Gestão

Chega de praguejar<br /><br />

de Marcelo Lacerda* em 20 de abril de 2010

Um estudo divulgado recentemente por uma entidade britânica tem provocado bastante polêmica mundo afora. A tese defendida pela Fundação Nova Economia é de que a única forma de controlar o aquecimento global é interromper o ciclo de crescimento econômico. Ou seja, o crescimento econômico incessante está consumindo a biosfera do planeta além de seus limites.

A proposta de eliminar ou restringir uma atividade em prol de um determinado viés é recorrente na política econômica mundial, mas raríssimas vezes atingimos tal patamar de grandiosidade. O raciocínio por trás disso está mais do que impregnado no nosso dia a dia: para controlar, taxa-se; para reprimir, multa-se. E assim seguimos uma corrente de soluções paliativas em que ninguém se compromete com nada.

Nesse contexto, depois de uma onda em que ser sustentável era a ordem do dia, o meio ambiente parece ter voltado a sua posição de coadjuvante.  É o que mostra, por exemplo, uma pesquisa recente feita no Reino Unido pelo Instituto Ipsos Mori: a proporção de adultos que acredita que as mudanças climáticas são uma realidade “com certeza” caiu de 44% para 31% nos últimos doze meses.

Essa não é uma perspectiva isolada, mas pode e deve ser revertida com base no protagonismo de cada um. O primeiro mito  que se deve derrubar é, justamente, o de que a atividade econômica necessariamente antagoniza com o meio ambiente. Ao contrário, é plenamente viável e estrategicamente inteligente obter crescimento por meio da preservação do meio ambiente e pelo respeito aos anseios dos diversos agentes sociais.

Na verdade, a adoção de práticas sustentáveis nas organizações não deve mais ser vista como mera ação filantrópica ou algo parecido. Trata-se, de fato, de um diferencial competitivo. Estão aí as políticas de reutilização de água, as usinas de cogeração baseadas em energias renováveis, as teleconferências substituindo as reuniões presenciais, o próprio home office e outras dezenas de práticas que já se mostraram extremamente eficazes para redução de custos e para a desburocratização de processos. 

Outro estudo encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) dá fôlego à urgência de trazer a questão da sustentabilidade para a estratégia de negócios. Segundo esse levantamento, se as 3 mil maiores empresas globais tivessem de arcar com os reais custos da poluição, das mudanças climáticas e de
outros impactos ambientais, perderiam nada menos que um terço de seus lucros – cerca de 2,2 trilhões de dólares.

É preciso, portanto, antever esse cenário antes que ele tome a proporção de crise, não apenas do ponto de vista financeiro, mas também no que diz respeito à escassez de insumos para a produção. É preciso que a questão da sustentabilidade saia das áreas de marketing e de RH e seja assumida e direcionada pelo departamento ou pelas pessoas responsáveis pela estratégia das organizações e que elas, cientes de sua importância, trabalhem com o mesmo empenho que o fazem para pensar suas marcas, seus produtos e seus serviços. Chega de esperar, ou pior, de praguejar. Vamos agir!

*Marcelo Lacerda é presidente da Lanxess no Brasil

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