Gestão

Em duas rodas

de Cristina Morgato em 9 de agosto de 2012






Ricardo Santos e sua companheira do
dia a dia: a bicicleta

Em maio
de 2010, o publicitário e sócio-diretor da Milk Comunicação Integral Ricardo
Santos trocou seu meio de transporte, que até então era o carro, pela bicicleta.
Ele, que nunca havia imaginado que seria um ciclista urbano, diz que a troca não
foi intencional, mas sim um processo. “Queria um carro novo e não queria perder
dinheiro na troca. Resolvi primeiro vender o carro para depois comprar o outro”,
conta.



Morador de um prédio com apenas uma vaga de garagem por apartamento, era
necessário alugar uma segunda vaga para que ele e a esposa pudessem ter cada um
seu carro. Logo depois da venda do automóvel, a proprietária da vaga alugada a
pediu de volta. “Lá estava eu, sem carro e sem vaga para estacionar”, diz. Mas
não foi difícil se acostumar a essa vida, principalmente depois de fazer as
contas e ver o quanto economizaria sem carro – seguro, IPVA, aluguel da garagem,
combustível, manutenção, entre outros gastos. Santos chegou então Í  conclusão de
que tinha quase 1.000 reais para gastar em transporte por mês, sem mexer no
dinheiro da venda do carro. “Isso dava para pegar todos os táxis que eu
quisesse”, comemorou. No entanto, depois de descer de alguns táxis que ficavam
parados no trânsito e terminar o percurso a pé, um dia o publicitário resolveu
pedir uma bicicleta emprestada e testar o trajeto pedalando. Não demorou muito
para que esse se tornasse seu meio de transporte diário, especialmente pela
praticidade que trouxe Í  sua vida. “Fico muito feliz de ajudar o meio ambiente e
o trânsito de São Paulo, mas sou obrigado a confessar que o que me levou a isso
foi a praticidade”, afirma. Para ele, a mudança de atitude é “como um bichinho
que te pica e não tem mais volta”. Tudo faz parte da decisão, a economia, a
consciência ambiental, a consciência urbana, entre outras coisas.



O início:



Dividir espaço com os carros
“Nunca pensei em pedalar
na cidade, tinha até um pouco de medo. Mas depois que testei, entendi que era a
melhor forma de me locomover. No começo, eu tinha receio e enfrentei alguns
problemas. Por exemplo:

Estacionar a bike: ainda existe uma resistência
por parte dos estacionamentos em aceitar bicicletas. Existe uma certa
´bikefobia´ em porteiros de prédios comerciais e manobristas de estacionamentos.


Chuva: ou você tem uma roupa de borracha (estilo motoboy) ou você para
embaixo de algum posto de gasolina, banca de jornal etc., ou você se
molha.

Transpirar demais: sempre transpirei muito, com muito calor, com
esforço em percursos longos, subidas íngremes etc.

Comportamento
incorreto no trânsito: esse é o mais sério de todos. A gente acha que não há
problemas em pedalar na contramão, na calçada, no cantinho da rua, passar no
sinal vermelho, mas isso tudo é muito grave – e perigoso.”


#Q#







Mudança na rotina: com a bike para todo
lado
“Resolvi os problemas citados de duas formas. A primeira foi
com informação, muita informação. Quando você vai tirar a carteira de motorista,
você não precisa fazer testes e mais testes? Práticos e teóricos? Com a
bicicleta deveria ser igual, e é uma pena que não seja. Entrei para a tribo de
ciclistas urbanos, lá trocamos muita informação, discutimos as leis, lamentamos
as injustiças e pensamos em soluções. Todo ciclista urbano vira um pouco
´cicloativista´. A segunda atitude foi comprar uma bicicleta dobrável. Depois de
ficar um tempo com uma bicicleta grande, pensei ´já que eu não vou mais comprar
um carro, vou comprar a bicicleta que mais se encaixa nas minhas necessidades e
vou procurar a melhor do mundo nesses quesitos´. Não sofro para estacionar, levo
para todo lugar que vou. Na chuva, pego um táxi e coloco a bike no banco de trás
do carro. Em uma subida íngreme, também uso o táxi, e assim por diante.”



Ganhos:



Mais tempo e qualidade de vida
“Desde que adotei a
bike como transporte, minha vida mudou muito. Para muito melhor. Ganhei tempo
com minha família. E, além dos benefícios pessoais, ganhei muito
profissionalmente. Devido a essa paixão, minha e de meu sócio, começamos a
desenvolver passeios ciclísticos e abrimos novas frentes de negócios de
importação de bicicletas e acessórios de alta qualidade para o mercado de
mobilidade urbana. Negócios que têm tudo a ver com a filosofia da Milk.”



