O que sustenta

de Alessandra Mota em 18 de abril de 2011

Na ordem econômica mundial atual, qualidade dos produtos, inovação e bom relacionamento com o consumidor deixaram de garantir a sobrevivência de uma organização. É preciso ir além, e mergulhar em uma nova (e cada vez mais valorizada) esfera: a sustentabilidade. Para os especialistas da área, o desenvolvimento sustentável representa a única saída para conciliar produção de riqueza e bem-estar para a sociedade, sem comprometer a sobrevivência do planeta e da espécie humana.

Fernando Almeida é consultor em sustentabilidade e foi presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e compartilha do desafio da instituição: criar condições no meio empresarial e nos demais segmentos da sociedade para que haja uma relação harmoniosa entre as esferas econômica, social e ambiental.

Em entrevista à MELHOR, o consultor falou sobre a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e sociedade como única solução para o desenvolvimento sustentável do país, e para que este atinja as metas mundiais de preservação do planeta. E as empresas estão cada vez mais atentas aos benefícios de uma gestão sustentável, que pode ajudá-las a ocupar uma situação privilegiada em relação a seus concorrentes, posicionando-se como uma organização considerada ambiental e socialmente consciente.

MELHOR – O desenvolvimento econômico do Brasil segue em ritmo de crescimento no ranking das potências mundiais e deve ser, em breve, a quinta potência mundial. Nesse sentido, o senhor acredita que o crescimento do país pode se ajustar às necessidades da nova era da sustentabilidade?
Fernando Almeida Se o Brasil não tiver uma política efetiva na redução de carbono, se não houver extinção do desmatamento, uma nova política para criação de gado, emprego verde e cautela na extração do pré-sal, o país não chegará à quinta potência mundial. Isso porque sustentabilidade significa sobrevivência. Esperamos que este novo governo se adeque às necessidades.

O que representa, para a sociedade, a sustentabilidade?
É preciso romper o estigma do conceito elitizado que a sustentabilidade carrega. Para a sociedade, sustentabilidade não é algo popularizado. Temos o avanço do aquecimento global, e este quadro precisa mudar. Se a sociedade não se engajar, não vamos cumprir a meta de redução do carbono em 50% até 2050. E se isso não acontecer, teremos aumento de 2 graus, impacto que atingirá significativamente a sociedade.

E o engajamento das empresas em práticas sustentáveis, qual é a importância desse investimento?
Não há solução se não houver alteração do mundo tripolar que engloba governo, sociedade e empresas. A empresa tem papel fundamental quando o planejamento do projeto prevê resultados a longo prazo. No Brasil, temos empresas como Alcoa e Dupont que elaboram projetos para um prazo de 150 anos. E esses projetos funcionam quando se transformam em políticas públicas. As empresas que conquistam a liderança de investimento em sustentabilidade têm mais recursos do que muitos países.

Grande parte das companhias que adotam a estratégia de investimento sustentável representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Que tipo de retorno essas empresas conquistam?
Não existe empresa sustentável, o que existe é empresa que contribui na sociedade com o desenvolvimento sustentável. A empresa que se engaja nessa política conquista redução de custos operacionais e riscos, tem maior oportunidade de investimentos e a fidelização de clientes. Além disso, a empresa conquista aumento da vida útil de produtos, economia de água e energia, como no caso de projetos em ecoeficiência.

Atualmente, os gestores de recursos humanos estão preparados para a adoção de programas de sustentabilidade corporativa que correspondam às demandas de superação de desafios da nova era?
Depende da faixa etária. Os executivos na faixa dos 50 anos acreditam que o “discurso” de sustentabilidade é uma “filosofia”, não gera benefícios aos negócios. Já a faixa etária dos 20 anos está chegando ao mercado bem preparada para a gestão de desenvolvimento sustentável. A Shell, por exemplo, não contrata trainee se o candidato não estiver preparado às práticas proativas que contribuem com desenvolvimento de negócios sustentáveis.

Que tipo de iniciativa as empresas devem adotar para contratar gestores capacitados para implantar programas de sustentabilidade?
As empresas devem cultivar programas consolidados que consistem em institucionalizar essa abordagem, pois, esses profissionais normalmente são atraídos pelo senso de urgência. E essa política tem de ser revista.

Quais são as diferenças principais entre ações de responsabilidade social e programas sustentáveis?
Não acredito em responsabilidade social. Não acredito que podemos reverter o quadro de miséria com filantropia. Essa prática que foca apenas o social não é perene e só sobrevive se receber investimentos. O caminho para reverter o quadro é a sustentabilidade.

Quais os setores que ainda não aderiram à política de sustentabilidade?
O setor financeiro entrou recentemente e tem conquistado grandes avanços. Já a construção civil ainda tem muito que melhorar. O agronegócio que usa agrotóxico, a pecuária que gera desmatamento e ocupa reservas indígenas…

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