Gestão

Ter mais compromisso

de em 18 de julho de 2011

Acena de um jovem saindo de casa, em meio ao espírito de rebeldia típico de muitos da mesma faixa etária, não parece mais ser comum como antes. Hoje, há um grande número de pessoas que estendem ao máximo a permanência na casa dos pais, deixando de coabitar o mesmo espaço lá pela casa dos 30 e poucos anos. Sinais dos tempos, dirão alguns. Sim, mas no ambiente corporativo, essa vontade de ficar mais e mais não parece ser a mesma. Ao menos é o que se pode inferir de um estudo feito pela empresa de pesquisa GfK junto a 30 mil trabalhadores em 29 países.

O levantamento revela que há uma falta de comprometimento dos jovens trabalhadores no mundo todo, em função, ainda segundo o estudo, da pressão a que têm sido submetidos nas empresas – ou seja, para largarem o barco não falta muito. Além disso, a pesquisa mostra, também, um mercado de trabalho polarizado entre jovens de 18 a 29 anos desiludidos e trabalhadores mais velhos, acima dos 60 anos, possivelmente mais resignados.

Ao analisar os dados da pesquisa entre os 29 países participantes, alguns deles encaram um problema mais severo com relação ao nível de comprometimento do seu quadro de jovens funcionários. Na Macedônia, na França e na Turquia, por exemplo, cerca de um terço dos trabalhadores que têm entre 18 e 29 anos estão altamente engajados, indicando uma situação razoavelmente estável e produtiva para as empresas. No Brasil, o índice de comprometimento nessa faixa etária é de 20%, deixando o país na 7ª posição e à frente de países como Portugal, Alemanha, Reino Unido e Bélgica (veja quadro Ranking dos 10 mais engajados). Em nível global, comparando as faixas etárias de maior e menor idade, apenas 21% dos que têm entre 18 e 29 anos estão bastante comprometidos com seus empregadores, enquanto que para os entrevistados com idades acima dos 60 anos o índice sobe para 31%.

Ressentimento entre gerações
No Brasil, 20% dos jovens entre 18 e 29 anos estão altamente comprometidos, enquanto que nas faixas etárias mais altas (50 a 59 anos) o índice é bem superior: 37%. Essa grande diferença no nível de comprometimento entre os jovens “que põem a mão na massa” e aqueles que provavelmente estão em posições mais seniores representa um verdadeiro problema para as empresas no mundo. Além disso, pode criar divisões no local de trabalho, ressentimento entre gerações e dificultar os esforços de recrutamento, de retenção e de motivação de jovens talentos. 

Embora 61% dos jovens trabalhadores acreditem que há oportunidades de carreira para eles, muitos acham que só vão encontrá-las em outro lugar, ou até mesmo em outro país. Seis em cada 10 jovens trabalhadores (58%) estão procurando um emprego ou estarão nos próximos seis meses e 41% estão dispostos a emigrar para encontrar um novo trabalho.

No Brasil, 77% dos entrevistados acreditam que há oportunidades disponíveis para eles no mercado, 28% estão ou estarão procurando por um novo emprego nos próximos seis meses e 53% mudariam para outro país em busca de um emprego melhor. Além disso, 55% considerariam trocar de carreira. “É crucial, portanto, para empresas e países encarar e resolver as causas da falta de comprometimento de sua jovem força de trabalho”, ressalta Daniela Salles, diretora da unidade de satisfação e lealdade da GfK Brasil.

O que preocupa os jovens
Embora os jovens trabalhadores sejam provavelmente mais livres de maiores responsabilidades no trabalho, uma grande porcentagem deles está frequentemente ou quase sempre preocupada com o equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal, com a pressão para trabalhar longas jornadas e com a saúde pessoal (veja mais no quadro acima). A pesquisa constatou também que, em alguns países, pressões de trabalho estão afetando o bem-estar da geração mais jovem de trabalhadores e que a recessão teve impacto negativo nas aspirações de muitos. Os dados revelam que 37% deles foram forçados a aceitar um trabalho com o qual estão infelizes por causa da economia. Entre os brasileiros, a porcentagem de jovens nessa situação é bem mais baixa (27%). “Isso reflete bem a situação econômica favorável do Brasil nos últimos anos, com um mercado de trabalho bastante aquecido”, avalia Daniela.

Outro ponto revelado pelo estudo é que 40% estão frequentemente estressados no trabalho – uma alta porcentagem em comparação com outras idades. O índice também é alto entre os brasileiros: 53%. Além disso, 31% dos jovens de funcionários das empresas se sentem pressionados para trabalhar por muitas horas. No Brasil, esta porcentagem é de 42%.

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Falta equilíbrio
Como resultado dos problemas acima, 39% estão infelizes com o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal – novamente a mais alta porcentagem de todas as faixas etárias. O índice é ainda mais alto no Brasil, com 59% dos brasileiros demonstrando “frequentemente” ou “quase sempre” esse sentimento.

De acordo com Sukhi Ghataore, Diretor da GfK NOP, do Reino Unido, em tempos difíceis, trabalhadores comprometidos e um quadro de funcionários unidos são uma necessidade, não um luxo. “Colaboradores envolvidos querem que a empresa ou seu empregador tenha sucesso, querem fazer parte do grupo e ir além. Mas temos de lembrar que atitudes para com o trabalho e as realidades do mercado de trabalho mudaram para cada geração. Não há mais expectativa ou projeção de um trabalho ou emprego para a vida toda. Muitos jovens estão procurando o que eles acreditam ser uma carreira satisfatória que acreditam merecer. E aceitarão empregos por um curto tempo enquanto procuram formas de realizar suas ambições e desejos em outros lugares.”

Veja também:

> Novos problemas, velhas posturas

 

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