Repercussão:



O que os colegas pensam
“Muitos colegas de trabalho
gostam da ideia de vir trabalhar de bicicleta, e muitos acham maluquice. No
começo, ouvi mais críticas, mas, hoje, as coisas estão mudando – mas ainda a
passos, ou pedaladas, de formigas. Outro dia, compartilhei uma indignação minha
nas redes sociais sobre uma atitude agressiva de um motorista e um amigo me
disse que não devemos usar bikes durante a semana, somente em fins de semana
para lazer. Pensei ´como assim???´. A gente ouve de tudo um pouco. Algumas
pessoas se inspiraram na minha experiência e estão testando o ´modelo
ciclístico´ como uma alternativa ao trânsito de São Paulo. Tenho um amigo
empresário que mora a menos de 1 km de seu escritório e, finalmente, trocou o
carro pela bike. É impressionante como a inércia ´trava´ as pessoas ao
carro.”



Papel do gestor:



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“Acredito que cada pessoa tem
um modelo que mais se adapta a sua realidade. É pouco provável, mas não
impossível, que uma pessoa que mora em São Caetano [na região da Grande São
Paulo] venha para a Milk [que fica no bairro de Pinheiros, na capital paulista]
de bike. O que fazemos é mostrar as possibilidades e, com o tempo, estamos vendo
que elas não têm fim. Por atuar no segmento de marketing esportivo, nossa
empresa busca fazer conexões com gente saudável. Conectamos nossos clientes com
praticantes de running, triatlo, ciclismo de lazer e de transporte, ioga, dança,
pilates, clubes etc. E tudo isso é facilitado pelo fato de conhecermos a fundo o
que estamos vendendo e trabalhando. O impacto é muito forte quando contamos, eu
e meu sócio, que mobilidade é sair de nosso escritório no Rio de Janeiro, cada
um com uma bike e uma mala, pegar o metrô em Ipanema, ir para a Cinelândia,
desdobrar as bikes, acoplar as malas, pedalar até o aeroporto Santos Dumont,
pegar um avião para Congonhas e pedalar, ou pegar um táxi[com bikes e malas no
porta-malas], até nosso escritório de São Paulo.”



Infraestrutura:



A cidade para os ciclistas
“As coisas têm melhorado.
Em São Paulo, acredito que a grande mudança veio depois da implantação da Ciclo
Faixa de Lazer. As pessoas tiraram o pó de suas bikes e começaram a pedalar pela
cidade, e os carros, por sua vez, começaram a conviver com elas. Não dá para
querer que São Paulo vire Copenhague da noite para o dia. A má notícia é que o
processo é lento, e ainda haverá muitos acidentes antes disso, e a boa notícia é
que o movimento é irreversível. Esse aumento do número de bikes em São Paulo vai
acontecer independentemente da interferência do governo com ciclovias,
ciclofaixas etc. As pessoas, naturalmente, irão buscar suas melhores soluções
para o trânsito da cidade, e muitos chegarão Í  conclusão de que a melhor solução
é a bike. Mas, apesar de tudo, o governo é a favor delas, pois deixam as
metrópoles melhores. Li que o prefeito de São Paulo vai começar a multar carros
que coloquem ciclistas em risco. É ver para crer.”



Mundo ideal:



Como chegar lá
“Acho que ainda falta maturidade para
os dois lados, ciclistas e motoristas – se é que existem só dois. Isso vai
acontecer com o tempo. Não acredito na imposição da presença, nem de um lado, e
nem de outro. Em minha opinião, um carro ou ônibus impor sua presença em cima de
uma bike é uma covardia, e uma bike impor sua presença em cima de um carro ou
ônibus é uma estupidez. Os carros deveriam proteger os ciclistas e entender que
quanto mais seguro for o trânsito para eles, haverá mais bicicletas nas ruas, e
que, quanto mais ciclistas, menos carros e menos trânsito, simples assim.
Ciclistas fecharem uma avenida como a Paulista em sinal de protesto é impor a
presença pela força, que é tudo que os usuários de bicicletas mais abominam.
Isso só gera aumento do trânsito, e da raiva do motorista pelos ciclistas. Acho
que não preciso continuar, não é mesmo? A solução é conviver, com harmonia e
respeito, como bem expressa o movimento Conviva , e seu logotipo brilhante.”

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