Gestão

Um brinde Í  brasileira

de Karin Hetschko em 24 de janeiro de 2014

Ao observar a foto acima, o leitor da MELHOR deve estar se perguntando: essa reportagem realmente pertence a uma publicação de RH ou trata-se de uma matéria de agronegócio? Como diria o ditado, nem tudo é o que parece ser. O senhor com a barba grande, sorridente num ambiente de fazenda não é nenhum trabalhador rural encerrando seu turno de trabalho; esse homem é um empreendedor e líder nato que não abandonou as raízes. Estamos nos referindo a Antonio Rodrigues, fundador da cachaça Seleta.

Antonio Rodrigues
 Antonio Rodrigues

A biografia de Rodrigues, mais conhecido como Toni, nos instiga curiosidade. Ele é empreendedor, líder, conselheiro e é formado em gestão de pessoas, marketing e, em breve, será o mais novo bacharel em administração de Salinas (MG), onde fica a fábrica da Seleta. Outra peculiaridade é seu lado generoso. Ele veste a camisa de Robin Hood, ao tirar parte dos lucros da companhia para distribuir doações aos moradores da região.

O embaixador da cachaça conta que seu primeiro empreendimento, quando jovem, foi um estacionamento de cavalos. “Naquela época, as pessoas vinham da roça para fazer compra na cidade e não tinham onde deixar seus animais. Minha família tinha um lote e eu passei a cobrar uma moeda para cuidar dos cavalos”, lembra. Aos poucos, Toni investiu no empreendimento: primeiro, passou a servir café no local, depois sucos e biscoitos e, de repente, lá estava estabelecida uma mercearia.

Com um faro apurado para novos negócios, Toni não se deu por satisfeito com a mercearia, ele queria mais. Ao ver seu ex-sogro lucrar com a venda de cachaça no norte de Minas Gerais, cresceu os olhos para o segmento. “Com meu instinto de empreendedor, vi uma oportunidade de ganhar dinheiro. Passei a comprar cachaça na safra em Taiobeiras, armazenava e vendia na entressafra para o mesmo lugar. Foi assim que comecei”, conta.

No início, Rodrigues apenas envelhecia a cachaça e vendia a granel ali mesmo, pela região. Depois, começou a engarrafá-la e os clientes não paravam de chegar. Adquiriu, então, uma fábrica com um grande canavial. Toni investiu trabalho e dinheiro no desenvolvimento da empresa e foi crescendo de maneira sustentável até alcançar a posição de maior produtor brasileiro de cachaça artesanal. O empresário mudou o cenário da então ‘pinga’ que dominava o mercado para apresentar ao país e ao mundo cachaças de grife.

Do Brasil para o mundo
“O primeiro passo para ter sucesso é acreditar na cachaça. Ela é um produto da gente, tipicamente nacional, está nas nossas raízes. É minha bebida favorita e, como sempre digo, faço cachaça para meu consumo, a sobra é que vendo para os amigos (risos). Foi um trabalho de formiguinha, muita divulgação nos mercados consumidores e  vibrando com cada caixa vendida. Outra estratégia foi abrir as portas da minha empresa para quem quisesse conhecer, fosse ele cliente, turista ou concorrente. Quanto mais ensino, mais aprendo. Minha produção não tem segredos.”

O papel dos seleteiros no sucesso
“Sem eles [nota da redação: como os funcionários são chamados] a Seleta ainda seria a cachaça vendida a granel na porta do mercado. Reconhecimento é o maior programa de retenção; todos os seleteiros amam o que fazem e são reconhecidos por isso. A Seleta tem incentivos para o desenvolvimento profissional e pessoal. Programas como bolsas de estudos, bolsa academia de ginástica e bônus em dinheiro no fim do período. E me orgulho de ser formador de grandes profissionais. Fico emocionado quando um ex-seleteiro é bem sucedido em outra empresa. Quando sai um profissional da Seleta, ele não fica um dia sequer desempregado.”

#L# Ser um bom líder
“Lidar com pessoas é um dom que Deus me deu e, ao longo da minha vida, venho aperfeiçoando, fiz vários cursos, até um curso superior de gestão de pessoas. Sou rápido nas minhas tomadas de decisões, seleciono bem. Treino, delego e cobro resultados. Treinamento é a base de tudo, o mundo não tem espaço para amadores. Eu, com 65 anos, ainda estou no banco da universidade, cursando meu terceiro curso superior. E os meus colaboradores de todos os níveis ganham bolsa de estudos para crescer profissionalmente; temos ainda uma biblioteca com mais de 100 títulos à disposição de funcionários, amigos e produtores da região. Periodicamente, todos os colaboradores recebem treinamentos e são incentivados a trazer para dentro da empresa palestras e cursos. Ressalto que qualquer colaborador pode sugerir uma palestra ou um treinamento.”

Exemplo para empreendedores 
“Muitos ex-seleteiros, hoje, têm um negócio próprio e os que ainda não têm seu negócio próprio estão construindo um patrimônio considerável. Todo seleteiro é orientado a economizar 30% do que ganha. E muitos produtores de cachaça já vieram passar uma temporada aqui na Seleta para aprender como gerir o próprio negocio.”

Doações 
“Faço doações de cestas básicas, cadeiras de rodas, material de construção, fraldas, coisas de necessidades básicas para quem esteja precisando, passando por dificuldades. E dou também produtos da Seleta como forma de divulgação da marca. Sempre gostei de dividir o que tenho e quanto mais eu dou, mais recebo. As pessoas normais quando dão alguma coisa, Deus retribui em dobro. Para mim Deus retribui 999 vezes.” 

Não abandonar as raízes
“Minha maior preocupação é ser feliz e fazer as pessoas que estão a minha volta felizes também. E eu sou feliz sendo assim do jeito que sou, andando de mula e rodeado dos meus animais. Aliás, gosto muito dos bichos. Passo horas observando a inteligência deles, as estratégias de caça, como constroem os ninhos, tudo.”

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