Gestão

Retomada estratégica

de Carolina Sanchez Miranda em 11 de janeiro de 2011

O ano de 2010 foi excelente para as escolas de negócios que oferecem cursos customizados ou os chamados cursos in company. A maioria registrou crescimento acima do esperado. A principal demanda das empresas foi o treinamento de lideranças. Alguns acreditam que pelo menos parte do crescimento decorreu de uma demanda reprimida pela crise, mas todos concordam que as empresas passaram definitivamente a valorizar os treinamentos sob medida como forma de se tornarem mais competitivas. “Esse é o ritmo normal, principalmente para o desenvolvimento de lideranças. Isso já vinha acontecendo por causa do crescimento econômico brasileiro. Cada vez fica mais claro que uma boa liderança traz resultados superiores”, diz Sérgio Monaco Cardoso, gerente de desenvolvimento e educação corporativa do Hay Group. “Só o processo de formação acadêmica não resolve, hoje, a demanda que se tem no mercado, exige-se uma formação complementar”, complementa.

Renato Gutierrez, consultor sênior da Mercer, acredita que um dos motivos para esse crescimento é a possibilidade de estruturar um curso que dê ênfase aos conteúdos que contribuirão mais com os objetivos da organização, trazendo-os para a realidade de trabalho do profissional. “Fiz dois MBAs, um in company e outro por própria conta. No primeiro, a vantagem é discutir situações com colegas e achar solução usando ambiente acadêmico”, diz. Willian Bull, líder da prática de gestão de talentos da Aon Hewitt, também percebe uma preocupação maior das companhias em formar sua mão de obra dentro de casa, a partir de programas que estejam conectados com a estratégia do negócio especificamente, que conectem a necessidade dos executivos de gerenciar pessoas, mudanças e a si próprios, explica o consultor. Ele lembra ainda que, além de atender às necessidades de desenvolvimento de competências das empresas, a formação customizada melhora a satisfação do profissional com a organização.

Foco em liderança e resultados
De acordo o professor Antônio Batista, da Fundação Dom Cabral (FDC), nas décadas de 1980 e 1990 houve uma ênfase na terceirização do desenvolvimento da carreira dos executivos para os próprios profissionais. “Com a virada do século, as empresas retomaram o desenvolvimento de carreira, a formação e a capacitação de executivos e fazem isso, sobretudo, por meio dos programas customizados, pois atingem suas metas de resultados no curto prazo”, argumenta. Ele lembra que os programas customizados permitem que as empresas treinem um grande número de profissionais de maneira rápida e direcionada às suas necessidades. “Com o crescimento acelerado da economia, as empresas estão sentindo necessidade de formar líderes mais rapidamente. Líderes que tenham capacidade de enxergar o futuro e desenhar estratégias para aproveitar as atuais oportunidades, transformando-as em metas a serem alcançadas no curto prazo por suas equipes”, explica Batista, da FDC.

Na FGV in company, o crescimento da procura por cursos voltados à formação de líderes levou à criação de um núcleo para atendimento personalizado. “Por isso, acabamos de criar o Núcleo de Liderança, um espaço voltado para o atendimento das necessidades das organizações no que se refere ao desenvolvimento e aprimoramento das competências gerenciais necessárias ao pleno exercício da liderança, com ênfase nos aspectos comportamentais”, conta Goret Pereira Paulo, diretora adjunta da instituição. Segundo ela, esse não foi o único núcleo a ser criado na instituição. “Também foram criados os de Administração Pública, Direito, Gestão de Empresas, Finanças, Projetos, Energia, Saúde, Varejo, Logística, Segurança e Cenários econômicos, com o objetivo de oferecer um atendimento mais específico para cada empresa”, explica Goret.

Na ESPM, o grande destaque também foi a liderança de equipes junto com negociação para gestores de todas as áreas das empresas. Segundo Célia Ferraz, diretora de educação executiva da escola, para profissionais de vendas e marketing, os cursos mais procurados foram os de marketing digital, vendas consultivas, trade marketing e inteligência competitiva. “Além disso, tivemos solicitações para temas ligados à sustentabilidade e os tradicionais: finanças, gestão de projetos, inovação e criatividade para públicos específicos”, complementa.

