Mente aberta

de Ricardo Humberto em 8 de agosto de 2012







Rossi, da FdC: ainda investimos pouco em inovação se comparados a outros países
Muitas empresas estão expandindo suas fronteiras quando o assunto é inovar em parceria com clientes, universidades e especialistas em pesquisa e desenvolvimento. Esse novo modo de criar deu origem ao que se chama open innovation (ou inovação aberta), conceito criado por Henry Chesbrough, professor e diretor executivo da Universidade de Berkeley, em 2003. No mundo, esse conceito se propagou por diversos segmentos e no Brasil já ganha seguidores, como explica Anderson Rossi, professor e pesquisador do Núcleo Bradesco de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC). Ele diz que muitas empresas ainda inovam com as portas fechadas, sem buscar uma possível inovação no mercado. Trata-se de um modelo convencional que não é sustentável, uma vez que o desenvolvimento da Tecnologia da Informação e o aumento da competitividade exigiram uma mudança de mentalidade. “Aos poucos, as companhias em todo o mundo vão se rendendo Í s vantagens da inovação aberta”, diz o professor.


MELHOR – Quais as vantagens que a open innovation possibilita a uma empresa?
Anderson Rossi –
Numa era em que as palavras de ordem são rapidez e competitividade, a inovação aberta permite a uma companhia compartilhar uma tecnologia, já existente no mercado, com outras sem que os departamentos de pesquisa e desenvolvimento precisem “reinventar a roda”. O conceito é muito disseminado principalmente no setor de tecnologia, que deu o pontapé inicial para a formação das redes colaborativas e consolidação de parcerias por meio dos desenvolvedores. Essa mentalidade deve permitir Í  organização trabalhar com entrada externa para o processo de inovação tão naturalmente como faz com entrada interna. 


Como ocorre a inovação em grande parte dos casos?
Tradicionalmente, vemos diversas empresas que ainda inovam com as portas fechadas, sem buscar uma possível inovação no mercado. Hoje, esse modelo convencional não é sustentável já que o desenvolvimento da Tecnologia da Informação e o aumento da competitividade exigiram uma mudança de mentalidade. Aos poucos, as companhias em todo o mundo vão se rendendo Í s vantagens da inovação aberta.


Como convencer um departamento de marketing, por exemplo, a aderir a esse conceito? 
Aí está a principal chave da questão. As marcas perceberam que não precisam revelar seus segredos, mas vão ao mercado buscar um conhecimento que não é de seu domínio para acelerar o processo de produção sem abandonar seu processo de criação. Isso já quebra o primeiro mito, que se refere Í  necessidade de revelar ao mercado o segredo, pois um bom gestor vai se assegurar de bons contratos com parceiros. Com isso, há o aumento da rede de colaboradores em outras empresas, institutos, universidades e a oportunidade de aproveitar o melhor que cada setor tem a oferecer. Existem agentes intermediários que possuem a solução de um problema e, na maioria dos casos, colaboram por prazer, o que é muito comum nas redes sociais. 

Poderia citar um projeto emblemático de inovação aberta?
Um dos projetos mais audaciosos que evidencia a importância da open innovation veio da indústria automotiva, conhecida por seu conservadorismo e por blindar seus segredos. Em 2009, a Fiat quebrou um paradigma no setor ao lançar o projeto  Fiat Mio , criado para discutir com diversos públicos na internet do mundo todo o que eles esperavam de um automóvel. Para isso, a montadora italiana criou na web uma plataforma colaborativa, que foi o laboratório da empresa para saber de seus consumidores o que é um carro inovador. O resultado não poderia ser melhor: a Fiat recebeu, em quase um ano, dois milhões de sugestões pela internet e mais de 15 mil sugestões de protótipos e apresentou o resultado com grande sucesso de público – o carro no Salão do Automóvel de São Paulo de 2010.


Quais outros setores podemos destacar, além do automobilístico, como propícios Í  inovação aberta?
O segmento de alta tecnologia começou esse processo com o advento do software aberto. A Natura, que aplica diariamente a inovação aberta, hoje tem 50% de sua área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) fora da empresa. A Procter&Gamble transformou sua área de P&D no que ela define como “Conectar para se desenvolver”. A partir daí, a marca secular se reinventou ao buscar inúmeros parceiros e se comunicar com laboratórios e universidades 24 horas por dia.


Qual a principal vantagem da open innovation?  
Muitas empresas já colhem os louros com desse conceito, pois perceberam que não precisam ter tudo internamente. Dessa forma, reduzem seus gastos com pesquisa ao desenvolver no próprio parceiro. A indústria farmacêutica, por exemplo, percebeu que dessa maneira ganha agilidade com menos investimento. Indústrias mais maduras, como a de plásticos e vestuário, tiveram na inovação aberta fôlego
para lutar contra a  concorrência dos produtos asiáticos no Brasil.


Como o Brasil se insere na busca da inovação aberta? 
Se comparamos aos EUA, Coreia do Sul, Reino Unido e Canadá, que são os grandes celeiros de inovação, precisamos correr muito e seguir o exemplo desses mercados, que buscam parcerias com universidades e institutos de pesquisas aplicadas ao mercado. A Coreia do Sul, por exemplo, se reinventou com a educação e inovação e, hoje, transforma em negócio tudo o que sai da universidade.

As empresas brasileiras são inovadoras? 
Ainda investimos pouco se comparados a outros países. Numa pesquisa realizada em 2011 pela Fundação Dom Cabral com 72 grandes empresas, em sua maioria nacionais, detectou-se que 63% delas têm alta adesão Í  gestão de inovação aberta, mas apenas 19% investem
 em inovações radicais e 50% delas apresentam baixa adesão a parcerias.  


Qual o papel do governo brasileiro nesse processo?
O governo incentiva a inovação com iniciativas pioneiras, como a Lei da Inovação, criada em 2004 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para incentivar o intercâmbio entre  universidades, instituições de pesquisa e empresas para o desenvolvimento da pesquisa tecnológica. Outro mecanismo é  a Lei do Bem, que prevê incentivos fiscais a companhias que desenvolverem inovações tecnológicas, mas que é utilizada apenas por 10% das companhias nacionais. A grande vantagem da Lei do Bem é possibilitar Í  organização contratar mestres e doutores e o governo paga cerca de 70% do salário por três anos e depois desse período a companhia contrata o funcionário. Com isso, o governo faz com que os 10 mil mestres e doutores existentes no Brasil cheguem Í s empresas e provoquem a verdadeira inovação.

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