Carreira e Educação

Aprendizado ativo está entre principais competências para futuro do trabalho

Automação obrigará trabalhadores a se requalificarem para cumprirem funções criativas e inovadoras

O Fórum Econômico Mundial publicou no final de 2020 o relatório “The Future of Jobs”, que mapeia os empregos e habilidades do futuro e quais são as perspectivas para a adoção de tecnologia até 2025. Na lista das 15 principais competências para os próximos cinco anos aparece em segundo lugar “aprendizado ativo e estratégias de aprendizado”, fato que reforça a importância da atualização constante dos indivíduos independentemente dos cargos que ocupam.

“Quando falamos em aprendizado ativo, isso está ligado a outras capacidades, como flexibilidade cognitiva; o desenvolvimento de soft skills como a inteligência emocional; a capacidade de resolver problemas complexos de forma colaborativa”, explica Herman Bessler, CEO do Templo.cc, rede de inovação e consultoria em transformação digital.

Segundo o executivo, que estuda o futuro do trabalho, as estimativas de várias pesquisas preveem que o mercado americano nos próximos 15 anos terá uma taxa de automação da força de trabalho em torno de 25% a 50%. No Brasil, ela continuará ocorrendo, mas ainda não possuiria um peso tão grande, embora as transformações já sejam motivos de preocupação para líderes e colaboradores.

Diante desse cenário, Bessler defende que é necessário repensar não apenas as habilidades que precisam ser desenvolvidas com as pessoas dentro das companhias, mas também o design institucional em si. “Precisamos reavaliar a forma como criamos cargos, a maneira como pensamos funções, porque o humano pode ser substituído pela máquina, mas ele pode trabalhar junto com ela para entregar mais resultados também”.

“Quando a gente pensa em transformação a gente foca muito mais na tecnologia do que nas pessoas, mas na verdade sem os indivíduos não há resultados, porque ela é uma ferramenta que precisa ser operada”, afirma.

Para ele, a tecnologia pode liberar o tempo usado com tarefas repetitivas para que ele seja utilizado com trabalhos criativos e inovações. Todas essas mudanças, entretanto, estão relacionadas com a capacidade das empresas se adaptarem e isso passaria pela capacitação das pessoas, pela mudança das suas estruturas e pela transformação dos incentivos para inovar.

“A natureza da mudança se transformou. Antes ela era linear e hoje é exponencial. Não podemos mais ter pessoas que executam trabalhos repetitivos e que não pensam por que as máquinas fazem essa função repetitiva melhor do que nós. Precisamos de indivíduos com capacidade crítica, empreendedores ou intraempreendedores, flexíveis e que continuem aprendendo por conta própria”.

Para o CEO, todo esse arcabouço de habilidades precisa de um programa de desenvolvimento, que não é rápido. Por isso, um dos maiores desafios seria como estimular pessoas que foram ensinadas a seguir comandos, dentro de um paradigma de gestão pautada pelo controle, a adotarem um caminho de autonomia e de colaboração. “Isso é uma mudança muito profunda e cada companhia só muda se cada pessoa se transformar individualmente”.

Dicas para manter o aprendizado

Segundo a doutora em linguística Vívian Cristina Rio Stella, que desenvolve projetos e cursos na área de lifelong learning (educação continuada ou “aprendizagem ao longo da vida”), fazer uma retrospectiva do que foi aprendido em 2020 pode trazer novos insights e reforçar as metas de aprendizado para este ano.

“Você pode separar uma folha de caderno, um bloco de post it, abrir um arquivo no word ou usar aplicativos como Slack, Trello. O importante é listar, escrever, para materializar pensamentos, ideias. Pode ser cinco minutos por semana, mas se quiser aprofundar a reflexão, faça cinco por dia ou 30 por semana”, sugere.

A especialista recomenda que a retrospectiva seja incluída na agenda, já que deverá fazer parte da vida e do trabalho. “Pode-se simplesmente praticar a escrita livre respondendo à pergunta: quais foram os maiores aprendizados de 2020? O que eu aprendi vendo, ouvindo, vivenciando e errando?”.

Stella destaca duas dicas para metas de aprendizado aplicáveis em 2021:

  • Programar na agenda um tempo para aprender, mesmo que inicialmente ele seja um período pequeno. “Tem que ir construindo um hábito, tem que fazer parte da rotina”.
  • Perguntar-se sempre “o que acontece se eu não aprender isso nos próximos três meses ou um ano?”. Segundo a doutora, isso torna a necessidade mais clara. “Pesquisas apontam que 50% da força de trabalho precisa passar por requalificação nos próximos anos, então não podemos nos deixar levar pela rotina corrida e deixar o aprendizado fora do radar”.

Para quem não está habituado em manter a aprendizagem na rotina, ela enfatiza: “As primeiras perguntas são ‘o que eu quero aprender?’, ‘por que?’ e ‘como?’”. A partir desses questionamentos, a especialista recomenda explorar os motivos e as intenções para fazer escolhas com motivações reais evitando cair em modismos.

Quanto ao “como”, ela acredita que as pessoas devem enxergar o aprendizado como algo que ocorre nas mais diferentes situações da vida e que nem sempre depende de um especialista ou de um professor. Nesse sentido, valeria a pena seguir perfis que tratem de temas ligados ao seu foco; conversar com pessoas com um olhar aberto e empático; ver vídeos e séries; ouvir podcasts e separar um tempo para experimentar e aprender na prática.

“Digo isso para a pessoa não sair se inscrevendo em cursos, mesmo que estejam abertos e gratuitos, porque muita gente se frustra ao se matricular em vários e não terminar nenhum”, finaliza. (por Raul Galhardi)

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