Mercado em evolução
Não é à toa que as empresas estão valorizando os cursos customizados. As escolas de negócios têm procurado compreender profundamente as empresas e os gaps de competências de seus executivos para oferecer um produto com bastante assertividade. “Para cada projeto, fazemos um levantamento minucioso das práticas de gestão e do negócio da organização que nos procurou solicitando um curso ou um programa de desenvolvimento profissional”, conta Goret, da FGV. De acordo com ela, depois de desenhado o programa, o contato se mantém constante – ao longo do curso, para saber qual é o nível de satisfação com o trabalho e identificar possíveis ajustes que precisam ser feitos, e ao término dele, para fazer um balanço de todo o projeto.

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Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), lembra que as empresas perceberam que era mais vantajoso fazer parcerias com universidades do que criarem universidades corporativas, já que esse não era seu negócio principal. Mas, apesar do crescimento que as escolas de negócios vêm identificando, ele ainda considera essas parcerias em fase de desenvolvimento no país. “Aqui isso é uma coisa embrionária. Em outros países, existe até o profissional que é o elo entre as escolas e as empresas, é uma coisa mais consolidada”, comenta Capelato. Na visão dele, a solução passa por uma interação maior entre o corpo acadêmico e a empresa. “Falta divulgar e criar ou ter mais foco nessa área. É preciso que as escolas entendam que é preciso ter um profissional só cuidando disso. Num primeiro momento, o retorno ainda vai ser pequeno, mas, depois, as empresas vão perceber valor e o retorno será obtido”, complementa.

Capelato conta que o Semesp firmou uma parceria com o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) para fomentar o crescimento dos cursos customizados. “Há sempre o discurso de que falta mão de obra qualificada. Vamos fazer alguns encontros regionais buscando colocar na mesma mesa o lado acadêmico e os empresários de diversas regiões para entender o que dá para ser feito”, conta. De acordo com o diretor executivo do Semesp, é preciso superar a ideia de que o modelo de parceria entre empresas e academia é complexo. “Não é necessário criar cursos nem laboratórios específicos, apenas realizar adequações de currículo e tornar as empresas o laboratório dos cursos”, conclui.

Balanço e expectativas
O ano que passou deixou marcas positivas e significativas nas escolas de negócios, sobretudo no que se refere a cursos customizados. “Percebemos um crescimento significativo. Foi um ano de uma evolução muito grande nesses programas. Crescemos 30% nesse segmento. Foi o que mais cresceu”, afirma o professor Antônio Batista, da Fundação Dom Cabral (FDC). Segundo ele, as empresas que apresentaram maior demanda por cursos da FDC foram as dos setores de governo e de recursos globais, nos quais a instituição inclui mineração, siderurgia, água, energia e petróleo. “Em todos os setores a procura cresceu, mas nesses dois o crescimento foi mais notável”, comenta Batista.

Quem também comemora os resultados são a FGV in company e a Trevisan Escola de Negócios. A primeira também registrou crescimento de aproximadamente 30%. Na segunda, a meta financeira foi superada em 15%. “Mas foi muito mais por uma demanda retida”, diz Galo Noriega, gerente-geral de cursos in company da Trevisan. Ele conta que, em 2009, houve uma retração de investimentos em treinamento devido à crise. “As empresas sobreviveram e no ano passado precisavam treinar os funcionários que não o foram no ano anterior”, complementa. De acordo com ele, os cursos mais procurados na escola são os da área contábil pela conhecida reputação da instituição no tema.

Luca Borroni, diretor de educação executiva do Insper, considera 2010 um ano excepcional em termos de resultados. “Registramos um crescimento de cerca de 50% em relação a 2009”, conta. Ele atribui os bons resultados a dois fatores. “O primeiro é a retração que houve no passado por conta da crise. Esse ano, as empresas tiveram de recuperar o tempo perdido. Mas atribuímos o aumento também a uma visão mais estratégica das empresas, que entendem que para ser mais competitivas têm de formar seu pessoal de acordo com as novas tendências”, diz. Nesse sentido, o alto escalão tem sido preparado nas áreas de estratégia, execução de alto desempenho, gestão de culturas e globalização.

Na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o crescimento dos cursos in company foi de 15% em relação a 2009. “Não percebemos retração na crise. Esse mercado não é muito afetado porque hoje as empresas já sabem que cortar treinamento faz com que fiquem atrasadas em relação à concorrência. A crise atingiu alguns setores, mas outros tiveram vendas normais. Mas, de um modo geral, a economia brasileira andou bem. Então, esse crescimento de 15% é um crescimento real e não uma retomada”, explica Célia Marcondes Ferraz, diretora de educação executiva da ESPM. “Pessoas bem preparadas representam um diferencial competitivo. Por isso, estimamos que continue crescendo outros 15% pelas mesmas razões”, afirma.

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