Carreira e Educação

O estilo de cada um

de Caroline Marino em 12 de dezembro de 2011
Adriano Vizoni
DRESS CODE FORMAL Michele, da UPS: os funcionários são nosso cartão de visita. Eles carregam a imagem e a reputação da empresa, por isso é necessário vestir-se de forma adequada e de acordo com as exigências

Meias marrons ou pretas. Sapatos alinhados e cinto na cor preta. Barba feita e cabelo cortado e penteado adequadamente. É assim que os entregadores da transportadora americana UPS devem se apresentar todos os dias no trabalho. Na filial brasileira, como em todos os escritórios dela no mundo, existe uma série de normas escritas, que variam conforme a categoria profissional, como explica Michele Cavalcante, gerente de RH da empresa. “Aqui, temos diferenciação somente entre funcionários administrativos e operacionais, que utilizam uniformes padronizados, como os entregadores, por exemplo”, explica.

Segundo a executiva, estes possuem um procedimento específico e passam por auditoria diária antes de saírem às ruas. “O coordenador de operações é responsável por verificar se cada entregador está com seu uniforme limpo e adequado às exigências da empresa. Isso tudo, explica, pois eles são literalmente a imagem da companhia. “Quando pensamos em uma empresa de entrega, pensamos em seus entregadores; eles estão em contato diário com todos os clientes e por esse motivo a apresentação precisa ser impecável”, ressalta. Os demais funcionários administrativos – independentemente do cargo – seguem o mesmo procedimento de vestimenta, porém com outras regras: nada de saias curtas e sandálias abertas para as mulheres, nem bermudas e camisetas para homens. E, claro, os homens devem estar devidamente barbeados. “Os funcionários são nosso cartão de visita. Eles carregam a imagem e a reputação da UPS, por isso é necessário vestir-se de forma adequada”, ressalta Michele.

Em algumas filiais da companhia nos EUA, por exemplo, as mulheres não podem utilizar sequer sapatos abertos, como os peep toes, pois as áreas administrativas estão no mesmo local das operacionais e existe, assim, risco de acidente se a funcionária tropeçar em alguma caixa ou algum material cair no pé. Dessa forma, nada mais natural do que pedir sapatos fechados. “Como no Brasil só há acesso às áreas operacionais, esse tipo de calçado foi liberado. Também podemos utilizar, aqui, blusas ou vestidos sem mangas, com aquelas mangas que vão até o ombro somente (exceção de regatas) devido ao calor”, conta.

Michele diz que nunca deixou de usar alguma peça que gosta por causa do procedimento da empresa. “Desde o meu primeiro dia de trabalho, há 13 anos, a companhia deixou muito claro o que poderia (ou não) usar e me explicou os motivos, com os quais concordo e compreendo. Utilizar sandália, por exemplo, já está vinculado a um dia fora do expediente, então acredito que nem me sentiria à vontade trabalhando de sandálias, além de que a roupa social me faz sentir mais confiante, mais profissional”, afirma.

De acordo com o ambiente

Mas nem todas as empresas são cheias de regras e formalidades. Cada ambiente corporativo demanda uma roupa diferente – há os mais tradicionais como o financeiro e os mais liberais, como o de comunicação. De acordo com a consultora de imagem Sabina Donadelli, o estilo da pessoa e o ambiente de trabalho devem se adequar. “Uma pessoa criativa pode usar jeans, com lenço colorido como acessório num ambiente de comunicação, como numa agência de publicidade; mas uma advogada, por exemplo, não poderia usar esse look no fórum, optando por um terninho ou saia e blusa com bijuteria discreta como acessório. O mesmo acontece com as profissionais do mercado financeiro”, afirma. A também consultora de imagem Cristina Zanetti, do site Oficina de Estilo, concorda: “Cada ambiente tem seu estilo. O que as pessoas precisam fazer é saber o que usar (ou não) em seu ambiente de trabalho”, ressalta. Para ela, não se trata de estar na moda e, sim, de ter alguns cuidados na hora de escolher uma roupa para trabalhar. “O que deve prevalecer sempre é o bom-senso”, completa.

