No mesmo tom

de Dum De Lucca em 17 de agosto de 2009

Aquela antiga imagem, por vezes austera e intimidadora, que os colaboradores do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) tinham ao fiscalizar a distribuição dos direitos autorais de execução pública musical ficou no passado. Reformatado por ações de RH que modernizaram seu método de trabalho, hoje o Ecad tem uma imagem diferente. Além de adotar uma filosofia de gestão que valoriza seus colaboradores, também implantou novas tecnologias que aprimoraram seu ritmo de trabalho.

Para isso, uma grande transformação ocorreu na instituição, como conta a gerente de RH Janaína Araújo. “Há doze anos, nosso conceito de administração começou uma profunda mudança. A superintendente executiva, Glória Braga, trouxe um modelo empresarial focado em metas e resultados. A empresa, hoje, tem um histórico de crescimento muito forte a partir da criação da área de RH”, diz ela, ressaltando que isso se deveu porque, quando começaram a estruturar o novo modelo, perceberam que tinham de trabalhar o maior patrimônio que o Ecad tem, que são as pessoas. A organização tomou as decisões certas em um setor em que, aparentemente, parecia difícil instalar um controle de arrecadação eficiente.

Para se ter uma ideia dos resultados obtidos com as mudanças ao longo dos últimos anos, o escritório alcançou resultados recordes de distribuição dos direitos autorais de execução pública musical. O valor distribuído aos titulares de direitos autorais e conexos (autores, intérpretes, músicos, editores, produtores fonográficos, entre outros) cresceu 8,38% em relação ao ano de 2007, totalizando cerca de 271 milhões de reais. Foram 73,7 mil titulares beneficiados. A música brasileira continua tendo destaque, já que 73% das obras musicais contempladas foram nacionais e 27% estrangeiras. Entre 2000 e 2008, a distribuição dos direitos autorais deu um salto de 222%, sendo a divisão entre os segmentos de arrecadação assumindo essa distribuição: shows e eventos (25,65%); emissoras de rádio (13,95%); música ao vivo (9,86%); e direitos gerais (sonorização ambiental) com 26,82%. Deve-se levar em conta, também, a revolução do mercado musical, com o surgimento de novas tecnologias digitais como o MP3 e o YouTube, e a facilidade de se gravar um CD em casa em um laptop, e divulgar e vender música via internet. Junto a isso, a nociva pirataria de CDs e DVDs, forçaram os artistas a aumentarem a agenda de shows, transformando-a em sua maior fonte de renda.

Janaína atribui aos investimentos feitos nos colaboradores, em tecnologia da informação e em processos de trabalho a grande melhora nos resultados obtidos. “Quando investimos em pessoas estamos falando em seleção adequada, no treinamento e desenvolvimento dos líderes e dos colaboradores, e aí entra uma série de ações do RH para trazer ao nosso trabalho um diferencial. Essa modernidade, agilidade e ritmo muito mais acelerado e profissional, resultaram em
uma preocupação e cuidado muito maiores com os nossos clientes, que são os criadores e usuários de musica.”

Marcelo Baptista, coordenador de shows e eventos, há oito anos na instituição, diz que a nova filosofia de valorizar e defender a música, dá orgulho e lhe trouxe um prazer muito grande. “Particularmente, me identifico muito com a visão da empresa, e compreendo que a nossa missão é muito mais do que arrecadar e distribuir direitos autorais, é defender esse produto nobre do país. Isso me dá uma satisfação enorme”, conta. Ele começou como auxiliar de distribuição, onde permaneceu por dois anos, e galgou outros cargos até chegar a atual posição. Seu trabalho é coordenar as equipes que atendem os usuários (produtores de eventos e shows) nas 24 unidades espalhadas pelo Brasil. Baptista ressalta que esse novo modelo fez com que ele vestisse, de fato, a camisa da organização, assimilando melhor a missão.

Banda própria
No início do ano passado, com a criação da campanha O orgulho por defender a música , foi realizada uma pesquisa sobre música. E explica que a superintendente, ao solicitar a pesquisa, enfatizou a importância de conhecer o foco específico do trabalho. “Trabalhamos com música e é muito mais agradável e produtivo ter na cabeça e no coração dos nossos colaboradores que trabalhar com música em uma empresa que cobra direitos autorais é bem diferente de atuar em alguma companhia com fins lucrativos [NR: o Ecad é uma instituição sem fins lucrativos] . A pesquisa focou a relevância da música para o ser humano, o quanto que ela faz com que produzamos melhor, e a valorização da cultura nacional.”

