Gestão

Práticas com significado

de em 18 de setembro de 2012
Adriano Vizoni
Ednalva, da SAS: evento no início do ano para comemorar e criar boas energias

De repente, no meio da tarde, um sino toca freneticamente. Ao contrário do que se possa imaginar, a reação de quem está ao redor do funcionário que badala sem parar é de alegria, de festa. O sino é o sinal de alerta para o fechamento de um grande negócio na SAS Institute Brasil, empresa da área de tecnologia da informação. “Poderíamos recompensar financeiramente, com um bônus, mas queremos mais que isso: queremos motivar”, diz Ednalva Costa Vasconcelos, diretora de finanças e RH – Cone Sul da companhia. Diferentemente de outras empresas que investem apenas nas festas de fim de ano, a SAS realiza um encontro no começo do ano, justamente para rever o que aconteceu de bom e de não tão bom e, mais do que isso, criar uma energia produtiva e positiva para o ano que se inicia. “Não levamos ninguém para ficar trancado em reuniões intermináveis. Fazemos só as indispensáveis. No restante do tempo, queremos que os funcionários interajam de forma espontânea, na piscina e em festas”, conta Ednalva.

Por ações como essas, a SAS figura, neste ano, como destaque na categoria Celebração, na lista das melhores práticas feitas com exclusividade para a revista MELHOR RH pelo Great Place to Work (GPTW) a partir do ranking das 100 melhores empresas para trabalhar, organizada pelo instituto em parceria com a revista Época. Neste ano, são 14 companhias que se destacaram em 22 práticas, estando incluídas, também, as cinco dimensões do GPTW (credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho e camaradagem). “A cada ano, a lista traz exemplos de empresas que mostram ser possível fazer um trabalho relevante em relação às pessoas no ambiente de trabalho. Investir em pessoas é, ou deveria ser, uma ação mais que estratégica, fundamental para a competitividade de uma organização”, diz Gumae Carvalho, editor da revista MELHOR RH.

José Tolovi Jr., chairman of the board do GPTW e fundador da organização no Brasil, reforça que a vanguarda da gestão empresarial está em um modelo que tem o investimento em pessoas como parte importante da estratégia do negócio. “Vivemos a Era do Significado, na qual alinhar questões éticas com a atuação da empresa e do próprio funcionário não é uma utopia; é real e lucrativo”, conta. Nesse sentido, ele cita o Google (destaque nas categorias Benefícios, Recrutamente e Seleção, Hospitalidade e Melhor RH de Grandes e Múltis). A empresa, segundo ele, sabe gerir com maestria os talentos inovadores da Geração Y. “Costumo salientar que não se trata de mais uma geração; falamos de indivíduos que querem escolher, que não se submetem a convenções corporativas e hierarquias vazias de significado. Nesse contexto, o Google sabe reter seus profissionais, criando diferenciais competitivos alinhados a valores sólidos. Os profissionais da atualidade querem fazer algo que colabore com a sociedade; que gere transformação”, afirma Tolovi.

Na análise de Ruy Shiozawa, CEO do GPTW Brasil, na pesquisa para elencar as 100 melhores empresas para trabalhar deste ano, das nove práticas culturais analisadas, foi possível perceber que as empresas estão sofisticando cada vez mais o processo de contratação e a forma de receber, além de cuidarem mais dos funcionários, mostrando preocupação e respondendo criativamente à necessidade das pessoas de equilibrar trabalho e vida pessoal. “Esse é o caso do Google, empresa que possui um processo longo e bem elaborado para contratar e receber. Essa é uma companhia que sabe discutir valores e propósitos, que são alinhados na construção do significado valorizado pelos profissionais da Geração Y”, afirma Shiozawa.

E por falar em jovens, um dos destaques da lista de MELHOR RH é o Mc Donald´´s que, pela quarta vez seguida, lidera em práticas para esses profissionais, que compõem 90% do quadro de funcionários no Brasil. E qual o segredo para atrair e reter esse pessoal? “O primeiro passo é saber respeitar as características desses novos talentos”, explica a diretora de RH Ana Apolaro. Segundo ela, é preciso contar com uma proposta de trabalho diferenciada e mais dinâmica para esse público, que valoriza a transparência e o diálogo aberto. “Eles querem ser ouvidos, desafiados e gostam de participar de todo o processo”, ressalta. Dentre as ações que a empresa desenvolve estão desde um amplo programa de atração e retenção, que conta com projetos de incentivo interno, a competições e jogos, passando por treinamentos, estruturação de um plano de carreira bem definido, e o oferecimento de um programa de job rotation, pelo qual o jovem pode atuar nas 33 funções existentes na empresa.

Orgulho e confiança
O que caracteriza um excelente lugar para trabalhar e qual a relação da gestão de pessoas nesse conceito? Os melhores ambientes para trabalhar são construídos a partir das relações cotidianas que os funcionários vivenciam. “Eles [os colaboradores] acreditam que trabalham para uma excelente empresa quando, consistentemente, confiam nas pessoas para as quais trabalham; se orgulham por fazer o que fazem; gostam das pessoas com as quais trabalham”, diz Shiozawa. Assim, confiança é o princípio que define os excelentes lugares para trabalhar. Criada a partir da credibilidade da gerência, do respeito com que os funcionários se sentem tratados, e da extensão em que eles esperam ser tratados de maneira imparcial. “O grau de orgulho e os níveis de uma conexão autêntica e de camaradagem que os funcionários sentem entre si são componentes adicionais essenciais”, acrescenta.

Tolovi vai além e aproxima essas observações já ao processo de seleção. “Se trouxermos para nossa organização pessoas que tenham apenas as competências e características profissionais necessárias para a função – sem nos preocuparmos com valores, interesses ou características pessoais – podemos criar um problema para a equipe e para o profissional contratado. Sabemos que as empresas estão cada vez mais contratando por atitudes e menos por competências técnicas. A manutenção de uma cultura consistente é fundamental para o trabalho colaborativo, que é de suma importância para o desempenho dos negócios”, explica.  Assim, se as empresas buscam o funcionário mais adequado à sua cultura, os profissionais também buscam ambientes corporativos alinhados a seus valores. Esses profissionais, diz Tolovi, querem saber mais como são as empresas e o que podem encontrar em um ambiente que pode ser parte relevante de suas vidas. “A Era do Significado também diz respeito ao alinhamento ético das organizações”, conta. “Cabe ressaltar, inclusive, que como a ética não tem fronteiras, ou seja, permeia a vida pessoal, profissional e as questões da coletividade, esse funcionário está cada dia mais interessado em saber se há sintonia entre a ética pessoal e a empresa na qual atua. Na prática, as empresas perceberam a demanda crescente em prol da responsabilidade socioambiental e econômica, e passaram a responder positivamente a esse input do funcionário”, finaliza.

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