Carreira e Educação

Para tirar de letra

de Jacqueline Sobral em 8 de maio de 2013

Com a proximidade das Olimpíadas e da Copa no Brasil, é grande o número de profissionais que estão “correndo atrás do tempo perdido” em busca da fluência na língua inglesa, e também são muitas as empresas que querem ajudar nesse aprendizado, seja com cursos in company ou com parcerias que deem desconto em aulas de inglês para seus funcionários. Nessas horas, todo mundo quer uma “fórmula mágica”. No entanto, quem entende do assunto explica que para dominar o idioma do Tio Sam ou da terra da duquesa Kate Middleton só há um roteiro a seguir: o da dedicação e o da prática constante. “Não existem milagres. O grande desafio das escolas é não ceder à tendência de mercado que tem expectativa de resultados rápidos. O senso de imediatismo trazido pela internet não pode ser aplicado a toda e qualquer situação”, alerta Lígia Crispino, sócia-diretora da Companhia de Idiomas.

Ou seja, o primeiro passo para quem quer ser fluente em alguma língua é manter a calma e se preparar para um investimento de tempo a médio e a longo prazo. “As pessoas precisam entender que aprender um idioma é uma habilidade que se adquire, e não um simples conhecimento. Mal comparando, se até em relação à nossa língua materna ficamos mais de um ano apenas ouvindo e quase dois anos para começarmos a nos comunicar, o que podemos dizer de uma língua estrangeira?”, reflete Vera Laurenti, responsável pelo departamento pedagógico da Fisk. “A aprendizagem varia bastante de pessoa para pessoa, não só pelo desenvolvimento cognitivo, mas também pela determinação e empenho.” Além da dedicação do aluno, o método utilizado no curso é fator crítico de sucesso, dizem os especialistas. “O melhor é aquele que conjuga atividades que estimulam não apenas os sentidos auditivos e visuais, mas que também mexam com as linguagens oral e corporal do aluno, pois cada pessoa tem uma facilidade maior de aprendizado ao receber um determinado tipo de estímulo”, avalia Patrícia Mckay, diretora pedagógica do Cel-Lep.

Ainda sobre a técnica escolhida, Camilo Carvalho, diretor de marketing da Aprenda Idiomas, resume: “Todo e qualquer formato de ensino pode ser eficaz, desde que o aluno se dedique de corpo e alma aos estudos. Como esse é um fator cultural, e ao mesmo tempo individual, sempre teremos alunos que se adequarão ao formato de aulas a distância e outros que, por questão de disciplina, necessitam do acompanhamento presencial.”

Outra questão importante é a definição e a clareza por parte do aluno de seus objetivos. Ele quer ter um conhecimento básico para “se virar” em uma viagem? Precisa saber o suficiente para fazer uma apresentação em inglês no trabalho? Ou ele quer conquistar mesmo a fluência no idioma? “É importante que ele saiba o que precisa aprender, mas não adianta fazer um curso para dominar um vocabulário específico de uma determinada área, se não conhece a estrutura gramatical do idioma”, aponta Ricardo Hilgenberg, diretor da Speexx no Brasil. “Digamos que uma companhia aérea quer treinar seus agentes de aeroportos. Não adianta ensinar apenas o vocabulário que ele usará nesse cenário, pois se o turista fizer qualquer pergunta fora do script, o agente não saberá o que fazer. Você estará criando apenas um robô que fala inglês.”

Para Patrícia, o importante é a pessoa começar o mais cedo possível a “se aventurar” no novo idioma. “Tem de interagir desde o início em inglês. O aluno não tem de entender todo o conteúdo apresentado em sala de aula ou dito durante uma conversa com alguém que esteja falando a língua inglesa. O que ele deve é entender o suficiente para fazer o que precisa. O objetivo precisa ser claro, é o que vai determinar o seu estudo. Fluência é algo muito relativo. Se não entendo de finanças, não vou ser fluente em inglês nesse tema.” Outro ponto que contribui para o melhor aprendizado é vencer alguns mitos que existem. MELHOR ouviu representantes de escolas de idioma sobre esses entraves que rondam o ensino do inglês.

Veja os principais:

1) Existe idade certa para aprender inglês. Quem não aprende na infância terá muita dificuldade de fazê-lo na fase adulta.
Falso. Não existe uma idade ideal para o aprendizado de uma língua estrangeira. Claro que alguns vão apresentar mais habilidade e facilidade que outros, mas o que vai ser determinante é a dedicação. “Temos alunos que iniciaram seus estudos após os 40 anos e têm ótima fluência, diferente do que muitos acreditam, que somente os jovens são mais capazes”, exemplifica o diretor operacional da escola Brasas, Alexander Vieira.

2) Quantas horas de curso são necessárias para aprender inglês?
Depende. A meta do aluno e o conhecimento que ele já tem da língua, assim como sua facilidade ou não de aprender um idioma, são determinantes para responder a essa questão. Vera, da Fisk, afirma que, em média, para uma pessoa que deseja obter conhecimentos básicos de inglês 100 horas de aula podem ser suficientes. Já Lígia, da Companhia de Idiomas, cita uma pesquisa da USP, segundo a qual um curso de inglês precisa ter no mínimo 600 horas para que o participante chegue a um nível avançado de fluência. Agora, tudo vai depender da dedicação do aluno dentro e fora da sala de aula.

3) Para aprender inglês, nada melhor do que traduzir e ter sempre como referência a língua portuguesa.
Falso. Ao “pé da letra”, a frase I have butterflies in my stomach significa “tenho borboletas no meu estômago”. No entanto, a expressão em inglês é sinônimo da nossa “estou com frio na barriga”, utilizada em momentos de tensão e ansiedade. “É um problema muito sério esse, pois o inglês não tem a mesma estrutura que o português, e tentar achar sempre uma correlação é muito cansativo. As expressões idiomáticas são diferentes, as expressões verbais também, não existe na língua portuguesa nada parecido com o present perfect, por exemplo”, comenta Patrícia Mckay.

4) O inglês é uma “língua fácil”.
Sim e não. “A grande diferença para o inglês são os tempos verbais, o tempo é determinado por verbos auxiliares, o verbo principal não sofre alteração. O cérebro precisa criar novos parâmetros e padrões de comunicação. Depois que as estruturas são automatizadas, o aluno percebe como é muito mais fácil que o português. Não existe acentuação em inglês, nem crase, nem variação de gênero (feminino e masculino) por exemplo”, explica Lígia, da Companhia de Idiomas. Apesar de concordar que as conjugações verbais da língua inglesa são mais fáceis, Vera, da Fisk, por sua vez, diz que é difícil fazer esse tipo de julgamento. “Não podemos classificar uma língua em fácil ou difícil. De um modo geral, alunos tendem a perceber o espanhol como uma língua mais fácil pela proximidade com o português.”

5) A metodologia a distância funciona para o aprendizado de um idioma.
Verdadeiro. Alguns especialistas afirmam que as aulas presenciais são fundamentais e que o ensino a distância pode ser um excelente complemento, enquanto outros defendem que as ferramentas de EAD são, sozinhas, eficientes para o aprendizado. Como o importante é a dedicação e o treino, de preferência a partir de fontes diferentes, o uso de recursos multimídia, assim como aulas presenciais e um bom papo informal são bem-vindos. 

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