira. A vantagem do uso do mobile é que mesmo não sendo uma ferramenta de trabalho oficial (oferecida pela empresa), na maior parte dos casos, o aparelho é, na prática, um recurso bastante usado para otimizar a realização das tarefas diárias.

“Acredito que o mobile learning seja complementar a um projeto de e-learning tradicional”, afirma Alex Augusto, CEO da Ciatech. “Muitas empresas que já têm projetos consolidados nos procuram buscando novas possibilidades de aprendizagem para não fazer mais do mesmo e aí acho que mobile é uma delas, por dar mais liberdade, atingir profissionais que trabalham fora do escritório e falar com o usuário jovem”, explica.

 

Público-alvo

Daniel Orlean, sócio-diretor da Affero Lab, concorda. “O m-learning sempre complementa muito bem. Principalmente para equipes de campo”, afirma. “E quando as empresas avaliam que há contexto e conveniência para a educação via dispositivos móveis, é preciso fazer o conteúdo que se quer transmitir caber na mobilidade”, alerta.

Isso significa remodelar os cursos para o novo formato. “Não podemos simplesmente migrar um conteúdo que foi pensado para uma tela de 20 polegadas, que tem características de interação de um desktop, para telinha de 3 polegadas, onde os recursos são diferentes”, observa Alex, da Ciatech.

Ele ressalta que, além do formato, a estratégia educacional e pedagógica para que a informação seja absorvida via dispositivos móveis também é outra “Temos recomendado para os nossos clientes cinco tipos de formato de conteúdo: vídeos de curta duração, podcasts, infográficos, quizzes e pequenos artigos acompanhados de imagem”, conta. “Se já há um conteúdo preexistente, o transformamos em um infográfico, num podcast ou numa videoaula”, complementa.

Segundo Orlean, a recomendação do formato está diretamente ligada ao conteúdo que eu quero passar. “Vídeos são interessantes para tratar de produto, comportamento, motivação; infográficos para falar sobre processos e quizzes para testar conhecimento. Já conteúdos técnicos e densos, em que é preciso mais do que o tempo do mobile de dedicação do usuário, vão ser melhor trabalhados no desktop mesmo. Temos de respeitar as características e as necessidades de cada assunto”, recomenda. 

 

UNIBB bom para todos

Seguindo essas regras o Banco do Brasil resolveu investir na plataforma mobile. Tudo começou com o sucesso de um portal exclusivo para os colaboradores. “Implementamos o novo modelo de educação a distância em janeiro de 2013, a primeira etapa foi o desenvolvimento de um portal, o UniBB Bom para Todos”, conta Hugo Pena Brandão, gerente executivo da diretoria de Gestão de Pessoas. O portal contém mais de 280 cursos, organizados em 120 trilhas de aprendizagem, por cargo e área de atuação.

 

Sucesso da plataforma

A adesão à nova plataforma foi considerada um sucesso. Em seu primeiro ano no ar, o UniBB Bom para Todos contabilizou 120 mil usuários ativos; 1.377.951 cursos concluídos; média de 11 cursos concluídos por funcionário; média de 72,13 horas de capacitação por funcionário; média de 33 mil acessos por dia; 62 mil acessos do exterior e 18 mil comentários no módulo colaborativo. O índice de satisfação foi de 96,7%.

Segundo Brandão, a partir dessa experiência bem-sucedida, o banco decidiu ampliar o programa, utilizando o tablet e o smartphone como meio de acesso aos cursos. Então, no início de 2014, nasceu o Unibb Mobile, um aplicativo disponível para download na Apple Store e no Googleplay.

“O objetivo era, basicamente, oferecer mais um veículo para o conteúdo. Nossa experiência mostra que se respeitarmos o gosto dos colaboradores na hora de estudar é provável que eles se engajem e a capacitação seja mais eficaz”, conta. E o executivo tem razão principalmente se o público-alvo em questão são os nativos digitais. “Essas pessoas cresceram com o celular e o tablet nas mãos, aprenderam a utilizar esse tipo de ferramenta desde a infância e estão naturalmente inclinados a buscar conteúdo nesses dispositivos”, explica.

 

Adesão à proposta

O balanço sobre o uso do mobile learning pelos funcionários do Banco do Brasil durante o primeiro ano de implementação ainda não foi fechado. Mas os dados iniciais de adesão são considerados muito bons pela instituição financeira. “Mais de 10 mil funcionários já são usuários ativos do aplicativo. De janeiro a novembro de 2014, houve 716.690 visualizações de telas/conteúdos e a conclusão de 17.535 cursos”, diz o gerente executivo.

Segundo ele, a adesão foi tão positiva que a empresa já está trabalhando no desenvolvimento de uma nova versão do aplicativo. A proposta prevê novas soluções educacionais e funcionalidades, entre as quais uma ferramenta de geolocalização que avisará aos funcionários quando eles estiverem fisicamente próximos de universidades, escolas de negócios e escolas de idiomas conveniadas, que ofereçam descontos.

E não são só os yuppies que estão atentos à inovação. “Embora haja uma predileção por parte dos profissionais da geração Y pelo mobile learning, há funcionários que têm 30 anos de empresa e mais de 50 de idade que são usuários ativos”, conta Brandão. Depois que o aplicativo é instalado, conta o executivo, a percepção do usuário é que a navegabilidade nele é muito simples. “Então não acredito que haja qualquer limitação para pessoas de outra geração, só se for por resistência ou preconceito”, completa.

