Gestão

Via pavimentada para o crescimento

de Paulo Jebaili em 22 de junho de 2009
John Baldoni: nenhum líder vive numa redoma

Criar condições para as pessoas serem bem-sucedidas. Essa é uma das principais atribuições de um líder, na visão do consultor norte-americano John Baldoni, especialista em liderança, comunicação e motivação. Baldoni é autor de sete livros sobre o tema, entre eles Lead by Example , lançado em 2008, e mantém o blog “Leadership at Work” no site da Harvard Business Publishing. Na entrevista a seguir, o consultor e coach aborda alguns aspectos sobre o desenvolvimento de lideranças nas organizações.

MELHOR – Na apresentação do website de sua consultoria ( www.johnbaldoni.com ) está a frase “Liderança para o século 21”. Existem competências de liderança que serão mais demandadas neste século do que o foram no século 20?
John Baldoni –
Liderança é sempre algo bastante exigido em tempos de crise. Embora eu não possa fazer a previsão para um século, posso dizer que os líderes precisarão se adaptar às mudanças e fazer o que for necessário para levar suas organizações adiante. Eu diria que os líderes no Brasil têm bastante habilidade para lidar com mudanças. Seus ciclos de negócios podem ser profundos e abruptos e a sobrevivência requer agilidade e desenvoltura. Os líderes brasileiros podem ajudar o resto do mundo a aprender a lidar com a mudança e a abraçar novas oportunidades.

O desenvolvimento de lideranças aparece em várias pesquisas como um desafio crítico para as organizações. Como o senhor analisa a importância dessa demanda?
As organizações precisam descobrir maneiras de formar e desenvolver líderes. E o melhor modo de fazer isso é identificar os talentos e colocá-los em posições nas quais possam buscar mais responsabilidades. É essencial insistir nesse aspecto.

Que contribuição os profissionais de RH podem dar para a formação de lideranças?
Os profissionais de RH podem enfatizar programas de desenvolvimento de lideranças, tanto internos quanto externos. É aconselhável oferecer coaching. E também descobrir maneiras de estimular programas de mentoring, por exemplo, líderes seniores trabalhando com líderes emergentes.

O que muda no papel do líder em tempos difíceis – de crise econômica como a atual – ou mesmo em turbulências passageiras? O que não pode faltar aos líderes para manter seus liderados no caminho certo?
O papel do líder é fazer o que é certo para a organização. Isso requer tomar decisões difíceis, bem como demonstrar resiliência. Em tempos difíceis, os líderes precisam estar visíveis, ser ouvidos e estar presentes. As pessoas necessitam ver e ouvir seus líderes (leia mais no quadro abaixo) .

Por que algumas pessoas conseguem ser líderes em algumas circunstâncias e não em outras? Como as empresas podem identificar o potencial de liderança das pessoas e colocá-las em posição de desenvolver o que têm de melhor?
Liderança é liderança, mas se uma pessoa está fazendo um trabalho que não gosta, suas habilidades de liderança podem ser prejudicadas. Isto é, um coach é um coach, um gestor é um gestor. Cabe à organização identificar os talentos de liderança. Isso é alcançado quando as pessoas são colocadas em posições em que tenham responsabilidades crescentes. Ou seja, começar como supervisor, depois, gestor, diretor, VP etc. Ao longo do caminho, você oferece coaching, sobretudo de pessoas de dentro da organização ou de executivos de coaching se for o caso. Avaliações como as da Myers-Briggs, CPI, Lea Hogan, Birkman etc. podem identificar traços de liderança, mas avaliações dessa natureza deveriam ser usadas como “retratos” e não como julgamentos finais. Estenda as avaliações por meio de entrevistas com os colegas de trabalho, superiores e também com subordinados, caso seja necessário. Mas o melhor sinal de liderança é o desempenho do líder ao longo do tempo. Ele alcança os resultados pretendidos? E verificar se ele consegue isso trabalhando com as pessoas e não contra elas.
 
O senhor poderia citar alguma passagem – seja no contexto de business ou um fato histórico ou nos esportes – em que o papel da liderança foi decisivo para transformar uma situação desfavorável?
A liderança é fundamental a qualquer ação em qualquer empreitada. Ainda que eu recorra a muitos episódios históricos, acredito que liderança se dá em todos os níveis. Pode ser o gestor fazendo a coisa certa para o seu departamento ao criar condições para as pessoas obterem êxito. Esses gestores orientam e desenvolvem suas pessoas e, no processo, fazem o que é certo para os indivíduos e, por extensão, para a organização.

Na sua opinião quais características de liderança de Barack Obama foram mais percebidas pelo eleitorado?
Barack Obama é um pragmático. Assim como Franklin Roosevelt, ele tem desenvoltura e é seguro de si. Tem autoconfiança e habilidade para se cercar de pessoas capacitadas. Consegue manter a frieza quando está sob pressão. É um bom e inspirador comunicador. Porém, assim como todos os líderes, o que importa são as ações e os resultados. O Obama está demonstrando liderança; a História será o juiz dos resultados.

