Gestão

Ops! foi mal

de Eliana Dutra em 12 de setembro de 2014
Crédito: Shutterstock
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Diz a sabedoria popular que errar é humano. Contudo, muitos líderes consideram, ainda nos dias de hoje, que isso não se enquadra para a posição que eles ocupam, já que devem estar acima de qualquer falha humana para que a equipe mantenha o respeito por eles. Mas, e quando cometem um erro e não assumem, quais as consequências disso? Na verdade, em pleno século 21, certas crenças estão indo por água abaixo e os paradigmas nem precisam ser quebrados, estão escorrendo por si só.

O líder que tem esse tipo de postura acredita na antiga máxima: “chefes não erram, se enganam”. Essa cultura é uma espécie de cegueira que é natural em crianças de sete anos que precisam acreditar que os pais são heróis para se sentirem seguras, mas totalmente inadequada no mundo organizacional de hoje. Essa cultura foi disseminada nas décadas de 1960 e 1970, quando a crença, conforme a teoria de administração da época, era de que as pessoas só trabalham se obrigadas. Mas considerá-la nos dias de hoje se torna perigoso porque negar a existência do erro pode acarretar outros ainda piores.

Já na década de 1980, marcada por um elevado número de demissões, os famosos downsizes, os CEOs passaram a ser vistos mais como seres humanos e não “deuses”. Com a “descoberta”, na década de 1990, de que grandes líderes estavam envolvidos em falcatruas, corrupção, entre outros deslizes morais e éticos, como por exemplo, o Juiz Nicolau, Cacciola (o banqueiro) e tantos outros empresários e executivos envolvidos em transações duvidosas, levou a sociedade a demiti-los definitivamente da categoria de “deuses”.

Outra causa da quebra desse mito do líder infalível foi a chegada da geração Y. Irreverentes, com pouco respeito pela hierarquia, eles tratam a liderança de maneira simples, como uma posição acessível a todos. Essa mudança de comportamento está ligada às transformações de valores da sociedade; hoje, os jovens têm muito mais acesso às notícias, sendo naturalmente mais argumentadores e bem informados. Logo, a facilidade de antes de alguém se manter em uma posição intocável ou inquestionável, praticamente, morreu. Nada mais é absoluto ou sagrado. Não há mais a “vaca sagrada”, aliás, todas foram para o brejo…

No entanto, ainda há chefes que insistem em se impor ou agir com as crenças do passado. Eles têm uma enorme dificuldade de admitir suas próprias fraquezas e limites, provavelmente por insegurança. Ficam se agarrando à imagem de perfeição e não percebem que assim passam a ser figuras quase risíveis. Como no conto de Andersen, a Roupa nova do rei: mais cedo ou mais tarde, todos descobrem que o rei está nu.

A insegurança os faz justificar-se, ficam terceirizando a responsabilidade, dizem que o problema é a equipe que não colabora, é o mercado, é a crise, até o tal do apagão aparece novamente – tudo serve de desculpa, porque têm necessidade de estar sempre certos e dificuldade de ver os erros por meio de uma perspectiva construtiva.

Quem não se lembra de um executivo que tenha tomado uma decisão errada e não só não assumiu a responsabilidade como também não pediu desculpas pelo ocorrido para sua equipe e demais agentes envolvidos no processo? Sem perceber que isso o afasta da solidariedade humana, também não vê que sua atitude, percebida como uma tentativa de se posicionar acima do bem e do mal, é a cegueira da arrogância.

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Schmidt / Crédito: Divulgação
Como foi o caso do Schimidt, ex-CEO do Google: pouca ação para desafiar o Facebook / Crédito: Divulgação

Nos dias de hoje, com tanta mudança e tanta incerteza, mais do que nunca é importante ter em mente que a liderança tem sua base na confiança. Quando os colaboradores percebem a arrogância, eles se perguntam: “Mas por quê? Céus! Por que colocaram alguém assim numa posição tão importante?” Simples, muito simples. Ele foi criado em um outro milênio, quando o chefe tinha de ser quase um deus. Agora, se o líder se conscientizar, se perceber que as equipes hoje querem como líder um ser humano, este poderá ser aquele que erra, que nem sempre prevê tudo que vai acontecer e cujo discurso nem sempre pratica, mas que busca se aperfeiçoar, vai melhorar a relação de confiança, beneficiando assim o clima da organização.

Para o líder entender o poder e os limites do reconhecimento do erro, do gesto de desculpas, é crucial que nós, como coaches, o ajudemos a evitar uma fuga inútil da responsabilidade e um pedido de desculpas, feito na hora certa, tem mais chances de consertar uma situação ruim do que agravá-la. Logo, o jeito é engolir o ego, reconhecer o erro de forma genuína, usando um discurso simples e direto, mostrar o aprendizado, informar como utilizará os erros como ensinamento para melhorar as táticas e processos de trabalho.

Até porque um bom pedido de desculpas pode transformar a imagem negativa em uma vantagem pessoal e também organizacional, já que ele fala não só por suas atitudes, mas também pela instituição que representa. Isso tudo o tornará mais humano aos olhos dos colaboradores, mantendo assim uma relação de confiança. Como foi o caso do ex-CEO do Google, Eric Schmidt, que afirmou que ele e outros gestores não fizeram o suficiente para desafiar o Facebook quando liderou a empresa.

Quando o líder reconhece seus erros, dá o exemplo para sua equipe, que também para de esconder os seus, transformando todos os momentos de crise em oportunidades de aprendizado; porém, para isso, são necessárias duas qualidades importantes: coragem e humildade para escutar o que o outro tem a dizer. Essas são características do líder de valor que não só reconhece seus erros e pede desculpas como também assume a responsabilidade pelas da sua equipe e repassa os créditos do sucesso.

Enfim, você nunca conseguirá ser um verdadeiro líder se não abraçar seus próprios erros e os da sua equipe. Ao admiti-los, você será capaz de tomar atitudes diferentes em uma situação futura e também de orientar seus colaboradores através do processo do que você aprendeu. Assim, é possível elevar a liderança a um novo patamar.

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