Gestão

Integração nos tempos modernos

de Renan De Simone* em 17 de junho de 2011

Acho que a maioria das pessoas conhece a cena clássica de Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos (1936), na linha de produção da fábrica, onde diversas peripécias ocorrem enquanto ele tenta se adequar ao tempo da esteira. O filme é emblemático por muitos motivos, e acredito que nos convida a diversas reflexões, especialmente sobre algumas sensações. Um dos pontos é que o personagem não se entende como gente e se transforma mais em máquina do que em qualquer outra coisa, inclusive levando alguns tiques para sua vida cotidiana. Faz o que faz não porque entende o que faz, mas por simples repetição. Não enxerga o seu papel, não se reconhece no resultado, não se vê no todo. Passando esse exemplo para a vida corporativa, quantos de nossos funcionários e colaboradores não são assim? Até mesmo os líderes. Quem se reconhece no todo? Será que não temos gestores trabalhando contra nossas organizações e criando pessoas alienadas?

Guy Debord, escritor e pensador francês que viveu no século passado, escreveu em sua obra mais conhecida, A Sociedade do Espetáculo , que o homem alienado daquilo que produz, mesmo criando os detalhes do seu mundo, está separado dele. Parece um pensamento óbvio. Todos precisam conhecer o funcionamento do geral, pois se não houver uma visão mais holística da empresa e de seu trabalho, estará alienado. Não digo que é preciso conhecer o trabalho minucioso de todas as áreas, mas já calhou de eu conversar com funcionários que não sabiam sequer que existiam determinados setores na empresa. Outros não sabiam nem mesmo o nome do dono da organização. Integrar não faz mal a ninguém, pelo contrário. Apesar de a afirmação de Debord parecer óbvia, algumas pesquisas mostram que não. Uma delas, realizada em 12 países, incluindo o Brasil, em 2008, pela Proudfoot Consulting (hoje Alexander Proudfoot Company), mostrou que dentre os cinco principais problemas das corporações, apontados por mais de mil executivos ao redor do mundo, as falhas de comunicação interna aparecem em segundo lugar, perdendo apenas para a falta de qualificação profissional.

No Brasil, essas falhas pulam para o primeiro posto, abarcando 47% dos entrevistados do país. Dentre os motivos elencados, destaca-se o fato de os gestores guardarem informações estratégicas para si em vez de transmiti-las aos seus funcionários. Falta transparência, o que faz com que os colaboradores percam a motivação e não saibam quais os objetivos empresariais. Os próprios gestores contribuem para a alienação, quando seu papel é exatamente o oposto. Quando o problema é identificado, o RH deve empreender estratégias mais ativas e investir em comunicação. Aliás, isso e pensar à frente são boas maneiras de evitar que o problema desponte. Os gestores precisam assumir responsabilidades. Deixar que os colaboradores entrem (ou fiquem) num estado de alienação é emburrecer e negar uma maior produtividade. Talvez este seja o tempo pós-moderno, no qual, desejando uma coisa, levamos nossa situação ao seu oposto. Quando pensamos em Chaplin, lembramos de um gênio, um homem à frente de seu tempo e com grande talento, uma pessoa que todos gostariam de ter por perto. Entretanto, muitas corporações lutam e lutam e, em lugar de gênios, formam o personagem alienado do nosso querido Charles.

*Renan De Simone é sócio da Moraes Mahlmeister Comunicação

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