Saúde

Raio x da saúde organizacional

de Redação em 11 de setembro de 2014
Raio X da Saúde Organizacional / Crédito: Shutterstock
Como anda a saúde da sua empresa? / Crédito: Sutterstock

A maior parte das empresas brasileiras é comprometida com programas ligados à saúde e produtividade. É o que mostra a edição 2013/14 da pesquisa Staying@Work, da consultoria Towers Watson. Das 49 participantes do Brasil no estudo, 73% apontaram que esses programas são essenciais à estratégia de saúde organizacional e 82% consideram que ganharão importância nos próximos dois anos. Entre os maiores desafios captados estão angariar maior engajamento dos funcionários no cuidado com a própria saúde e ter um controle mais eficaz dos custos nessa área.

Antes restrita à América do Norte, a pesquisa este ano abrangeu 15 países: Canadá e EUA, América Latina (Brasil e México), Europa (Espanha, França, Holanda, Itália e Reino Unido) e Ásia (China, Filipinas, Hong Kong, Índia, Malásia e Cingapura). Os dados incluem respostas de 892 gestores de benefícios de saúde em organizações com pelo menos mil empregados.

Entre os resultados, há semelhanças nas regiões pesquisadas. O estresse aparece em primeiro lugar como o principal fator de risco à saúde, seguido da falta de atividade física e da obesidade. Mas o estudo capta algumas diferenças de visão conforme a geografia. Por exemplo, o Brasil é o único mercado em que o comprometimento do funcionário com a própria saúde aparece como prioridade das empresas. Em outras quatro localidades, a criação de uma cultura de saúde no local de trabalho surge em primeiro lugar (e na segunda colocação para as companhias brasileiras). A questão da segurança no trabalho está no topo da escala na Europa, enquanto na China é a saúde mental dos empregados (ansiedade e estresse) que ocupa esse patamar. No Brasil, esse item aparece em quinto lugar no ranking de prioridades.

Prioridades semelhantes
A consultoria observa que “apesar de as prioridades em muitas das nações asiáticas serem consistentemente semelhantes às das Américas do Norte e do Sul, a divergência está nos fatores motivadores. A produtividade e o absenteísmo são certamente questões essenciais, mas a atração e retenção de talentos é uma preocupação constante nos mercados asiáticos em rápido crescimento e este fator também está presente entre as cinco prioridades dos respondentes oriundos de países europeus”.
O Brasil aparece na pesquisa também como o país que mais valoriza os programas que envolvem saúde e produtividade no contexto de ter uma estratégia de saúde organizacional. Segundo os dados apurados, 73% das empresas daqui os consideram essenciais, acima de EUA e Canadá, com 49% e 48%, respectivamente. Esse papel deve aumentar de importância nos próximos dois anos para 82% dos entrevistados brasileiros, número ainda mais expressivo nos EUA, com 84%.

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ESTRESSE BATE PONTO NAS EMPRESAS

O estresse é o vilão global, aparece em primeiro lugar em todos os países pesquisados (no Brasil, 77% o apontam como o principal inimigo da saúde). Entre os motivos listados como causadores de estresse, as empresas indicam: falta de profissionais adequados; desigualdade de desempenho ou de carga de trabalho dentro das equipes; falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; e falta de clareza nas expectativas relacionadas ao cargo. Esse quadro está em consonância com o que se apurou nos demais países.
A pesquisa Global Benefit Attitudes, também realizada pela consultoria e usada como complementação, capta outro motivo junto à força de trabalho. Para 40% dos empregados, a principal causa do estresse é a baixa remuneração. A ausência de profissionais adequados (37%) e a falta de cultura organizacional (35%) aparecem na sequência.
A Towers Watson enfatiza que para lidar com o estresse de forma adequada, é necessário entender suas origens. “As empresas também devem reconhecer que algum estresse é causado por fatores sobre os quais elas têm controle significativo – incluindo a remuneração dos empregados, a falta de profissionais adequados, a falta de clareza (ou conflitos) quanto a expectativas para os cargos e a cultura organizacional. Melhorias no treinamento dos gerentes, orientações claras sobre o trabalho e a revisão das práticas de remuneração podem ajudar a aliviar esses fatores de estresse”, atesta.

Na visão da Towers Watson, esses resultados indicam um crescente interesse na saúde e produtividade dos empregados: “Claramente, as empresas reconhecem que os empregados saudáveis – pelo fato de apresentarem baixos índices de absenteísmo ou doença crônica – desempenham um papel diferenciado para ajudar as organizações a atingir seus objetivos de negócios e aumentar sua vantagem competitiva”.
No que diz respeito às empresas no Brasil, o estudo captou que o desenvolvimento e a manutenção do engajamento dos funcionários nos programas são o principal desafio para 57% dos entrevistados, enquanto a promoção de uma cultura de saúde no local de trabalho é apontada por 45%. Questões ligadas à segurança no ambiente de trabalho foram priorizadas por 30% dos respondentes, ao passo que 28% se mostraram preocupados em aumentar a conscientização dos funcionários sobre os riscos para a saúde.