Aos 57 anos de idade, José Aprígio da Silva, gerente de relacionamento de uma agência na cidade de Boqueirão, na Paraíba, é um legítimo representante da geração X e confirma o que o jovem colega disse. “Quando criou o UniBB Mobile, a empresa facilitou bastante a nossa vida porque, com o celular, você tem acesso aos cursos onde você quiser”, comenta. “Logo que eu li sobre o lançamento do aplicativo, baixei e vi que os conteúdos oferecidos iriam ampliar meu conhecimento e me ajudar no trabalho. Isso e a flexibilidade de estudar na hora e no lugar que eu quisesse me deixaram ávido para fazer os cursos”, acrescenta.

Ele conta que sempre que tem tempo livre, verifica se há novos cursos. Se houver, ele já começa a fazer. “No horário de almoço, em casa, quando a programação na TV não tá prestando, vou lá e acesso. Desse jeito, com certeza, você estuda muito mais. A praticidade do aplicativo é enorme.”

 

Iniciativa autodidata

Para Silva, o que determina o aprendizado via mobile learning não é a idade, mas a iniciativa autodidata, a vontade de aprender sozinho. “Se não tiver esse pensamento, não vai adiantar; os conteúdos são para o nosso dia a dia no banco. Você tem nas mãos atualizações frequentes. Isso é uma maravilha.” 

Do ponto de vista da geração Y, a principal vantagem é aprender em qualquer lugar. “Todos os dias vou buscar minha namorada no metrô e, enquanto a espero no carro, estudo. Já aprendi desde filosofia, com o Clóvis de Barros, até bem-estar e saúde, com o Marcio Atala”, diz o jovem gerente de relacionamento de uma agência do Banco do Brasil na capital Paulista, Pedro Henrique Versalem, de 28 anos. “Gosto da forma como os cursos são elaborados, a velocidade da comunicação, a praticidade e o conteúdo dado por professores de universidades.” Ele conta que já fez quase todos os cursos oferecidos pelo UniBB Mobile.

 

Conteúdos diversos

O gerente de relacionamento considera como uma forma de cuidar do funcionário a oferta de conteúdo não relacionado diretamente ao trabalho. Ele também cita os conteúdos nos quais os executivos da empresa são os professores. “Tem um, por exemplo, que é com o presidente do banco. O que é muito bom porque você consegue fazer a conexão do que ele fala com o dia a dia, entende melhor o seu trabalho, os porquês daquilo que faz”, diz Versalem.

O gerente executivo da diretoria de gestão de pessoas do Banco do Brasil acredita que uma solução educacional não é melhor ou pior do que outra, mas, sim, adequada ou inadequada ao fim a que se propõe. “Temos de fugir de modelos padronizados ou das suposições de que um veículo é necessariamente melhor ou pior do que o outro para quaisquer propósitos educacionais. A decisão de implementar uma nova solução, como o mobile learning, passa pela análise de objetivos, competências a serem desenvolvidas e público-alvo”, analisa. Para o executivo, há conteúdos que, pelas suas particularidades, é melhor ser transmitidos presencialmente, outros por videoaula no desktop e alguns, para facilitar a compreensão, por pílulas de conhecimento.

Já de olho no futuro, Brandão adianta que o avanço das iniciativas de educação a distância da instituição financeira em direção à smartificação não para no desenvolvimento de conteúdos para tablets e smartphones. “Como parte desse processo a nossa área de tecnologia está desenvolvendo aplicativos e testando o uso do Google Glass, que não está no mercado ainda. A ideia é que futuramente seja mais um canal de aprendizado disponível aos funcionários.”

 

Liderança em foco

Outra empresa que resolveu investir na tendência do mobile learning é a companhia de telefonia móvel Claro. De acordo com a diretora de RH, Renata Prudente, a plataforma M-Learning faz parte das ferramentas disponíveis na Academia de Líderes da Universidade Corporativa da Claro. “São pílulas de conhecimento direcionadas para o formato mobile, com curta duração e mensagens claras e objetivas. Os conteúdos sempre remetem a competências de liderança adotadas pela Claro. Os temas são apresentados em três formatos específicos: videoaulas, podcasts e infografia”, informa. O projeto desenvolvido em parceria com a Ciatech está disponível em smartphones e tablets para iOS e Android.

“O objetivo foi oferecer uma ferramenta poderosa de capacitação e informação, que fosse adequada a este público (gestores) que tem a agenda disputadíssima, garantindo a “mobilidade” e facilidade de acesso a qualquer hora e lugar”, explica. O lançamento ocorreu em julho do ano passado e, de lá para cá, a proposta já conta com mais de 980 assinantes da solução. E a intenção da empresa é expandir esse formato para outros públicos. Renata explica que, como a força de vendas atua em campo, dispersos geograficamente, em breve, o conteúdo do M-Learning será oferecido para eles.

Embora a mobilidade seja uma grande vantagem, diz Renata, criar a cultura de acesso e o hábito de capacitar-se e reciclar-se com conhecimentos disponibilizados por meio de plataformas móveis ainda é um desafio. “Sabemos que há grande concorrência de aplicativos e soluções mobile nos telefones de cada usuário, com isso, precisamos criar mais necessidade e atratividade para que o usuário priorize o acesso aos conteúdos da Academia de Líderes”, destaca.

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