Gestão

Inimigos Invisíveis

de em 25 de janeiro de 2014

Os maiores riscos para a qualidade de vida dos profissionais geralmente não fazem estardalhaço. Segundo o consultor norte-americano Wolf Kirsten, fundador e presidente da International Health Consulting, 63% das mortes no mundo decorrem de doenças não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças crônicas do aparelho respiratório. Aproximando-se dessas patologias estão as doenças mentais. Tal quadro assumiu essa proporção devido a maus hábitos como sedentarismo, tabagismo, dietas pobres em nutrientes e uso abusivo de álcool. No que tange ao papel das empresas para mudar tais comportamentos de risco, Kirsten defende o planejamento sistemático de programas de qualidade de vida, o apoio das lideranças e o envolvimento dos funcionários desde os primeiros passos nas ações implementadas. Em setembro, o consultor estará no Brasil para o primeiro seminário latino-americano, realizado pela Associação Internacional de Promoção da Saúde no Ambiente de Trabalho, em São Paulo, e no XVIII Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida (ABQV).

O senhor tem trabalhado com gestão de qualidade de vida no ambiente corporativo há mais de 20 anos. Nesse universo, em que aspectos as empresas obtiveram os melhores resultados?
É difícil escolher um programa específico. O ponto fundamental é ter um forte apoio da liderança, envolver os seus trabalhadores desde o início e planejar sistematicamente, por meio de um ciclo de melhoria contínua, o que inclui avaliações frequentes.

Por outro lado, quais problemas de saúde aumentaram entre a população trabalhadora?
Aproximando-se das doenças crônicas, como obesidade, pressão alta, diabetes, a doença mental tornou-se um grande desafio para os empregadores.

Qualidade de vida é um conceito amplo. Como o senhor definiria um bom programa de qualidade de vida? Que aspectos deve abranger para que atinja os resultados desejados?
Como falei, é difícil resumir em uma frase de efeito, mas, ao lado dos elementos anteriormente mencionados, é preciso estar ciente de que é necessário tempo para construir um programa bem-sucedido. Empresas como Johnson & Johnson e Dow Chemical têm feito isso há décadas.

Quais os principais desafios para as empresas no que se refere
ao gerenciamento dos custos com saúde?
O aumento das doenças crônicas e doenças mentais, o envelhecimento da população ativa, e para colocar de uma maneira até branda, um mundo que não cultiva uma vida saudável. Claro, isso depende do sistema de saúde e, em grande parte, da carga de custos que as empresas carregam. Nos Estados Unidos, obviamente, isto é um enorme desafio. No entanto, algumas companhias norte-americanas têm feito um bom trabalho com o gerenciamento de seus custos dedicados aos cuidados da saúde do trabalhador.

O trabalho em casa, o esquema home-office, tem se disseminado nos últimos anos. O senhor considera que esse modelo pode contribuir para a qualidade de vida?

Sim, alguns arranjos de trabalho flexíveis são muito positivos, mas não para todos os funcionários e funções. Eu acho que isso funciona como um pêndulo que vai e volta a balançar mais para trabalhos feitos em escritório. Yahoo é um caso interessante nesse quesito.

O senhor chama a atenção para as doenças não-transmissíveis, como diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas. Como as empresas podem mensurar a eficiência de suas ações preventivas em relação a essas doenças?
As doenças não transmissíveis são o principal desafio nos dias de hoje e a promoção sistemática da saúde ou programas de qualidade de vida podem tratar isto de maneira bem-sucedida. O desafio está em identificar e inserir os empregados de alto risco para doenças não transmissíveis nesses programas. Você pode medir a participação, a satisfação, a mudança no conhecimento e nas atitudes e, consequentemente, alterar os riscos para a saúde e, finalmente, chegar à condição de saúde, por exemplo, reduzindo a pressão arterial ou o colesterol.

Existem várias doenças relacionadas ou originadas a partir do estresse. Vemos com frequência iniciativas que parecem soluções paliativas, como massagens rápidas durante o expediente, por exemplo. O que pode ser feito para lidar com o estresse no ambiente de trabalho?
Sim, a maioria das empresas trata apenas dos sintomas e aumenta a resiliência do indivíduo. É preciso, entretanto, avaliar e analisar o ambiente psicossocial de trabalho, por exemplo, é preciso questionar se os funcionários têm recursos suficientes para lidar com as demandas colocadas sobre eles, se o gerente ou chefe é justo e se comunica bem, se o relacionamento com os colegas de trabalho é bom, fazer com que os funcionários saibam o que é esperado deles e se eles sentem que o trabalho que fazem tem significado, entre outros aspectos. Isso é muito importante para gerir o estresse e as empresas líderes o têm reconhecido.

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