De acordo com Janaína, esse levantamento fez com que tudo o que fosse implantado no Ecad estivesse (e esteja) ligado à música. As campanhas de endomarketing são todas movidas por conceitos musicais; as premiações são ingressos para shows e também ficou claro que uma empresa como essa não poderia existir sem um coral ou uma banda. Daí, surgiu mais uma oportunidade de conciliar o core business e integrar as pessoas: foi criada a banda Expresso 9610, composta por 13 colaboradores que não são músicos profissionais, mas que amam a música (veja mais no boxe). “Para trabalhar aqui, é preciso gostar muito de música. Percebemos que é bem mais produtivo trabalhar em um lugar em que se valoriza a música do que em um escritório de cobrança”, destaca Janaína.  Um reflexo dessa preocupação já aparece no processo de recrutamento e seleção. Como salienta a gerente, um dos pontos que mais contam é saber se as pessoas serão felizes e terão uma história de sucesso na instituição.

Muitos casos de sucesso profissional são frutos da avaliação inicial, quando já são estipulados planos de carreira baseados em job rotation, avaliação de desempenho e educação corporativa. Os colaboradores sabem exatamente onde estão e aonde poderão chegar. Essa mudança de cultura faz com que as pessoas trabalhem por muitos anos e em funções diferentes. Luciana Braga é um exemplo. Colaboradora há vinte anos e, hoje, analista do setor de música ao vivo, ela conta que estar no Ecad é um privilégio. “Adoro trabalhar aqui porque música é uma coisa de que sempre gostei. Comecei no setor de shows, passei pela auditoria e depois vim para cá, onde cuido de gravações de música ao vivo.”

A constatação do sucesso do modelo de gestão do Ecad é o aumento do cadastramento de novos usuários de música, o investimento em novas soluções tecnológicas que aprimoraram a arrecadação e a distribuição de direitos autorais e o trabalho constante de comunicação dirigido aos usuários de música, focado na conscientização sobre a importância do pagamento do direito autoral. O desempenho da instituição contra os usuários inadimplentes na esfera do judiciário também trouxe importantes contribuições para o alcance desses resultados, como os valores arrecadados em vitórias judiciais que chegaram a cerca de 76,2 milhões de reais em 2008. Outras ações relevantes foram a implantação do Ecad Tec Móvel, uma solução tecnológica que permite aos funcionários externos da área de arrecadação ter, na palma da mão, todas as ferramentas necessárias para agilizar o seu dia a dia.

Com essa ferramenta, o Ecad vem conseguindo 35% a mais de ganho de tempo nas atividades de gravação realizadas. Janaína ressalta que a instituição desenvolveu essa solução para trazer mais rapidez à sua comunicação com os funcionários que fazem trabalho de campo. “Isso porque, ao cadastrar um novo usuário, realizar um acordo de recuperação de débito, ou imprimir um boleto bancário no ato da visita, está contribuindo para aumentar a distribuição de direitos autorais para os titulares de música”, conclui Janaína.

Em sintonia. Também com a lei

A iniciativa não poderia estar mais alinhada à missão da empresa: responsáveis pela arrecadação e a distribuição de direitos autorais decorrentes da execução pública de músicas nacionais e estrangeiras, os funcionários do Ecad resolveram criar uma banda: a Expresso 9610. O nome foi sugerido pelos próprios componentes do grupo, numa associação à lei federal que rege os direitos autorais.

Com a proposta da criação da banda aprovada, o RH partiu em busca de talentos e escalou alguns de seus profissionais para os testes. A surpresa foi geral. “Sempre desejei ser cantora. Foi um sonho que se concretizou. Estou superfeliz em participar da banda”, afirma Helaine Canto, da área de TI do Ecad, uma das vocalistas.

Com a escolha dos músicos acertada e o nome escolhido, a área de marketing do Ecad criou a logomarca e a camiseta da banda, e é responsável pelos custos de aluguel do estúdio para os ensaios e por oferecer a estrutura necessária (instrumentos, som e iluminação) para os músicos.

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