Gestão do sorriso

de Paulo Jebaili em 24 de setembro de 2010

Ser feliz no trabalho é um fator determinante para negócios bem-sucedidos e carreiras gratificantes. Essa é a premissa do dinamarquês Alex Kjerulf, especialista em felicidade no trabalho. Isso mesmo. Tanto que ele se intitula Chief Happiness Officer. Kjerulf é pós-graduado em ciências da computação pela University Southern of Denmark, mas se dedica a dar palestras e consultoria em empresas sobre a importância da felicidade no local de trabalho.

O mais recente livro do CHO se intitula Happy hour is 9 to 5 – How to love your job, love your life and kick butt at work [numa tradução livre, algo como Happy hour é de 9 às 5 – como amar seu emprego, amar sua vida e arrasar no trabalho . É sobre temas abordados no livro e outros aspectos, como solução de conflitos e motivação, que MELHOR conversou com Alex Kjerulf.

É senso comum que pessoas motivadas trabalham melhor, entregam resultados e contribuem para aumentar a produtividade. Porém, é muito comum pessoas lidarem com chefes intratáveis, competição entre colegas e prazos apertados. É possível ser feliz em um ambiente tão estressante assim?

Às vezes é possível. Você pode encontrar ilhas de pessoas felizes em empresas infelizes e vice-versa. Mas na maioria das vezes é impossível. É difícil de encarar, mas alguns locais de trabalho são muito tóxicos e jamais mudarão, não importa o quanto você tente. De fato, você pode se matar tentando e não vai conseguir. Nesse caso, o melhor a fazer é ir embora e procurar um lugar em que seja mais fácil você ser feliz.

Como o senhor definiria um profissional feliz?
Alguém que acorda na segunda-feira de manhã e diz “Oba, é segunda, eu tenho de ir trabalhar novamente”. O oposto disso são todas as pessoas que dizem “Oba, é sexta-feira, chega de trabalho”.

O senhor se intitula Chief Happiness Officer. O senhor enxerga organizações implementando esse cargo em suas hierarquias no futuro? Qual seria a contribuição que esse executivo poderia dar?
Eu vejo cada vez mais CHOs, o que é fantastico porque esse é um dos mais importantes cargos numa organização. Eles podem nem sempre ser denominados Chief Happiness Officers, mas são pessoas vistas como responsáveis por fazer e manter a empresa feliz. A contribuição é tanto inspiracional quanto de ordem prática. Por um lado, o CHO deve – evidentemente – ser alguém feliz. Deve ser capaz de inspirar felicidade nas outras pessoas por sua própria natureza, e alguém que seja divertido, agradável e com muita energia. Por outro lado, o CHO pode também liderar iniciativas diversas para deixar as pessoas mais felizes, como celebrações, treinamentos, eventos e outras atividades divertidas no trabalho.

O título de seu mais recente livro, Happy Hour is 9 to 5, sugere uma transformação interior nas pessoas? Como as pessoas conseguem isso? E como diferenciar essa abordagem do autoengano?
Eu realmente não vejo isso como uma transformação profunda – que as pessoas vão da infelicidade a um contentamento profundo. Isso realmente tem a ver com ficar um pouco mais feliz a cada dia. Tem a ver com escolher ser feliz no trabalho. Dizer para si mesmo: “Eu vou trabalhar por muitas horas em minha vida – eu quero que essas horas sejam divertidas e motivadoras”. E se trata, sobretudo, de perceber que você pode ser feliz no trabalho e que pode fazer algo por você.

Você não está à mercê de seus colegas, do local de trabalho ou do seu chefe. Antes de tudo, você tem o poder de ir embora e achar um emprego que lhe dê mais felicidade em algum outro lugar.

É comum haver conflitos no local de trabalho. Existe uma abordagem correta para solucioná-los?
A abordagem correta é resolver o conflito o quanto antes. Quanto mais se espera, pior ele fica. Além disso, tenha em mente que, em um conflito, dificilmente uma só parte é culpada. Será que você mesmo não contribuiu de alguma forma para o conflito?

Como o senhor vê os tradicionais programas de motivação nas empresas? Eles funcionam?
Infelizmente, a maioria deles não funciona muito bem. Podem dar uma cutucada temporária na motivação e na felicidade, mas rapidamente se esvaem, deixando os funcionários mais abatidos e céticos do que antes. O que nós precisamos é mudar a abordagem festivos – como aqueles eventos para formação de equipes – para o estratégico, de modo que a felicidade no trabalho seja parte do DNA corporativo e incluída em todas as grandes decisões. Somente as empresas que fazem isso podem criar felicidade no longo prazo – e felizmente muitas delas estão fazendo isso, como Google, Southwest Airlines e Zappos.com.

Como os gestores de RH podem contribuir para fazer as pessoas mais felizes?
Eis a verdade: a função mais importante de RH é fazer as pessoas felizes. Eu sei que o RH tem muitas outras tarefas, como cuidar de contratos, políticas, contratações, treinamentos etc. Mas tudo o que o RH tem de fazer é realmente colocar as melhores pessoas na organização e obter o melhor delas enquanto estiverem ali. Isso só é possível quando as pessoas estão felizes. Essa é a razão pela qual o gestor de RH é a pessoa ideal para ser o Chief Happiness Officer. Para muitos departamentos de RH, essa é uma mudança radical de foco, mas isso é o que fará o RH muito mais divertido e muito mais eficaz.

A propósito, se o senhor fosse CEO de uma grande empresa, que tipo de profissional de RH gostaria de ter ao seu lado?
Alguém que tivesse um grande coração e naturalmente gostasse de gente. Alguém divertido, criativo e com bastante energia, que não tivesse medo de tentar novas ideias e abordagens. Alguém que soubesse profundamente que pessoas felizes são muito mais eficazes e que locais de trabalho felizes são muito mais bem-sucedidos. Eu gostaria de uma pessoa que me fizesse feliz, apenas por estar na mesma sala em que eu. Isso seria também – não por coincidência – o perfeito Chief Happiness Officer!

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