Gestão

Escritório Í  mão

de Karin Hetschko em 4 de fevereiro de 2014
Taurion, da IBM: não tem como dizer não à internet

O executivo confessa que passa mais tempo em aviões do que no escritório físico da IBM: em média, são noventa dias por ano viajando a negócios. Para pessoas como ele, o acesso às tecnologias móveis foi a resposta exata para um problema recorrente da globalização: manter-se em contato em tempo real, sem necessariamente estar presente no mesmo ambiente.

Nesse contexto, nasceram duas políticas corporativas que se integram: o trabalho a distância e o bring your own device (BYOD) – na tradução para o português, traga o seu próprio dispositivo. Com isso, seja em casa, no cliente, ou até no saguão do aeroporto, o funcionário pode estar conectado ao seu trabalho, e otimizando tempo. E a tendência é que mais empresas invistam nessa ideia. Taurion alerta que esse é um caminho sem volta. Para o executivo, aqueles que são arredios à ideia das novas tecnologias precisam tentar entendê-las. “Trata-se de uma questão de sobrevivência profissional”, afirma.

O que levou as empresas ao movimento do home office?
Existem alguns impulsionadores que conduziram as empresas ao modelo. Um exemplo claro é a evolução tecnológica que fez com que hoje tenhamos em casa um verdadeiro data center. Se compararmos o armazenamento de dados do último iPhone com sua primeira versão, de 2007, veremos que o atual tem 40 vezes mais capacidade que o primeiro. Imagine o que teremos no bolso daqui a cinco anos. Além disso, nas grandes cidades, temos o problema da mobilidade urbana. Há uns vinte anos, em São Paulo, talvez marcássemos uma reunião de manhã, outra na hora do almoço e mais uma à tarde. Hoje, essa situação é inviável. Na verdade, não faz mais sentido sair de casa, colocar todo o escritório na mochila, ficando duas horas em um engarrafamento e desmontando o escritório em uma mesa, sendo que seu escritório virtual é um tablet, um laptop.

A IBM valoriza bastante esse modelo?
Sim, a IBM globalmente enfatiza muito o home office. De acordo com estatísticas, temos 435 mil funcionários [praticamente metade do contingente de profissionais da empresa] no mundo inteiro que trabalham fora do escritório, atuando no cliente ou em casa. Isso já faz parte da nossa cultura.

Hoje, o consumidor é protagonista da tecnologia, ele ajuda as empresas a moldar novos modelos. Como isso afeta as relações de trabalho?
Nestes últimos anos, o que sentimos é uma aceleração muito rápida da tecnologia. Imagine que há vinte anos a web não existia. E se fizermos um recorte mais recente, nos últimos dez anos, surgiram coisas que já fazem parte do nosso dia a dia, o Facebook (2004), o Twitter (2006), o iPhone (2007) o iPad (2010), e a curva de adoção foi extremamente rápida. Esse contexto criou um fenômeno que chamamos de consumerização da tecnologia, em que o usuário está na vanguarda tecnológica. Podemos ter um smarthphone top de linha, assim como um laptop fantástico, que qualquer grande empresa tem. Isso é uma mudança nos conceitos da própria área de TI nas organizações. Ela sempre foi detentora da tecnologia, o que ela escolhia é o que os usuários usavam; atualmente, alguém pode usar o Google Glass, que trouxe da viagem aos EUA, cuja existência a empresa desconhecia. Nós somos clientes e funcionários e, ao mesmo tempo, usamos a tecnologia de forma extremamente inovadora; queremos usar isso nas relações com as empresas fornecedoras de serviço, como clientes, e queremos usar isso nas empresas que nos empregam.

A tendência é que os empregados usem também tecnologias intuitivas no ambiente corporativo?
Todos os usuários têm o hábito de usar aplicativos e computadores a que estão acostumados. As pessoas se perguntam: por que não posso usar sistemas tão intuitivos nas interfaces do sistema corporativo? Veja, meu netinho de cinco anos brinca com smartphone como gente grande e ele não usa teclado ou mouse; logo, por que temos de ter um aplicativo corporativo confuso que você clica aqui e acolá e vai para uma nova tela? Não é nada intuitivo. Do outro lado, a empresa é diferente de uma casa. No lar, você perde as fotos de seu casamento. É uma tragédia familiar, mas na empresa isso é mais do que uma catástrofe: pode gerar um prejuízo financeiro e informações no mercado circulando de forma indevida. Portanto, precisamos ter o compromisso entre os dois extremos, de encontrar o ponto ideal do conceito bring your own device (BYOD), eu diria até bring your own application, porque também estamos acostumados a alguns aplicativos. Não existe uma regra 100% precisa, existe uma série de conceitos que precisam ser adotados e ajustados de acordo com a empresa.

