Mãe em tempo integral

de em 17 de março de 2011

O nascimento de um filho é um marco na vida de qualquer mulher. No caso de Flávia Mesquita, o pequeno Bruno deu outro sentido para a carreira de estilista. Quarta filha de uma família que trabalha com tecidos há mais de 50 anos em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Flávia cresceu entre móveis, cortinas, tapeçarias e estofados feitos sob os olhares minuciosos dos seus pais. Estudou moda, mas nunca se encantou pelo mundo corporativo deste setor. Ao amamentar seu filho por mais de um ano, veio a pergunta: “Não é possível que ninguém tenha pensado numa roupa específica para amamentar”. Parar de mostrar a barriga, expor o colo ou estragar a gola das blusas e, principalmente, ficar livre de olhares indiscretos. Nasceu então, há quase três anos, a Criando Gente, com a missão de criar roupas de qualidade estética, material e ergonômica que assegurem liberdade e conforto para amamentar em todos os lugares em qualquer ocasião, garantindo a discrição e tranqüilidade da mãe, e assim, a qualidade da mamada para o bebê. “Acredito que criar gente é trazer os filhos consigo; fazê-los ver a vida com segurança e confiança. A amamentação é comprovadamente o maior formador desses vínculos já nos primeiros momentos de vida”.

MELHOR – Antes de criar a sua empresa, o que você fazia profissionalmente? Era funcionária de alguma organização?
Flávia Mesquita – Antes de criar a empresa era estudante de moda na faculdade Santa Marcelina. Trabalhar no mundo corporativo nunca fez minha cabeça, algumas tentativas foram bem estressantes, o que é uma característica desse tipo de empresa. Trabalhei com decoração na empresa de meus pais, no interior de São Paulo e tive também minha própria loja nesse segmento até o momento de vir tentar a sorte na cidade grande. No começo deu um medo danado dessa quantidade de gente, dessa velocidade. Hoje acho que não saio mais daqui.
 
Qual foi o sentimento quando você teve a ideia de desenvolver seu próprio negócio?
Materializar formas e desejos não é nada fácil, são muitas barreiras internas e externas. Como definir uma equipe de bons profissionais que apostem no seu começo, que te ajudem a aprender os detalhes do dia a dia.  Mas de uma coisa não tenho receio: Vender! Sou uma vendedora nata, e vender bem é conhecer seu produto, confiar nele e dar todas as explicações possíveis para deixar seu cliente confiante. Vendo via e-commerce para todo território nacional e também para o exterior, em particular Portugal.  Mas muitas clientes são fidelizadas  por um atendimento dedicado em domicílio, de mãe para mãe eu diria, pois sabemos como é difícil sair de casa com bebês pequeninos. Esses encontros são ótimos e os mais rentáveis da empresa. Sei por experiência própria o que aquela mãe está passando, o que gera diálogos cheios atenção e compromisso com a tranqüilidade delas.
 
A possibilidade de ter mais flexibilidade em termos de tempo para exercer seu papel de mãe foi um fator importante na hora de se decidir pela abertura da empresa? Por quê?
A flexibilidade foi fundamental. Não me imaginava trabalhando em indústria ou em grandes ateliês, pois demandam muita dedicação e tempo quase que integral em lançamentos de coleção e desfiles. Mas fundamental mesmo para tudo isso acontecer foi a aposta de meu marido, que sempre me incentivou a ser uma estilista autônoma e presente para nosso filho. Aliás, agora dois meninos, estou grávida de sete meses!
 
Qual é o maior desafio do empreendedorismo e em ser, ao mesmo tempo, mãe e empreendedora?
O maior desafio do empreendedorismo para mim, que sou uma pessoa muito mais ligada à criação e venda, é fazer tudo com controle (planilhas de custo, estoque, fluxo de caixa, etc.). São esses dados que me fizeram tomar decisões estratégicas mais acertadas, isso toma tempo e nem sempre é divertido, mas é imprescindível para saber para onde deve ir e, principalmente, se está indo na direção errada. O desafio em ser mãe empreendedora, ou seja, passar mais tempo trabalhando perto dos filhos, é estabelecer a melhor rotina para todos e cumpri-la. Flexibilidade aliada a comprometimento é regra para a mãe que quer ter seu próprio negócio.

Você acredita que hoje a mulher é valorizada no mercado de trabalho? Em sua opinião, a sociedade de uma forma geral entende que mulheres e homens são seres diferentes, com papéis sociais distintos?
Conheço muitas mulheres fortes, que trabalham em boas corporações, reclamam de coisas que qualquer homem reclamaria na mesma situação e não se consideram desvalorizadas por serem mulheres. Claro que estamos falando de São Paulo e que a igualdade entre os sexos no Brasil e em muitos países ainda está “engatinhando”, pra usar um termo materno. Mas todas as mães trabalhadoras sentem o peso da jornada dupla: emprego-casa-filhos. Sobre papéis sociais distintos, uma vez ouvi uma coisa interessante: se uma mulher sai do trabalho mais cedo, pois o filho está doente, falam “está vendo, tem que cuidar dos filhos e não trabalha direito”. Mas se um pai deixa o trabalho para cuidar do filho doente, dizem “puxa, como ele é dedicado!”. Muitas pessoas não entendem que diferença pode haver entre uma criança que fica oito horas em uma escola, enquanto os pais cumprem a mesma jornada de trabalho, e uma criança que fica três ou quaro horas na escola e o restante do tempo em casa, com seus brinquedos e familiares. Para mim e para outras mães empreendedoras, a diferença é abismal, fará toda diferença no futuro desse ser.

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