Gestão

Gestão de longo prazo

de Cristina Morgato, Núbia Matos em 17 de abril de 2012
Theo martins

Assegurar o sucesso do negócio em longo prazo e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade justa. Essa é a definição clássica do sociólogo e consultor britânico John Elkington para sustentabilidade nas empresas. Para Cláudio José de Andrade, coach em sustentabilidade, o termo se define como um valor que se insere no comportamento pessoal e organizacional de forma ética e transparente e se aproxima muito do conceito da democracia, no qual o sistema é gerido em função do bem comum. Coordenador e professor de cursos relacionados ao tema no Senac, Mackenzie e PUC-COGEAE, Andrade irá colaborar, a partir de abril, com a MELHOR por meio de um blog em nosso site. O desafio é falar da relação entre a gestão de pessoas e a sustentabilidade. Afinal, o que o RH tem a ver com tudo isso?

MELHOR – As empresas compreendem o conceito de sustentabilidade?
Pesquisas nos mostram tendências positivas no caminho da compreensão das empresas, porém observamos ainda inúmeras inconsistências entre o que se publica e o que realmente se faz. Há um progresso rápido e uma enorme quantidade de práticas empresariais, mas afirmar que as organizações atuem alinhadas pela premissa da sustentabilidade, seria romantismo. Pensando sob o enfoque da tecnologia, muito se avançou em ferramentas na busca do enraizamento da sustentabilidade. Todavia, em se tratando de capacitação de pessoal para compreender o valor desse assunto e sua abrangência, houve pouco desenvolvimento.

Especialistas em marketing afirmam que se uma empresa entrar 100% na sustentabilidade, ela quebra. Qual sua opinião?
Ninguém vai ser sustentável 100% de hoje para amanhã, pois a lógica do sistema econômico não é essa. A economia verde e inclusiva, a ecoeficiência, a produção com baixa emissão de GEE (gases de efeito estufa) são parte de uma realidade e não dá para fechar os olhos para isso. Incorporar a sustentabilidade na gestão deixou de ser um problema de marketing faz tempo. O que quebra uma empresa é a falta de visão sistêmica e a noção de permanência no planeta.

Então não é possível ser 100% sustentável?
Impossível e burro. A sustentabilidade é uma busca constante do equilíbrio entre as partes vivas de uma sociedade. O negócio pode se integrar totalmente à sustentabilidade, resolvendo impactos negativos e expandindo os positivos. A empresa responsável pode fazer isso imprimindo maior qualidade à gestão da cadeia de suprimentos, na inovação de mercado e produtos, na utilização de matéria-prima, na geração de resíduos e descarte.

Recentemente, observamos uma onda de “empresas verdes”. Até que ponto elas são realmente verdes? Faz sentido ou fica só no marketing?
Considerando a ação de comunicar, a empresa verde tem prerrogativas para se classificar como tal. Políticas frente à emissão e resíduos, inovação em produtos e processos, conservação de água e reciclagem são alguns itens de comprometimento. Os clientes estão mais espertos para colocar em xeque os três elementos estratégicos da empresa: os recursos, o produto e as operações. Podemos dizer que existem muitas empresas que situam o tema na área de marketing e, realmente, a inovação e os resultados da empresa verde são assuntos quentes para essa área – no entanto, será impossível comunicar sem evidências. Por um tempo pode ser, mas não o tempo todo.

Alguns especialistas já trabalham com o conceito de carreiras verdes. Como você definiria esse termo e como as empresas podem dar mais valor a esses profissionais?
Trata-se de uma nova competência exigida para o profissional antenado aos temas da responsabilidade social e sustentabilidade, que exerce função de articulador entre o negócio e as demandas do mercado de forma a transformar essa relação em uma comunicação coerente e genuína. Ele potencializa a gestão estratégica sem perder de vista a preservação ambiental. As empresas que estão buscando seus caminhos para a sustentabilidade devem abrir espaço para esse especialista e posicioná-lo em função estratégica na organização.

Quais as principais mudanças que a empresa deve fazer para se tornar sustentável? Quais áreas estão envolvidas nessa mudança?
Não vejo mudanças estruturais necessárias para iniciar um trabalho de incorporação da sustentabilidade. Não vai custar nada organizar um comitê para discutir o tema e alinhar uma pauta de ação. Recomendo sempre a utilização dos indicadores Ethos para fazer um autodiagnóstico com ampla participação de todas as áreas da empresa. Inicie identificando o ambiente dos negócios e suas principais questões críticas, olhe para o cenário internacional e possíveis riscos de mercado. Conduzir as operações com transparência, responsabilidade e diálogo com as partes interessadas, ajuda muito. Cada empresa é uma organização única e ela deve se reconhecer assim.

É possível relacionar inovação e sustentabilidade?
Inovação está relacionada intrinsecamente com sustentabilidade devido ao cuidado na concepção de seus produtos e serviços para garantir a eficiência de uso e descarte. Tendo como meta o triple bottom line (que envolve os pilares econômico, social e ambiental), a empresa deve articular o conjunto de elementos estratégicos e abordar os efeitos dos sistemas, dos métodos e atividades sobre a competitividade. Além da adequação local, regional ou global.

Qual o papel da empresa com relação à sociedade, quando o assunto é sustentabilidade?
Das 100 maiores entidades econômicas do mundo, 51 são empresas – imagine o que representa isso em número de pessoas. Diante desse fato, é irrefutável o compromisso das corporações com o compromisso social, seja econômico, legal, ético ou filantrópico, na garantia da qualidade de vida das famílias de seus empregados e no desenvolvimento da nação. A visão estratégica da sustentabilidade nas empresas pode encadear mudanças comprometidas com melhorias sociais e humanas.

 

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