A pesquisa captou um descompasso. Apesar de o estresse ser considerado o principal fator de risco à saúde, apenas 21% das organizações encaram a melhoria da saúde emocional e mental dos funcionários como prioridade em seus programas.

Ainda no âmbito corporativo brasileiro, 54% das organizações indicam a falta de engajamento como um dos maiores obstáculos para mudar o comportamento dos empregados. As participantes listam também a falta de orçamento e de apoio da alta liderança, e a ausência de uma estrutura organizacional que promova a importância da saúde dos empregados como razões para o baixo nível de engajamento. A consultoria acrescenta que “são vários os fatores que contribuem para a falta de participação dos empregados, mas, em nossa experiência, programas que não têm uma estratégia coesa vinculada às prioridades do negócio não refletem as preocupações dos empregados, não são claramente comunicados e tendem a não gerar mudanças de comportamento sustentáveis ou a melhora das condições de saúde – tampouco resultam na redução dos custos com saúde”.

Responsabilidade
Outra falta de sintonia entre discurso e prática é levantada pela pesquisa no que se refere a quem cabe cuidar da saúde da força de trabalho. No Brasil, 70% consideram que os empregados deveriam ser os responsáveis. Porém, apenas 27% acham que isso é o que acontece no dia a dia. Quando essa atribuição é passada aos gestores, há também distância entre o que se fala e o que se executa: 51% acham que esses gestores teriam a tarefa de zelar pela saúde dos funcionários, mas apenas 13% creem que isso de fato aconteça. Vale ressalvar que esses gaps não são exclusividade verde-amarela, como mostra a figura abaixo.

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Saúde organizacional / Crédito: Shutterstock
Como anda a saúde da sua empresa? / Crédito: Shutterstock

Para a Towers Watson, essa situação pode ser contornada. “Há uma oportunidade para adotar táticas emergentes e elementos do desenho de benefícios para melhorar a responsabilidade individual. Contudo, para ser eficaz – isto é, para encorajar as pessoas a assumirem a responsabilidade por sua própria saúde e bem-estar –, o foco deve migrar da responsabilização para a construção da motivação interna necessária para a mudança sustentável de comportamento. Os empregados precisam entender que a mudança é possível; precisam ter as ferramentas e recursos necessários para realizar as mudanças; precisam do apoio dos seus pares e da gerência e suas metas devem ser pessoalmente relevantes e gerenciáveis – todos esses são elementos críticos para uma mudança sustentável.”

Entre as táticas utilizadas para aumentar o engajamento dos funcionários nos programas, a pesquisa captou que o estímulo à formação de grupos de afinidade está em alta no Brasil. Juntar pessoas para a prática de corrida, para troca de experiências e outras atividades faz parte do cotidiano de 56% das organizações, índice que pode crescer, já que 7% cogitam adotar alguma medida nesse sentido nos próximos três anos.

Nas américas
O item da pesquisa referente aos programas em curso mostra semelhanças com o que é praticado em outros países das Américas. As campanhas de vacinação estão presentes em 89% das empresas do Brasil e dos EUA, e com índices próximos no Canadá e México. Outros programas, no entanto, evidenciam que a ênfase é bastante diferente entre os países. Nos EUA, por exemplo, o combate ao tabagismo está presente em 90% das empresas pesquisadas. No Brasil, esse índice é exatamente a metade (45%). No México, menor ainda, 26%. O mesmo pode ser observado nos programas de monitoramento de peso, presentes em 85% das empresas dos EUA, enquanto no Brasil e no Canadá constam em 57% e 44%, respectivamente.

Ainda que com frequência variável, mais da metade das empresas brasileiras (faixa entre 50% e 60%) fazem análises de dados sobre os programas, o que ajuda na mensuração dos resultados. A pesquisa mostra um cuidado maior com as avaliações dos programas que envolvem invalidez temporária ou permanente dos empregados. Já os dados sobre ausências não planejadas são vistos com mais frequência: 52% das organizações acessam essas informações em períodos trimestrais ou semestrais. O estudo capta um certo descaso com o acompanhamento dos dados sobre auxílio-farmácia e sobre Programa de Acompanhamento de Empregado (ligado ao monitoramento do estresse).Na visão da consultoria, “a coleta de dados sobre assuntos como a satisfação dos empregados com os programas e os níveis de presenteísmo, assim como as visões integradas entre diversos grupos de dados, podem fornecer à empresa uma gama mais ampla de dados para medir a eficácia dos programas de saúde e produtividade”.

A parte final da pesquisa reserva um espaço para aferir a autoavaliação das empresas sobre a eficácia geral dos programas em vigor, bem como a eficácia da própria força de trabalho. Em comparação às companhias mexicanas e norte-americanas, as brasileiras expressam um nível de confiança maior na maioria dos 18 aspectos contemplados.

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