Gestão

Processo sem fim

de Marcos Nascimento em 8 de fevereiro de 2012

Dia desses, um gerente de RH de uma empresa de capital europeu, cuja sede fica no Nordeste, vem conversar comigo sobre formação de liderança. Aproveitei, então, para refletir e inferir sobre o tema. O que tenho visto, ainda, é uma distância enorme entre discurso e prática. Até compreendo quando isso ocorre em empresas com uma estrutura pequena, com pouco capital para formação profissional. Mas isso também acomete outras companhias, nacionais e internacionais, de faturamento bilionário, com subsidiárias em vários continentes. Organizações que, agora, se deram conta da mais importante descoberta do mundo organizacional: o ser humano.

Estamos atrasados nesse negócio de formar líderes e vivemos uma avalanche de possibilidades para endereçar o tema. Talvez este seja o grande problema, pois com a demanda vem a oferta. E o que não falta são ofertas, muitas até “milagrosas”, para resolver a questão da necessidade de formar líderes. O que tenho visto funcionar, de fato, é quando o tema é tratado de forma abrangente e profunda. Ou seja, como um processo que precisa de diagnóstico, desenvolvimento do tratamento, o tratamento em si, muita disciplina e tempo de aplicação, com check-ups periódicos para verificar o que está funcionando bem e o que ainda precisa ser trabalhado.

Infelizmente, algumas empresas optam por ter eventos, isolados e desconectados entre si, para desenvolver seus líderes. E pior, começam um tratamento quando o problema já está bastante adiantado. Pouquíssimas, raras, são as companhias que realmente fazem isso como um processo de formação, identificando profissionais com potencial e neles investindo em programas de formação, antes que sejam expostos, promovidos a uma posição formal de responsabilidade sobre pessoas e resultados. Elas têm feito isso focando o liderar a si mesmo, os outros, o contexto e o negócio, seguindo a fórmula de Ram Charan.

Mas há um aspecto que pode agravar essa situação: é preciso medir sua eficiência. E é aí que muitos programas, dos poucos que existem de forma estruturada, caem em armadilhas. Desde a década de 1990, quando Donald Kirkpatrick escreveu Avaliando programas de treinamento, temos tentado implementar indicadores tangíveis e mensuráveis para programas de formação, incluindo os de liderança, mas sem muito sucesso. Mas há esperança!

Certo dia, estive com o presidente de uma das maiores empresas de seu ramo no Brasil sobre um projeto dessa natureza e, de repente, ele para, pensa, olha a agenda e diz: “Quero participar!” Foi uma demonstração de coragem, exemplo e humildade. E como para ser humilde há de ser forte (executivos fracos não sabem ser humildes), a demonstração dele reverberou nas demais lideranças. Hoje, elas estão no meio do processo, com pessoas identificadas recebendo um arsenal técnico e, principalmente, de autoconhecimento para que possam fazer a escolha de serem líderes quando a oportunidade bater à porta. Como é um processo, deve ter um início, mas nunca um fim. Há sempre um recomeço.


Marcos Nascimento é partner at Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams

 

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