fatores que ajudam a diminuir o custo com saúde
Gestão

Os custos com saúde vão aumentar?

Depois da pandemia, a demanda represada de serviços de saúde acaba. E devem entrar em cena a atenção primária à saúde e a telemedicina

Ela representa o segundo maior custo com pessoas em uma empresa. Ou o segundo maior volume de investimento, a depender de como o tema é encarado na organização. Em algumas empresas, isso representa um índice de 12% a até 20% dos custos fixos. Falar de saúde corporativa é, em alguns casos, falar da dor de cabeça que alguns profissionais de RH têm na gestão desse assunto. Para manter os custos em um patamar “saudável”, são muitos os pontos a serem levados em conta e trabalhados para que a sinistralidade de um plano não ultrapasse as expectativas ou metas.

Falta de programas de prevenção de doenças, má utilização do plano (como idas desnecessária aos pronto-socorros), falta de mapeamento de funcionários com doenças crônicas, ausência de uma atenção primária à saúde e um sistema fragmentado de saúde, no qual o colaborador fica perdido, são alguns dos itens que compõem a receita quase perfeita para colocar em risco os custos de uma empresa quando o assunto é saúde do colaborador. Será que depois desta pandemia esses custos serão maiores?

Pesquisa mostra que funcionários utilizam as soluções digitais e serviços de saúde a distância para encontrar o médico certo ou a assistência médica correta

Com o avanço do novo coronavírus, muitas mudanças impactaram a relação entre empresas, colaboradores e saúde: do maior oferecimento de consultas a distância até a recomendação de idas estritamente necessárias para os ambulatórios hospitalares, passando pela (re)descoberta da importância da prevenção. Será que desse novo relacionamento vai ser possível baixar os custos das empresas?

Telemedicina com papel importante no pós-pandemia

Ronaldo Abe, diretor médico de saúde corporativa da consultoria EY, conta que, com a pandemia, muitos procedimentos eletivos foram cancelados para serem retomados depois. Ao mesmo tempo, muitas pessoas têm segurado ao máximo a realização de exames, evitando idas aos laboratórios, o que deve aumentar após a pandemia. O mesmo com as idas aos pronto-atendimentos, neste momento para evitar qualque chance de contágio pelo novo coronavírus. “Por outro lado, há expectativa de um maior uso da telemedicina mesmo após a pandemia, o que reduziria as idas aos prontos-socorros”, diz.

Aproveitando o gancho da telemedicina, vale mencionar que o uso a tecnologia aliada à saúde no mundo corporativo parece ter uma boa receptividade. Ao menos é o que indica uma pesquisa feita pela consultoria Mercer Marsh Benefícios. O estudo mostra que 73% dos funcionários utilizam as soluções digitais e serviços de saúde a distância para encontrar o médico certo ou a assistência médica correta quando necessitam.

Ronaldo Abe, da EY
Ronaldo Abe, da EY: telemedicina e prevenção (crédito: Duda Bairros)

A pesquisa, batizada de Saúde sob demanda, ouviu com 16,5 mil trabalhadores, de 18 a 64 anos, em 13 países de economia em crescimento (Brasil, China, Colômbia, Índia, Indonésia e México) e economias maduras (EUA, Canadá, França, Itália, Reino Unido, Singapura e Países Baixos). Por aqui, foram ouvidos mil colaboradores.

O levantamento revela, também, que pouco mais da metade (52%) dos colaboradores entrevistados deseja estar empregado em empresas que disponibilizam aplicativos e outras plataformas digitais para ajudá-los a encontrar com mais facilidade médicos, agendar consultas e gerenciar dados sobre a sua saúde.

Atenção primária em destaque

O diretor médico da EY conta que na consultoria sempre foi feita uma gestão do plano de saúde para que ele seja sustentável a longo prazo, mantendo a qualidade médica e tendo a redução de custos como consequência, refletida em uma taxa de sinistralidade abaixo do chamado break-even.

E aqui entream dois atores importantes: a tecnologia, via telemedicina, e a atenção primária à saúde (APS). Abe acredita que a APS vai ganhar mais destaque daqui por diante, em especial com a telemedicina, que é um canal centrado na atenção primária, na avaliação dele.

“O conceito de APS, mesmo antes da pandemia, já vinha sendo reforçado como uma estratégia importante na sustentabilidade do sistema de saúde”, diz. Na EY, desde o início da área de saúde corporativa, comandada por ele, foi adotado o modelo de gestão integrada, no qual a atenção primária é um dos pilares principais. “Ela é uma das bases para nosso objetivo de promover a saúde de nossas pessoas dentro de um modelo de saúde sustentável a longo prazo com qualidade”, diz.

A pandemia pode ajudar a criar uma nova postura com uma melhor utilização de todos os recursos, incluindo o uso racional do plano de saúde

Na One7, empresa especializada em antecipação de recebíveis, a atenção primária também é destaque, como afirma Paula Reis Brabo, executiva de gestão estratégica de pessoas da empresa. Ela conta que o índice de sinistralidade por lá não é expressivo e, com os estímulos de autocuidado e de bons hábitos, deve diminuir daqui para a frente.

“A atenção com cuidados preventivos vai aumentar e estimularemos o equilíbrio”, diz. Parte desses cuidados já se mostram evidentes neste momento em que a empresa começa o processo de retorno ao trabalho na empresa, tendo como exemplos os a adoção dos protocolos de segurança sanitária, além da autonomia ao decidir se há a necessidade de retorno ou não ao escritório.

Lições com a pandemia

Assim como na EY, na Simpress, provedora de outsourcing de equipamentos e soluções, a atenção primária à saúde é uma tendência que vem de anos anteriores à pandemia – e que deve, por sua natureza, seguir forte dentro da visão de promoção da saúde e prevenção de doenças, como destaca Daniela Santos, diretora de capital humano da organização. “Esse tipo de atenção leva a melhorias nos indicadores, bem como eficiência no fluxo de usuários no sistema de saúde, tratamentos mais assertivos de condições crônicas, maior utilização de práticas preventivas e satisfação dos usuários”, diz.

Para a executiva, os custos com saúde devem aumentar. E isso tende a acontecer devido, justamente, a uma demanda represada de serviços de saúde que estão paralisados ou em menor ritmo devido à pandemia. No entanto, para ela, este período pode, sim, deixar algumas lições e ajudar a criar uma nova postura com uma melhor utilização de todos os recursos, incluindo o uso racional do plano de saúde, bem como as mudanças de atendimentos via telemedicina, que poderão contribuir positivamente, diminuindo os custos depois.

Na Simpress, aliás, já existe uma cultura de conscientização sobre o uso do plano de saúde. “Esse é um tema pelo qual todos são responsáveis”, conta Daniela. A cada mês, a empresa divulga os resultados dos custos e as melhores práticas de utilização do plano, tanto para os titulares quanto para os dependentes. Além disso, existe também o acompanhamento de um comitê de saúde.

“Esse acompanhamento permite conhecer quais são os principais custos, no que tange o plano de saúde, e realizar as ações preventivas necessárias para mitigar os riscos. As ações são recorrentes e estruturadas, o que ajuda a Simpress a manter o equilíbrio do índice de sinistralidade, contribuindo para as negociações de reajustes do plano de saúde”, observa a executiva. (Gumae Carvalho) 

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