Visão do futuro

de em 17 de agosto de 2009
Manoel Lois: uma companhia que troca demais de presidente, de diretor ou que faz muitas mudanças administrativas não está no bom caminho

Há cinco décadas negociando ações na Bolsa Paulista, a corretora Spinelli é responsável pela análise de centenas de companhias brasileiras de capital aberto, gerencia clubes de investimento e reúne mais de 1,3 mil investidores que aplicam suas economias no mercado de ações. Dona da InvestBolsa, ferramenta de home broker que permite a indivíduos comprar e vender ações a partir de seus computadores em casa ou no trabalho, a Spinelli ganhou destaque nos últimos dois anos por coordenar a abertura de capital de várias empresas de agronegócio, entre elas a Renar, que produz maçãs no interior do Brasil. Um dos cérebros por trás das análises da Spinelli é o diretor de novos negócios Manuel Lois, ex-Lloyds Bank. Para o especialista, os números revelados nos balanços trimestrais das companhias fotografam o passado das empresas. Para Lois, observar a qualidade e visão dos executivos que comandam as companhias é que permite perceber se elas continuarão lucrativas no futuro.

MELHOR – No dia a dia do mercado de capitais, os analistas dão atenção para o capital humano das empresas?
Manuel Lois –
Sim, sem dúvidas. É claro que essa não é uma análise tão objetiva quando estudar balancetes, dívidas e perspectivas de lucros. A avaliação do capital humano ocorre de modo subjetivo e em diferentes momentos de nosso trabalho. Uma das ferramentas que temos são os balanços sociais, que expõem os currículos dos principais executivos de uma empresa, suas realizações e capacidade de superar desafios. Também fazemos essa análise em encontros pessoais com diretores e representantes do conselho de relação com os investidores. Nessa hora, podemos perceber se a companhia tem profissionais qualificados para tocar seus negócios, se os comentários que eles fazem são coerentes e precisos com a realidade do mercado e, sobretudo, a visão que possuem de como superar os concorrentes e diferenciar seus produtos.

MELHOR – As empresas brasileiras sabem explorar o valor de seus talentos?
Lois –
A maioria sim. Sempre que há uma troca de executivos ou de nomes no conselho da empresa o aviso ao mercado é seguido de um mini currículo do novo diretor, o que nos permite saber de onde vem aquele profissional, que experiência ele tem, se já trabalhou em companhias vencedoras etc. Um bom exemplo disso foi a indicação de Carlos Britto para a presidência da Inbev. Trata-se de um ex-estagiário da companhia de bebidas e, ao indicá-lo, os sócios demonstraram que valorizam os talentos da casa, que a meritocracia não é só um conceito abstrato na companhia. Saber que uma empresa dá valor a seus melhores talentos é um ponto positivo para os analistas. Afinal, são as pessoas quem vão garantir que as empresas continuem dando lucros e inovando.

MELHOR – Há companhias que dependem muito de alguns poucos talentos e, sem eles, não seriam empresas tão valiosas?
Lois –
Sim. Em algumas empresas há executivos brilhantes que são símbolos da trajetória de sucesso de uma companhia. Esse talvez seja o caso da Ambev, que possui um quadro de conselheiros muito respeitado. No Pão de Açúcar, por exemplo, a atuação do Abílio Diniz é sempre acompanhada com atenção pelo mercado. Quando o Abílio interfere, aponta um norte, o mercado sente mais confiança. Isto não significa que as empresas sejam dependentes de uns poucos talentos, mas indica que elas devem planejar bem a sucessão destes nomes. Quando o Claudio Galeazzi foi indicado presidente do grupo Pão de Açúcar, por exemplo, tudo foi feito de forma muito inteligente. Tratava-se de um nome experimentado e com trajetória de sucesso e, por isso, a percepção do mercado naquele momento foi positiva. Nesse ponto, aliás, é importante lembrar que em períodos de crise e dificuldade cresce a importância do CEO e dos principais talentos na avaliação que fazemos de uma empresa.

MELHOR – Companhias que não valorizam seus talentos dão sinais ruins para o mercado?
Lois – Uma companhia que troca demais de presidente, de diretor ou que faz muitas mudanças administrativas não está no bom caminho. O mercado vai interpretar que há algo de ruim por trás disso. Às vezes, sob pressão, o conselho de administração pode trocar o CEO ou o diretor de uma área, buscar um novo talento para reverter uma perda de mercado ou reagir ao surgimento de novos concorrentes. Essas mudanças podem sinalizar que a companhia vai cortar mais custos ou vai ser mais agressiva nos preços. A escolha dos nomes que vão ocupar postos-chave na empresa, portanto, deve ser muito bem planejada, pois ela tem, sim, muito peso para  formar a opinião dos investidores.

Compartilhe nas redes sociais!

Enviar por e-mail