Gestão

Saber escolher

de Arthur Diniz* em 18 de abril de 2011

Decidir-se por uma carreira não significa escolher somente a sua área de atuação profissional. Significa decidir que caminhos, ambientes e pessoas vão estar com você durante a maior parte da sua vida. Planejar a carreira, portanto, significa planejar a vida. Em meu trabalho como coach tenho visto que muitas pessoas não se dão conta disso. Algumas não planejam absolutamente nada em suas trajetórias profissionais e outras esquecem seus valores mais importantes no momento desse planejamento. O resultado são pessoas trabalhando naquilo que não gostam e, obviamente, obtendo resultados muito abaixo do seu verdadeiro potencial. Isso acontece devido à busca frenética pela famosa empregabilidade. Profissionais de todas as áreas são incentivados e pressionados a perseguir uma formação específica como forma de diferenciação para que obtenham os “melhores” empregos. Isso faz com que busquem avidamente complementar sua formação acadêmica com MBAs, mestrados, especializações, idiomas e outros. A ideia é ter uma formação completa e atingir o nível máximo de empregabilidade. Criaram-se, portanto, regras que todos devem seguir para se tornarem empregáveis.

Muitos me perguntam se isso é uma coisa ruim. Creio que é importante ressaltar aqui que o certo não existe. Procurar tornar-se apto para o mercado de trabalho sem saber qual o objetivo desejado é a melhor forma de conseguir bons empregos e uma eterna infelicidade. Isso acontece porque as questões mais importantes do processo de escolha profissional não foram feitas: “O que eu quero fazer com a minha vida?”, “O que é importante para mim?”. Um MBA pode ser fantástico para algumas escolhas de carreira e praticamente inútil para outras. O mesmo vale para a fluência em idiomas estrangeiros.

Sem esses questionamentos, geralmente, o profissional vive uma situação de conflitos, quando, por exemplo, encontra um trabalho bem remunerado, mas que não lhe traz satisfação. O mesmo acontece com quem atua em RH. A maioria dos profissionais escolhe trabalhar nessa área por gostar de pessoas. Mas depois dessa primeira escolha, eles podem se perder na busca do emprego mais seguro ou mais bem remunerado e se esquecem do propósito inicial que era ajudar, desenvolver, apoiar e transformar pessoas. Em momentos de pujança na economia, tenho observado uma migração grande de profissionais de diversas áreas de RH para o trabalho de hunting (seleção de executivos) em função somente de uma maior remuneração.

Vejo profissionais deixando de lado seus sonhos para aceitar ofertas polpudas, sem nem saber exatamente onde estão entrando e como isso vai impactar sua felicidade no dia a dia. Veja, a seguir, oito passos para evitar que isso aconteça em sua carreira.

1 Descubra sua missão ou propósito de vida
Trata-se de uma tarefa desafiante para alguns. Porém, independentemente do esforço necessário, vale a pena. Se você conseguir encontrar uma missão de vida inspiradora, nunca mais terá problemas de motivação. Mas como encontrá-la? Duas perguntas podem ajudá-lo: “O que te inspira profundamente?”, “Qual é a sua paixão?”. Se a sua missão de vida envolve, de alguma forma, a melhoria de vida de outras pessoas, a área de RH com certeza tem belas oportunidades para você.

2 Conheça seus valores profissionais
Cada pessoa tem seus valores e não adianta querer seguir os valores que você acha que serão mais aceitos pelas empresas ou pelos amigos. O que é realmente importante para você em qualquer trabalho que você faça? O que é mais importante para você: aprendizado ou dinheiro? Trabalho de equipe ou reconhecimento? Gerenciar pessoas ou vencer desafios? Ser um especialista ou generalista?