Na agência de publicidade Talent, por exemplo, é possível encontrar pessoas com tênis all star e camisetas mais descoladas. Isso porque se trata de um ambiente mais informal, que costuma atrair profissionais com um perfil mais despojado e que se vestem com peças mais modernas e diferentes, como explica a diretora de relações com mercado da agência. Luiza Porto. “O interessante é que mesmo que o cliente tenha um ambiente mais formal, ele espera que os profissionais de criação se vistam menos formalmente. Faz parte do ´pacote criativo´”, brinca Luiza.

A redatora Lígia Mendes, de 33 anos, e na agência há um ano e meio, que o diga. Avessa a saltos altos e meia calça e adepta ao conforto, ela conta que só usa peças mais arrumadas em casamentos ou festas. Por isso, para ela, é ótimo trabalhar em um ambiente menos formal. “Isso facilita muito e evita que eu tenha dois guarda-roupas: um para o trabalho e outro para o dia a dia”, brinca. Além disso, ela ressalta que trabalhar em um lugar em que todo dia é casual day faz as pessoas ficarem mais à vontade e o ambiente mais leve. “Não precisa inventar muito. Uma calça jeans, camiseta e tênis já formam o look perfeito”, afirma. Quando ela quer dar uma cara mais arrumada ao básico, investe em acessórios como bolsas, lenços e sapatos diferentes. 

Gustavo Morita
LIBERDADE PARA SE VESTIR Bedulatto, publicitário: na área em que trabalho, você se diferencia por atitudes e pela forma que se expõe. Quem contrataria um diretor de arte que se veste como um banqueiro

O publicitário Rafael Braga Bedulatto, de 27 anos, que já deu aulas de informática e teve de se adaptar ao padrão mais sério da empresa, conta que hoje abusa das camisetas com estampas e do all star. “Lembro que quando comecei a dar aulas, os donos da escola pediram para eu me vestir de maneira mais séria, para que os alunos me respeitassem”, diz. Hoje em uma agência de publicidade, Bedulatto tem total liberdade na hora de se vestir. Aliás, ele acredita que a roupa é uma forma de expressão. “Na área em que trabalho, você se diferencia por ideias e atitudes e pela forma que se expõe. Quem contrataria um diretor de arte que se veste como um banqueiro?”, questiona. Para ele, a liberdade na forma de se vestir é uma maneira de as pessoas se libertarem de moldes e de pensamentos em grupo.

Chances de crescer

Isso mostra que a máxima de que “cada um pode usar o que quiser” não é tão real como ressalta a sócia-diretora da Mariaca, empresa de treinamento e recrutamento de executivos, Fernanda Campos. “Na área corporativa, as roupas falam pela pessoa, inclusive, ou principalmente, na hora de avançar na carreira. E elas têm de falar bem. Por isso, é importante conhecer o seu tipo físico e o código de vestuário da empresa e saber fazer a mistura correta”, diz. Segundo ela, quando o profissional conhece o dress code da companhia pode aumentar as suas chances de promoção. “Claro que promoção está mais ligada às competências, ao potencial e ao desempenho no trabalho do que ao figurino, mas a maneira de se vestir é parte importante, principalmente, quando se ocupa um cargo estratégico. “Neste caso, a pessoa tem de lembrar que está representando a companhia, portanto é a imagem e a reputação da empresa que está em jogo”, ressalta.

Quando se fala em promoção, Michele, da UPS, garante que a decisão se baseia primeiramente na experiência, perfil, competências e habilidades. Mas o modo de se vestir do funcionário é levado, sim, em conta. “Quando a promoção é para um cargo de supervisão ou gerência, o procedimento de vestimenta é reforçado, destacando-se que a partir deste momento o funcionário será visto como exemplo pelos funcionários de seu grupo e demais grupos da empresa e por esse motivo deve ser excepcional quando do seguimento do procedimento.”

