O cenário é preocupante. Cerca de 43% dos trabalhadores já passaram, no último ano, por situações moderadas ou graves de violação dos direitos humanos no ambiente de trabalho, segundo pesquisa apresentada pelo Instituto Norberto Bobbio e desenvolvida pela consultoria Plano CDE com o apoio da BMF&Bovespa. De acordo com o levantamento, boa parte das empresas entrevistadas ainda adota um estilo de gestão rígido, sem muita participação do funcionário, sem critérios claros de promoção e com a ocorrência de desrespeito e maus-tratos.”Ainda acontecem atitudes como humilhação e preconceito de raça e gênero em companhias de diversos setores e tamanhos”, afirma o presidente do Instituto Norberto Bobbio, Raymundo Magliano.
Considerando somente as violações graves – que podem incluir desde declarações explícitas de preconceitos, agressões verbais ou físicas, roubo e até mesmo assédio sexual -, 9% dos funcionários têm a percepção de que tais abusos ocorreram em seu local de trabalho. Especificamente às atitudes discriminatórias, 11% dos respondentes disseram que em suas empresas existe discriminação contra negros, mulheres, homossexuais ou idosos, e 7% já foram vítimas diretas de preconceito. E as piores abordagens foram registradas com mulheres, negros e profissionais com salário inferior a 3 mil reais.
Mas as ocorrências variam de setor para setor. A indústria, por exemplo, apresenta os melhores índices de respeito aos direitos humanos: 84% dos profissionais desse segmento consideram que são tratados com educação e mais de 76% sentem que suas opiniões são levadas em conta. Já os serviços nãofinanceiros apresentam a pior avaliação em todos os quesitos, registrando os maiores índices por maus-tratos e pela falta de clareza nos critérios de promoção, 25% e 46%, respectivamente. Na visão de Haroldo Torres, sócio-diretor da consultoria Plano CDE, isso se deve ao fato de que setores com sindicatos fortes e atuantes contribuem para que as empresas tratem seus funcionários de maneira mais respeitosa.
O levantamento aponta, ainda, que mais de 50% dos funcionários do setor de bancos e serviços financeiros sentem desconforto com políticas de valorização do mérito, mencionando o pagamento de salários diferentes para quem tem o mesmo tipo de atividade, formação e tempo de casa. “Esses dados evidenciam a clara urgência de o tema dos diretos humanos passar a compor o conjunto das preocupações centrais das empresas brasileiras”, completa Magliano.
Para desenvolver a pesquisa, a Plano CDE ouviu 800 profissionais de empresas com mais de 50 funcionários, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que atuam no comércio, indústria, bancos (e outras atividades financeiras) e serviços não financeiros (educação, saúde, telemarketing etc.).
Desconforto no trabalho | |||||
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