Gestão

O engajamento. Com cara, cor e ritmo

de Luis Adonis Correia* em 13 de setembro de 2011
Getty Images
Conhecido por suas máscaras de gesso, colares de contas e bandas que circulam pelas ruas da cidade, o Mardi Gras é um das festas mais populares nos EUA e um bom exemplo de como gerar comprometimento

De todas as abordagens sobre engajamento, a que mais me chamou a atenção partiu das Bahamas, tendo como nome de batismo Festival in the Workplace. Trata-se de um novo caminho para a excelência pessoal e profissional. O conceito do FITW surgiu em 1997 com Roosevelt Finlayson, um consultor de negócios com base nas Bahamas. Roosevelt é designer de experiências transformadoras de festivais, um catalisador para mudanças pessoais e organizacionais. Foi o pioneiro no movimento de qualidade de serviços no Caribe durante os anos 1990. Ao pesquisar sobre um modelo local de excelência, ficava intrigado pela diferença entre o engajamento no espaço de trabalho e o engajamento nos festivais nacionais e celebrações comunitárias.

Roosevelt e seu principal colaborador, o arquiteto e designer Michael Diggiss, começaram um estudo para entender por que milhares de pessoas nas Bahamas – e também em Trinidad, Brasil e Nova Orleans – demonstravam um nível de engajamento significativamente mais alto na preparação dos festivais do que nos ambientes de trabalho. Esse gap chamava a atenção. As mesmas pessoas que se envolviam na preparação dos festivais, em que a maioria esmagadora não é paga, demonstravam níveis de engajamento bem mais altos (e que são mantidos durante muitos meses) do que quando em seus ambientes de trabalho (organizações formais), onde estavam sendo pagas para que se dedicassem e tivessem um melhor resultado. O estudo feito revelou que o gap analisado entre o engajamento nessas manifestações culturais e nas organizações, no dia a dia do trabalho, se deve aos seguintes fatores:

> Senso de propósito definido e claro.
> Realização de um trabalho que permite que cada um use seus dons e habilidades.
> Oportunidades que incorporam aprendizado, maestria e responsabilidades crescentes.
> Senso de identidade individual e grupal.
> Orgulho conectado à performance individual e do grupo.
> Liberdade de atuação.
> Olhos, ouvidos e coração para a qualidade (isto é, conhecer a “cara da qualidade”, saber como ela parece e soa, e sentir-se ótimo quando se alcança isso ou se verifica que outros do grupo conseguiram também).
> Prazos que não mudam. As datas dos festivais não se alteram.

Esses ingredientes estão presentes na experiência dos festivais, mas ausentes no espaço de trabalho. E assim começava o FITW, o processo de transformação que estimula pessoas a se tornarem mais criativas, mais produtivas e conectadas emocionalmente. O FITW baseia-se nas lições de festivais e manifestações de arte. Esse processo serve como um catalisador para o desenvolvimento de uma nova cultura organizacional que impulsiona o espírito criativo e a paixão pela excelência pessoal e organizacional. Numa cultura assim, pessoas experimentam alegria, significado e realização.

#Q#

Ele inclui eventos periódicos, com base no Junkanoo (Bahamas), Mardi Gras (Nova Orleans) ou numa festividade maior da comunidade. No entanto, não se deve limitar a organizar um evento baseado nesses festivais. O que importa é utilizar ou desenvolver uma festividade, já tradicional ou recém-criada pelo grupo, uma celebração que seja relevante para as pessoas envolvidas. Um dos fatores de sucesso é que, com os festivais, surgem oportunidades de engajamento, celebrando com atividades que permitem demonstrar dons, habilidades e paixão, além de estabelecer um senso de comunidade. Festivais podem envolver gestores, equipes, famílias e outros stakeholders, como fornecedores e clientes, quando apropriado. Os participantes se envolvem na criação de artefatos, alegorias, canto, dança, música, instrumentos, arranjos florais, comida etc. As atividades estão limitadas apenas pela imaginação e interesse dos participantes.

Ambiente mais acolhedor
A meta de criar um festival no ambiente de trabalho não é somente passar pela experiência de se divertir mais, muito embora Roosevelt acredite que pessoas devam aproveitar o trabalho diário e celebrar juntos muitas vezes ao longo do ano. O objetivo do FITW é facilitar a mudança para uma nova cultura que provê um ambiente mais acolhedor e fomenta o sentimento para que as pessoas trabalhem e cresçam. Em tal ambiente, alegria e realização estão no fluxo do trabalho e de experiências coletivas compartilhadas com colegas de trabalho, clientes, fornecedores e outros stakeholders. As ações do FITW procuram aumentar o nível de satisfação e engajamento, a criatividade, a inovação, a colaboração, o aprendizado pela experiência, a produtividade, a qualidade, a capacidade de conviver com ambiguidade e mudança, e visualização do engajamento no desenvolvimento estratégico.

O modelo do FITW desenvolvido por Roosevelt e Michael enfoca a relação entre transformação pessoal e organizacional, baseando-se nos insights dos festivais de arte, arte em geral, ciências sociais, incluindo construção social, antropologia e psicologia positivista. Eles integraram ao modelo novas ideias advindas do estudo de sistemas auto-organizados. O trabalho tem atraído colaboradores internacionais e grupos interdisciplinares, incluindo CEOs, antropólogos, economistas, especialistas em narrativas, inovação e liderança, destacando Peter Block e Harrison Owen (Open Space Technology).

Roosevelt e Michael estão concluindo o estudo sobre gap no engajamento. Enfocam atualmente o aprimoramento e ajuste na aplicação do FITW. Eles estabeleceram o FITW Institute para facilitar o desenvolvimento de estudos de caso e usar ações de pesquisa para aplicação do processo do FITW, de forma mais abrangente. Esse trabalho vem sendo compartilhado por muitos anos como parte de programas de MBA e doutorado em Barbados, Trinidad, México e Califórnia. A meta de longo prazo é desenvolver um processo globalmente relevante que possa ser contemplado por todas as culturas. Para tanto, eles já organizaram, com apoio de colaboradores locais e internacionais, quatro eventos, denominados Dialogues and Celebrations como forma de compartilhar o trabalho no desenvolvimento do FITW.

*Luis Adonis Correia é sócio-diretor da Tribo Capital

 

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