Gestão

A essência da liderança

de Dorival Donadão em 29 de outubro de 2015
Dorival Donadão / Crédito: Divulgação
Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano / Crédito: Divulgação

Muitos anos de consultoria e um bom número de projetos em desenvolvimento gerencial nos favorecem um olhar experiente sobre a temática da liderança. Sem qualquer queda tendenciosa e mal-humorada sobre a realidade dessa questão, não há como escapar de uma percepção cada vez mais comprovada pelos fatos: a essência da liderança ainda nos escapa entre os dedos, fugindo de uma síntese convincente. Parece que todos nós, consultores e executivos de empresas, cedemos à magia dos rótulos e nos deixamos levar pelo engano das definições apressadas e quase sempre incompletas.

Esse movimento de autoengano está longe de ser mal-intencionado, ao contrário, é perfeitamente compreensível diante das pressões das circunstâncias para chegar, afinal, a esse estágio de definição. Decifra-me ou te devoro é o postulado mítico que nos impulsiona para defender um papel principal da liderança, capaz de domar a fera das incertezas, das turbulências e da volatilidade que nos aflige em todos os campos de ação.

Nesse contexto, o futuro parece exigir um superlíder, capaz de educar, orientar, inspirar, fazer e acontecer. Seria muito bom se fosse possível. Essas figuras até existem e tiveram seu esplendor na história das organizações e da sociedade. Mas é preciso cautela para interpretar esses redentores. Quando se coloca a lupa da realidade, aparecem vários atributos de coragem e competência, é verdade.

No entanto, o exame mais particularizado mostra também os furos de intepretação, as circunstâncias específicas e os agregados do contexto que deram seus empurrões e que, caso não existissem, tornariam bem menor a relevância do líder e reequacionariam as lições extraídas desses episódios. Foi assim com boa parte dos heróis da literatura de negócios, dos guerreiros militares, dos nobres destemidos da história. A verdade é que não há Super-Homens…

Nietzsche, o maravilhoso e sofrido filósofo que batizou o perfil do Super-Homem, deve dar cambalhotas no túmulo ao ver o que os desenhos em quadrinhos fizeram com o seu conceito, já que a ideia era outra, absolutamente diferente. O Super-Homem de Nietzsche, aliás, não se parecia em nada com o seu próprio autor. Atormentado e inseguro, Nietzsche projetou no seu personagem a vontade de potência, a sede de poder, e não o ser invencível que conhecemos dos quadrinhos.

Não se trata, portanto, de derrubar os mitos da liderança, mas sim de restabelecer uma indagação saudável sobre a sua essência, muito além dos clichês de uma esperança descabida de um salvador da pátria.

Ao buscar a essência da liderança, talvez seja possível encontrar a essência da própria vida, temperada e inconstante, vibrante e ansiosa, fantasiosa e pragmática.  Afinal, como já dizia o sábio Guimarães Rosa, “o bonito da vida é que as pessoas não estão sempre iguais; ainda não foram terminadas”.

As pessoas são como os líderes: vivem num eterno construir.

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