Segundo a consultora em etiqueta e marketing pessoal Ligia Marques, a imagem transmite a atitude do profissional no dia a dia.  “Não há traje neutro. Você sempre estará transmitindo algo a seu respeito pelo modo como se veste e se apresenta ao mundo”, ressalta. Segundo ela, são códigos lidos pelas pessoas que o identificarão como alguém “igual” com quem querem (ou não) manter contato. “As roupas que usamos são essenciais para passar a ideia de um profissional de acordo com seu cargo e ocupação.” Embora ela reconheça que há mercados mais e menos formais, onde é permitido ampliar os limites, é essencial ter em mente que roupa social, em especial a de balada, é uma coisa; roupa profissional é outra. “Independentemente do lugar onde se trabalha, o profissional deve procurar passar uma imagem positiva, de competência e poder”, afirma. Ligia recomenda o uso de roupas discretas, mais neutra em termos de cores e modismos.

Manual de etiqueta

Com a importância da imagem no mundo corporativo e para evitar trajes inadequados, aconselha-se elaborar um manual sobre o assunto para que os funcionários entendam os valores e conceitos da organização onde trabalham e consigam traduzir a imagem da empresa na maneira de se vestir. “Desde cargos de níveis mais baixos até os executivos, a apresentação pessoal pode ser fator determinante para se transmitir uma imagem positiva, tanto do próprio profissional quanto da empresa que está sendo representada”, afirma Fernanda, da Mariaca.

Para ela, cabe ao RH introduzir o assunto com tranquilidade e de forma bem suave, abordando ideias para valorizar cada tipo físico. “Nesse aspecto podem entrar dicas de como o funcionário pode trazer o seu melhor, dando opções de acessórios, vestimenta e, até, maquiagem”, aconselha. “Mais do que impor regras, o importante é mostrar ao funcionário de forma delicada como valorizar sua imagem pessoal e profissional.”

Falta de informação
Quem compartilha do mesmo pensamento de Fernanda é a consultora de imagem Sabina Donadelli. Ela observa que ter um manual de estilo nas companhias pode ajudar, principalmente nas empresas que vendem serviço. “Não é consciente que as pessoas usam roupas inadequadas no trabalho. Muitas não têm informação mesmo, por isso ter um manual que informe a maneira certa de vestir-se ajuda muito”, diz. “Às vezes, a pessoa, na melhor das hipóteses, pode passar uma ideia aquém ou além do que se exige para o cargo”, completa Sabina.
Assim, para saber qual é a aparência mais adequada é preciso, em primeiro lugar, descobrir como é o ambiente de trabalho em que vai trabalhar, pois é ele que decide o que é mais apropriado. “Dessa maneira, o profissional deverá resistir ao padrão habitual de suas escolhas e apresentar-se em um traje compatível não apenas com a empresa, mas também com as pessoas com quem se reunirá e com a função a ser desempenhada”, ressalta Fernanda.

Em linhas gerais, na visão da personal stylist Cris Vieira,  a roupa ideal é aquela que transmite as mensagens adequadas à função que o profissional exerce: às vezes de ser criativo, às vezes de passar credibilidade e confiabilidade. “Cada área profissional precisa passar uma mensagem diferente: num ambiente mais formal, o look deve ser comportado e discreto, repassando a mensagem de respeito, confiança e credibilidade. Porém, numa área onde a criatividade é ferramenta essencial para o desenvolvimento de um bom trabalho, como a de moda e publicidade, o traje deve ser mais despojado e criativo”, afirma.

Mas há peças, segundo especialistas, que devem ser abolidas de qualquer ambiente profissional, como transparências e decotes para as mulheres; e camisetas de propaganda ou time de futebol e tênis de corrida, para os homens. “É essencial respeitar as regras da empresa e estudar seu tipo físico de modo que agregue valor à sua imagem, sempre. Seu estilo fica para as horas de lazer”, aconselha Cris. Fica claro que saber vestir-se adequadamente para o trabalho vai muito além de apenas pensar em gostos pessoais e em estar em dia com última tendência da moda. Independentemente do perfil da empresa, roupa social, em especial a de balada, é uma coisa; roupa profissional é outra. O bom-senso deve prevalecer. Sempre.

 

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