Que atributos os líderes precisam ter para envolver as pessoas em suas causas e objetivos?
James MacGregor Burns [biógrafo de presidentes norte-americanos e teórico sobre liderança] escreveu algo que passa a ideia de que os líderes de sucesso são aqueles que inspiram os outros a seguirem sua liderança porque percebem a oportunidade de buscar objetivos comuns e compartilhar valores.

Em seu livro “Lead by Example”, (Amacom, 2008. Não lançado no Brasil), – Lidere pelo exemplo – o senhor aponta quatro passos para estimular a adesão dos seguidores. Poderia resumir cada um deles?
Vamos lá. O primeiro é: Dê o bom exemplo. Antes que você possa liderar outras pessoas, deve liderar a si mesmo. Você precisa saber do que você é feito. Caráter e convicção são importantes. Você precisa também desempenhar o papel de líder estando presente e acessível. Os líderes dão o bom exemplo. Na realidade, o exemplo é o que mais importa. Ele cria a base sobre a qual a confiança floresce. O seu exemplo é o seu caráter na prática. As palavras às vezes valem, as ações valem mais. 
 
O segundo passo?
Demonstre liderança! Você precisa saber quem está liderando e a cultura na qual você pretende liderar. Na maioria das vezes, não haverá mapas, mas uma série de barreiras. É papel do líder identificar as pessoas e colocar a equipe em condições de poder decolar. As pessoas precisam de direcionamento, mas nem sempre necessitam de distâncias. Isso significa que os líderes devem estabelecer a direção, depois recuar e deixar que as pessoas descubram por si mesmas a maneira de fazer as coisas acontecerem. Quando as pessoas aprendem como fazer, elas ficam mais motivadas a ganhar autonomia e, também, a compartilhar com as outras aquilo que aprenderam.

O próximo?
“Segure a barra”. A vida nos apresenta vários desafios. Às vezes, ela vem tão forte que o derrubará. Não há vergonha alguma em cair; o que importa é levantar para lutar de novo. E quando as pessoas o virem fazendo isso, ficarão estimuladas a seguir o seu exemplo. Às vezes, você tem de interagir com pessoas que não estão interessadas em você ou nas suas ideias. Você tem de aprender a liderar em algumas circunstâncias ainda que não esteja instituído como líder. Você precisa provar que tem competência. Precisa usar sua perspicácia e influência para obter êxito. E, ao fazer isso, cria oportunidades para as pessoas ouvirem o que você tem a dizer e lhe dar a chance de comprovar o que está dizendo.

E o quarto passo?
Coloque a equipe em primeiro plano. Nenhum líder vive numa redoma. É imprescindível que você mostre às pessoas o que pensa sobre elas, de maneira honesta e positiva. Isso significa que você direciona as pessoas para serem bem-sucedidas. Você comunica, convence e desafia. E também dá feedback. O fracasso é uma possibilidade, e não o algo que se busque, mas é vital que as pessoas assumam riscos para poderem obter sucesso.

 

Como tornar-se acessível

Como complemento à resposta sobre o papel do líder, John Baldoni sugeriu uma olhada no blog que mantém no site da Harvard Business Publishing (blogs.harvardbusiness.org/baldoni). Sobre o tema em questão, o consultor escreve sobre como o líder deve se mostrar presente e disposto a ouvir as pessoas. “Na minha experiência, os empregados não dão a mínima para seu CEO ou líder de equipe a menos que essa pessoa se conecte a eles de uma maneira genuína”, relata. No trecho a seguir, ele dá dicas de como o líder pode se tornar mais próximo das pessoas que estão no mesmo barco.

Esteja presente. Líderes precisam ser vistos e ouvidos. Líderes precisam se fazer notar ao andar pela empresa, parar nas baias e até mesmo frequentar o cafezinho. Os chefes bem-sucedidos com quem eu tive contato são aqueles que conhecem cada um em seu departamento, porém mais importante é que todos no departamento conheçam o chefe. Mais que isso, quando cada pessoa sente que poderia bater à porta do chefe e expor seu ponto de vista.

Esteja aberto. Ouça o que as pessoas têm a dizer. O simples fato de ouvir traz em si a sensação de se importar com o outro. Também abre o canal de diálogo para se falar sobre a empresa. Chefes não circulam simplesmente para bater papo; eles fazem isso com um propósito, talvez para aprender mais, para encontrar soluções, ou simplesmente para aconselhar. Ouvir é um investimento poderoso em seus funcionários.

Conviva. Quando as coisas se complicam, numa turbulência econômica ou em algum problema interno, as pessoas querem saber se o chefe está com elas. Uma grande reclamação sobre a liderança de Carly Fiorina na Hewlett-Packard era a sensação de que ela se via à parte das outras pessoas. Para ser justo, a senhora Fiorina deparou com uma grande hostilidade quando capitaneou a fusão com a Compaq, e a cultura da HP resistiu às suas novas ideias. Ainda assim, mesmo depois da fusão, ela não foi percebida como uma integrante da equipe. Essa sensação de separação acabou contribuindo para a sua saída da HP.

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