Gestão

O homem e suas circunstâncias

de Dorival Donadão em 9 de maio de 2014
Dorival Donadão
Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano

Walter White é um personagem corriqueiro, um lugar-comum de cidadão honesto, dedicado e ordeiro. Professor de química de uma escola de ensino médio de Albuquerque, no Novo México, nos EUA, Walt descobre repentinamente que possui um câncer terminal. E a coisa não para por aí: como se não bastasse a triste notícia, ele percebe que tem de dar conta dos altos custos do tratamento da doença.

Esse começo de roteiro, aliado ao fato de Walt ter um filho adolescente que teve paralisia cerebral na infância, dá o tom de uma série de TV, vencedora do mais recente prêmio Globo de Ouro. A série é, também, muito interessante para extrair lições conectadas ao desafio de gerenciar e entender o comportamento das pessoas em situações de extrema pressão. Particularmente para os líderes, ela provoca a inquietação de como lidar com as mutações repentinas de estilo e do humor das pessoas no ambiente de trabalho.

Breaking Bad é uma expressão que pode ser traduzida por “ficando pior” ou “chutando o balde”, na gíria, e que se aplica ao personagem Walter White (nome curiosamente próximo do chamado “poeta da América”, Walt Whitman, morto em 1892 e que além de acompanhar o personagem principal é a chave para o desfecho das cinco temporadas).

Quebrando a regularidade dos seus padrões de conduta, Walt (o personagem), num determinado momento da série, se transfigura e entra num jogo perigoso de traficantes da pesada, montando um laboratório para “cozinhar” a droga e, assim, garantir renda e futuro para sua família. Sua vida, é claro, dá algumas cambalhotas e, a cada contexto de mudança e aumento de pressão, o personagem faz jus ao título da série (“ficando pior” e “chutando o balde”).

“O homem é o homem e suas circunstâncias”, já dizia Ortega y Gasset. É sempre bom lembrar que a assim chamada normalidade de conduta é uma fotografia instantânea, que pode ser alterada ao sabor das circunstâncias, gerando uma nova conduta, ditada por um novo (e inesperado) caráter.

As mutações de perfil, crenças e comportamentos são, muitas vezes, provocadas por situações inusitadas, repentinas e carregadas de estresse. E não há nenhuma “receita de bolo” que ajude qualquer pessoa a lidar com as consequências dessas mutações. Fazendo um paralelo com o mundo corporativo, é uma questão de sensibilidade e de muita habilidade do líder ou gestor para a compreensão do contexto e a ação decorrente.

#L# O fundamental para a ação do líder é entender que o caráter (“conjunto de traços psicológicos e morais que caracterizam um indivíduo”, segundo o Houaiss) não tem um “modelito” possível. Ao contrário, o ser humano é imensamente complexo e desconhecido, até que apareçam os contextos de extrema pressão.

Nesses momentos, pode emergir um “Walter White” inesperado, fora de todos os padrões de regularidade de um cidadão comum… A inquietação final pode ser resumida numa pergunta: quantos Walter Whites existirão por aí, nos ambientes empresariais?

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