3 Saiba qual é o seu perfil comportamental
O próximo passo é conhecer seu perfil comportamental. Ele vai ajudá-lo a definir quais atividades você tem facilidade de fazer ou aprender e quais vão ser mais difíceis. Algumas pessoas têm facilidade para tomar decisões rápidas e fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Outras conseguem analisar riscos com precisão e organizar tarefas de forma detalhada. Se você tem facilidade para lidar com números e detalhes, pode ter uma carreira de sucesso na área de remuneração e benefícios; se você tem facilidade para se comunicar e falar em público, talvez a área de treinamento seja a ideal para você. Quando o seu perfil comportamental é compatível com os seus valores profissionais identificados no item acima, tudo fica mais fácil.

4 Transforme seus sonhos em uma visão de futuro
Você é capaz de sonhar? Acredita que pode realizar seus sonhos? Não adianta escolher uma profissão pensando somente na remuneração. Isso porque apenas quem faz o que realmente gosta atinge seu potencial máximo. Com isso, o sucesso profissional e financeiro passa a ser mera consequência da realização de um sonho. Não deixe que ninguém lhe diga que seu sonho é impossível. Invente um jeito diferente de fazer o que gosta. Tendo isso em mente, faça uma lista de tudo o que você gosta de fazer. Liste pelo menos cinquenta atividades. Depois, liste o que você faz bem. Com essas duas relações, você pode escolher, dentre as alternativas encontradas, aquela que você vai implementar. Transforme essa alternativa em sua visão de longo prazo. Imagine-se daqui a quinze anos, fazendo isso com sucesso absoluto. Essa é a sua visão de futuro.

5 Descreva seus pontos fortes e pontos fracos
Agora que já tem uma visão de futuro, sabe aonde quer chegar e quais são seus valores e missão, descreva quais são seus pontos fortes e fracos. O que você já tem e o que falta desenvolver para chegar lá? Faça essa lista o mais detalhada possível. Peça a pessoas que te conhecem bem para ajudá-lo.

6 Defina seus objetivos
Com a visão de futuro clara e certo da profissão que deseja, falta saber em que ambiente você vai fazer o que escolheu. Para isso, deve pensar nos fatores tangíveis e intangíveis que compõem seu trabalho ideal. Os fatores tangíveis podem ser medidos ou quantificados, como salário, bônus e benefícios. Os intangíveis referem-se ao ambiente de trabalho, ou seja, autonomia, inovação, liberdade de expressão, cultura da empresa e valores corporativos. Enquanto suas realizações e habilidades determinam sua capacidade para realizar um trabalho com maestria, os fatores intangíveis vão ser decisivos para sua satisfação no dia a dia. Por exemplo, se você percebeu que precisa de muita liberdade e autonomia em seu trabalho, vai querer procurar um cargo em que o seu superior imediato e a matriz estejam a muitos quilômetros de distância, ou vai querer ter seu próprio negócio.

7 Escreva seu plano de ação
Colocar o plano de ação no papel é um dos passos mais importantes para o sucesso do planejamento. Pesquisas indicam que apenas 3% das pessoas efetivamente planejam e apenas 1% coloca seus planos no papel. Quem escreve seus planos alcança sempre resultados muito superiores. Aqui, o plano de ação vai variar de acordo com a escolha feita no passo anterior. Independentemente de qual é o seu plano, é importante que todas as suas metas sejam específicas, mensuráveis e tenham uma data atrelada. Metas e objetivos sem data continuarão a serem apenas sonhos e dificilmente vão sair do papel.

8 Administre seu networking
Independentemente da carreira que escolheu, sua rede de contatos é um de seus ativos mais importantes. Mesmo que você se ache o melhor profissional do universo, não subestime o poder de um bom networking. É a sua rede de contatos que vai ajudá-lo a implementar seu plano de ação, qualquer que seja ele. Mais de 80% das vagas de emprego são preenchidas por indicação. Não há como abrir um novo negócio sem o apoio de diversas pessoas. Pense nisso.

* Arthur Diniz é fundador e um dos principais executivos da Crescimentum, autor do livro Líder do Futuro – a transformação em líder coach. É professor de empreendedorismo e liderança nos cursos de pós-graduação do Insper de São Paulo.

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