De volta ao ritmo

de em 22 de março de 2010
Mantovani, da Robert Half: movimento 40% maior que o do semestre passado

Dados divulgados em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o primeiro mês de 2009 teve a menor taxa de desemprego para um mês de janeiro desde 2003: o índice ficou em 7,2%, sendo o segundo menor de toda a série histórica ao se comparar com todos os meses pesquisados, perdendo apenas para dezembro de 2009, em que ficou em 6,8%.

Esses números mostram que o cenário econômico vem ganhando mais força e que o mercado de trabalho dá sinais de crescimento, depois de uma certa estabilidade verificada pelo instituto no ano passado. “Em janeiro de 2010, o Brasil teve a criação de 181 mil novos postos de trabalho. A indústria de transformação, por exemplo, teve a criação de 68.920 novos postos, o que representa otimismo, pois o crescimento de uma indústria forte é um bom indicativo de que a economia está se recuperando”, conta Rodolfo Ohl, diretor do Monster Brasil. Outros setores que tiveram um crescimento notável foram, acrescenta o executivo, os de serviços, com 57.889, e o da construção civil, com 54.330 novos postos.

Se a crise não teve, no Brasil, o mesmo impacto ocorrido em outros países, como os EUA, ela ao menos deixou alguns reflexos, não há dúvida. Embora o segmento de recrutamento e seleção não tenha percebido grandes solavancos, em alguns casos a tal marolinha financeira fez com que alguns setores da economia freassem as contratações e obrigou muito RH a rever seus contratos com essas consultorias e assessorias.

“Em épocas como de crise, a primeira decisão das empresas é parar de contratar. Consequentemente, no ano passado, renegociamos alguns contratos de clientes que usam a tecnologia de e-recruitment, a fim de adequarem-se à demanda mais baixa de contratações”, conta Mário Kaphan, diretor da Vagas.


Tecnologia

No entanto, ele conta, já no segundo semestre do ano passado muitas empresas decidiram investir em tecnologia para aumentar a eficiência e qualidade de sua contratação e, dessa maneira, tornarem-se ainda mais competitivas nos seus segmentos de atuação. “Assim, mesmo com alguma redução na receita dos clientes antigos, por meio da renegociação de contratos, esse movimento do mercado representou para nós um crescimento de 35% do faturamento em relação a 2008”, contabiliza.

Balanço positivo também é o da Robert Half, como informa seu diretor Fernando Mantovani. “O volume de contratações nos últimos cinco meses reforça os sinais de que as empresas estão retomando seus projetos. Esse movimento, hoje, já é superior em mais de 40% ao que tínhamos no início do semestre passado”, comemora. A mesma percepção de crescimento é verificada por Kaphan. Ao fazer uma fotografia do número de posições abertas no início de fevereiro no site da Vagas, ele registrou um crescimento de 82% em relação ao mesmo período de 2009. “Como consequência direta desse crescimento, tivemos, em janeiro de 2010, 84 milhões de page views e 5,3 milhões de visitantes únicos”, diz. Até o fim deste ano, a meta é melhorar ainda mais esses números. Na empresa de executive search A2Z Consultores, a expectativa para 2010 é trazer novos profissionais e ampliar o portfólio de serviços. No ano passado, a classificação por produtos da empresa se dividiu entre a busca de executivos de alto nível (80% do faturamento em 2009) e assessment (20%). Na busca por executivos, 50% da demanda foram para cargos de diretoria, 40% para cargos de alta gerência e 10% para presidentes. O balanço dos projetos atendidos mostra que os segmentos que mais demandaram projetos foram agronegócios e energia, com 65% da demanda. Os segmentos de finanças e indústria completam a lista.

Quem também percebeu um aquecimento no setor de agronegócio foi a Employer, como conta a executiva de contas Lígia Momm. “Embora esse segmento tenha enfrentado algumas dificuldades em relação ao mercado, essa situação não chegou a se refletir no número de contratações. Sentimos que o setor não teve retração em relação a contratações; pelo contrário, em alguns nichos elas até aumentaram”, diz. Já setores como comércio e indústria, sim, demitiram e seguraram contratações no início da crise, comenta Lígia.

