Gestão

Fugir dos perigos compartilhados

de Jacqueline Sobral em 14 de março de 2012

“Infelizmente, é cultural: as pessoas só associam o exercício à estética, quando na verdade praticar atividade física é uma questão de saúde. Não acho levantar peso uma atividade fantástica, mas é muito importante”, ensina a diretora da JSL, Irecê Andrade. A executiva sabe o que diz. Apesar de gostar de praticar esporte, no passado, ao assumir o comando de um projeto no setor público, ficou sedentária, passou a não dormir direito, a comer fora do horário e até a esquecer de almoçar – tudo para se concentrar na vida profissional. Resultado? “Comecei a me sentir mal, tive picos de hipertensão, e precisei fazer tratamento médico. Foi, então, que voltei a fazer exercícios e a me alimentar corretamente. Hoje, não preciso mais tomar remédio”, relata.

O que aconteceu com Irecê está longe de ser um caso isolado. Concentradas em administrar o tempo entre os desafios profissionais, as tarefas de casa e os filhos, as mulheres simplesmente estão esquecendo de colocar na agenda um espaço para cuidar da saúde – e sem ela não é possível desempenhar nenhum papel, o que dirá vários. Segundo dados da American Heart Association, doenças do coração são a principal causa de morte de mulheres (de cada três que morrem, uma sofre de doença cardiovascular). Além disso, o número de mortes após um primeiro infarto é de 38% para as mulheres, contra 25% para os homens. No Brasil, cerca de 30 mil mulheres morrem de ataques cardíacos por ano.

Efeito protetor
De acordo com a diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), Fernanda Consolim Colombo, alguns fatores explicam esses números. “A mulher vive mais, e por um maior período na menopausa, fase em que se perde o potencial efeito protetor do estrógeno sobre o aparelho cardiovascular. A mulher adquiriu hábitos de vida antes considerados mais masculinos, como uso de álcool e tabaco, faz menos atividade física regular e aumentou de peso, em média. Dessa forma, observamos maior incidência de diabetes, sobrepeso, obesidade, alterações no metabolismo das gorduras e hipertensão arterial”, explica a cardiologista. Ao que tudo indica, a adoção de hábitos ruins e a falta de exercícios físicos frequentes estão relacionadas ao fato de que as mulheres não estão conseguindo administrar muito bem o estresse provocado pela competição presente no mundo dos negócios. “É inegável que ainda existe em vários segmentos da sociedade uma enorme diferença entre as responsabilidades domésticas entre homens e mulheres, e uma mesma cobrança na performance no trabalho fora de casa.  O estresse é uma reação global do organismo frente a uma situação percebida como desafiadora. Depende do indivíduo perceber a situação como tal, e reagir a ela de forma ´boa´ ou ´ruim´”, explica Fernanda.  “Quando a resposta ou sensação a um desafio se vincula à conquista, realização, bem-estar, não há sobrecarga para o organismo. Quando se relaciona à angústia, desconforto, exaustão, porém, aí as alterações orgânicas podem ocorrer.”

Metas reais
Insônia e frequentes alterações de humor estão na lista de sintomas que mulheres atuantes profissionalmente apresentam ao manterem o status de sedentárias em seus currículos, de acordo com a personal trainer e coordenadora técnica da academia Top Form, Andrea Giusti. “Depois que elas começam a se exercitar, relatam uma melhora do sono, um aumento da disposição e percebem que até rendem melhor no trabalho”, afirma. “Elas também acabam criando um círculo de contatos fora do ambiente profissional e de casa que é muito importante e positivo. Apesar de ter uma sala de ginástica no prédio onde mora, uma das minhas alunas, por exemplo, faz questão de deixar os filhos em casa com a babá e se distanciar do ambiente doméstico para vir à academia, pois é o tempo que ela reservou só para se cuidar.” Entre as atividades preferidas pelo sexo feminino são justamente as aulas aeróbicas feitas em grupo, enquanto os homens costumam optar pelo treino solitário na musculação.

Para a cardiologista, o primeiro passo é a criação de metas mais “reais” e um pouco de “criatividade”. “É impossível fazer atividade física cinco vezes por semana? Então, se programe para três dias, e procure andar mais nos outros”, sugere. “Marque um período para conversar com os filhos – quer seja o jantar ou café da manhã -, mas não falte. Deixe três fins de semana para organizar a casa e reserve um todo para a família. Diminuir viagens é impossível, então tente, às vezes, levar alguém da família como companhia. Chame os filhos para te ajudar em pequenas coisas no trabalho, eles se sentirão importantes e colaborando com seu sucesso.” 

Agora, enquanto muitas mulheres ainda não perceberam a importância do exercício para a sua saúde, outras pecam pelo exagero ou por não entenderem que resultados saudáveis só são obtidos a longo prazo. “Vejo mulheres consumindo produtos à base de cafeína para renderem mais no treino, ou que não comem direito porque querem emagrecer mais rápido e, aí, passam mal na academia. É preciso priorizar a saúde”, diz Andrea. “O exercício é um hábito necessário para uma vida saudável, assim como a alimentação. Não precisa correr 15 quilômetros, a caminhada é um exercício acessível a todo mundo. A expectativa de vida aumentou, a gente tende a viver mais. A grande questão que a mulher deve se perguntar é ´como eu quero viver?´”,
resume Irecê.


 

Fatores de risco para doenças cardiovasculares em mulheres:

> Pressão alta
> Colesterol
> Obesidade abdominal
> Sedentarismo
> Diabetes
> Cigarro
> Interação entre fumo
e anticoncepcional

De acordo com especialistas, 90% dos fatores de risco para doenças do coração estão associados ao estilo de vida, enquanto apenas 10% são genéticos. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, mulheres que têm cintura acima de 80 centímetros devem fazer exames para avaliar a sua taxa de insulina. Um estudo da Universidade de Stavanger, Noruega, concluiu que o sedentarismo e a alimentação hipercalórica, sozinhos, não explicam a epidemia de obesidade no mundo: o estresse pode provocar ganho de peso; e ser obeso pode gerar estresse.

 

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