E como conduzir uma política BYOD agregando as necessidades do usuário e da empresa?
A primeira coisa é definir uma estratégia. Analise que a área de TI, que antes era a pastora dos usuários, hoje funciona mais como uma conselheira. Nesse contexto, novas estratégias de riscos, de compartilhamento de dados, de segurança, precisam ser definidas. No ambiente corporativo, precisamos ficar atentos às questões de propriedade intelectual e de tecnologia para autentificação, que garanta apagar o conteúdo no caso de perda ou de troca de aparelho. A cada dois anos trocamos de aparelho celular. Saiu o iPhone 5 e acabamos dando o iPhone 4 para um filho, mas lá dentro pode haver dados da empresa que ele, ao brincar, pode compartilhar com os colegas. Por isso, a estratégia precisa ser bem desenvolvida pela companhia e sustentada por uma política muito bem definida e escrita. Jurídico, RH, TI e gestão de risco são os departamentos convidados a discutir todas as regras do jogo: compartilhamento de riscos, responsabilidades e benefícios.

Como o RH pode ajudar nessa tarefa?
Uma das sugestões é que o RH seja bem proativo. O departamento deve ser o primeiro a se acostumar com a política do bring your own device, até para que os próprios funcionários do setor a entendam e vejam como funciona o processo. A área deve servir de exemplo para o resto da empresa.

#L# E no que se refere à padronização de aparelhos, o usuário pode usar aquele que está acostumado a usar em casa?
Não necessariamente. A companhia precisa definir uma linha, observando aparelhos que aceitem os softwares de segurança, de autentificação, de rastreamento e aqueles que permitam apagar conteúdo em caso de perda ou roubo. Pode-se criar a regra, por exemplo, da aceitação de aparelhos do Apple IOS da versão 6 em diante, ou do modelo Android 4 para cima. Outro ponto importante é definir um limite entre o tipo de dispositivos e o ambiente operacional. No ambiente de mobilidade, há muitos meios operacionais e variantes deles. Tem o Androide da Motorola que é da Google, tem o Android da Samsung etc. Todos com algumas características que os outros não têm.

Todos podem usufruir do home office?
Não, isso vai depender do grau de expertise do funcionário. Numa linha de montagem, ou em um açougue, por exemplo, há profissionais que, por vezes, não têm o grau de expertise tecnológica para serem elegíveis para a política do BYOD (nem precisam disso). Por outro lado, o profissional da IBM, que lida com serviços, economia criativa, vendas de tecnologia e consultoria, precisa da informação em tempo real. Para eles, esse tipo de política é importante e aumenta a produtividade, já para outros não faz diferença.

Como a empresa pode ajudar a convencer o colaborador que não é fã de novas tecnologias sobre a necessidade do uso delas?
Temos os nativos digitais, o pessoal que nasceu com a internet como pano de fundo, que são íntimos da tecnologia e não conseguem viver sem ela. E temos os migrantes para o mundo digital. Dentro das organizações, não há como tornar todos nativos digitais, mesmo porque eles nasceram antes, mas cabe à companhia educá-los para mostrar que a tecnologia ajuda a empresa a inovar e aumenta a colaboração entre os profissionais. Em outras palavras, é preciso se integrar a esse mundo. Vivenciamos uma sociedade cada vez mais digital; hoje, 40% da população mundial está ligada à internet; no final da década, 60% ou 70%, e talvez em 2020 estaremos falando em 95% ou 100% do mundo ligado à internet. Não tem como dizer não à tendência, isso vai acontecer assim como o sol vai nascer amanhã. A questão é ousar, mesmo que não se esteja habituado com novas tecnologias, aliás, trata-se de uma questão de sobrevivência profissional.

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