Produtividade humana: engenho e arte

de Luiz Augusto M. da Costa Leite em 28 de janeiro de 2014

A produtividade média do brasileiro ficou em 18,4% do desempenho médio de um trabalhador norte-americano em 2012 , segundo estudo do Instituto de Pesquisas Conference Board. É provável que tenha piorado desde então.

O que poderia soar como reconhecimento da abissal diferença entre as duas economias perde sentido quando comparamos com o México (34,4%) e a Argentina (35,5%). Na América Latina, ficamos apenas acima da Bolívia.

É verdade que a produtividade do trabalho está relacionada com outros fatores como investimentos, inovação, tecnologia e infraestrutura. Haverá sempre uma relação entre o número de pessoas/hora trabalhando e o volume total da produção. Se o número de trabalhadores aumentou em ritmo maior do que a produção, cada empregado acabou produzindo menos que um ano antes. Idem quanto à evolução salarial.

Se os equipamentos forem obsoletos, o resultado será pior, é claro. No setor de serviços, hoje majoritário, a gestão e a tecnologia de apoio também são parte do problema. O indicador de 60% de rotatividade de mão de obra ao ano no país é outro forte determinante da baixa produtividade, mesmo que isso aconteça em trabalhos mais repetitivos.

Aí temos um vasto campo para debates, desde a visão economicista tendo uma perspectiva de natureza dita taylorista ou fordista e uma nova concepção da sociedade quanto ao valor do ser humano como protagonista e beneficiário dos processos e resultados dos empreendimentos em que estiver envolvido. Convém lembrar que a economia é também uma ciência social.

A que tipo de produtividade estamos nos referindo?
Em primeiro lugar, um cuidado semântico: se o trabalho é exercício da condição humana, nada mais adequado do que falar em produtividade humana, diferente da convencional produtividade do trabalho. Não se trata de um preciosismo. A ideia de alta performance, tão popularizada hoje, é a produtividade final de uma atividade que requer a participação de pessoas, individual ou coletivamente.

Inclui, por certo, todos os indicadores habitualmente utilizados, mas absorve uma nova visão de entrega. Espera-se que uma organização utilize os variados controles sobre o esforço humano e seus resultados, porém não mais numa expressão próxima ao mecanicismo. Mesmo as ferramentas mais modernas, tipo People Analysis ou Big Data, somente terão sentido se articuladas com outras dimensões definidoras da contribuição humana. Não esquecer que ferramentas são meios e que é preciso desviar-se das suas armadilhas.

Para simplificar, a verdade é que os modelos de produtividade humana são consequência dos valores dominantes na cultura da organização. Quando a IBM utilizou a ferramenta Wordle para incluir as preferências de mais de 60 mil empregados na revisão de seus valores, certamente não estava usando um processo mecanicista. Queria aumentar seu desempenho usando como fulcro as convicções de sua equipe.

Em suma, além de certos fatores estruturais, produtividade humana deve ser medida como produto de participação, engajamento, alinhamento, talento, reconhecimento e recompensa caso contrário vira um mero produtivismo.

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