Gladys Zrncevich, sócia-diretora da A2Z, acredita que os negócios vão continuar em alta este ano. “Mesmo na crise, as empresas fazem substituições. E, em períodos de expansão da economia, a demanda aumenta em função da necessidade de crescimento”, diz. Para ela, o reaquecimento da economia e a retomada dos negócios vão levar muitas companhias a abrir unidades e a estruturar vagas, fazendo de 2010 um ano de crescimento para a área de executive search como um todo.

Perfil 
Passadas as nuvens negras da crise e nessa retomada do mercado de trabalho, é possível identificar algumas competências que passaram a ser mais valorizadas pelas empresas na hora de preencher uma vaga? Sim, embora os conhecimentos e habilidades específicos e inerentes à função que o profissional vai desempenhar na companhia ainda contem bastante. Outras, como habilidades de trabalho em equipe e bom relacionamento interpessoal, domínio de idiomas (especialmente inglês e espanhol) e boa visão estratégica do negócio, também perduram, como informa Ohl, do Monster. “A grande mudança, devido à crise, é a redução do quadro funcional, no qual os profissionais polivalentes são cada vez mais apreciados pelas empresas, já que estes acabam proporcionando uma maior flexibilidade estrutural”, destaca.

Outra característica que passou a agradar os selecionadores é a de antecipar e administrar riscos, explica Lígia. “Mas a principal consequência desse cenário foi a busca por colaboradores que produzam mais, com entusiasmo e, em muitos casos, com equipes menores em função de custo”, acrescenta.

Na lista de competências, para relembrar, além das técnicas específicas para a função, integram outras como flexibilidade para mudanças, capacidade para liderar e desenvolver pessoas, disposição e entusiasmo para colaborar, criatividade e inovação, sobretudo para os cargos de gerência. Mas calma lá: o perfil ideal ainda não está completo.Mantovani, da Robert Half, inclui outras características desejadas pelas empresas nesse pós-crise: gerir equipes multiculturais e saber lidar com pressão e não transmiti-la inadequadamente para o grupo.

Na mira das empresas

Procura por profissionais da área de RH também cresce

Todos os setores estão crescendo de forma contínua e homogênea. A essa afirmação, Rodolfo Ohl, do Monster, acrescenta que áreas como TI, engenharia, marketing e vendas vêm se destacando em termos de vagas oferecidas, bem como finanças. Mas será que a demanda por profissionais de RH também não vem crescendo e ganhando destaque nesse mercado de R&S?

Mário Kaphan, da Vagas, conta que é possível observar um crescimento no número de vagas para o RH. “Nos últimos três meses, o site apresentou, em média, cerca de 550 posições abertas, contra uma média de 410 posições há exatos 12 meses. Ou seja, um crescimento de 35% no período.”

Uma das razões para esse crescimento de posições para recursos humanos está na maior compreensão do retorno que essa área pode trazer para a empresa, como explica Lígia: por entenderem cada vez mais que o maior ativo da organização é o conhecimento (em outras palavras, as pessoas), muitas empresas perceberam que cuidar bem dele (e delas) é uma das melhores saídas para evitar problemas e custos com a perda desse capital – e ter profissionais qualificados à frente da gestão de pessoas contribui para isso. De fato, a rotatividade representa um custo muito alto, levando em consideração tudo o que é investido desde o momento do recrutamento e seleção até os outros processos tais quais integração, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, pesquisa de clima entre outros. “Dessa forma, o RH continua avançando, abrindo caminho e espaço dentro das organizações. Isso não tem volta. A consequência é a absorção de novos profissionais qualificados para esse setor.”

Quem concorda é Ohl. Ele também acredita que profissionais da área de RH, com enfoque estratégico, sejam os mais procurados pelas empresas. “O capital humano é o grande diferencial na criação e implantação de vantagens competitivas. Atração, retenção e desenvolvimento de talentos são itens que estão na agenda da alta administração. Os profissionais de RH serão cada vez mais estratégicos dentro das organizações contemporâneas”, diz.

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