Gestão

Conta com sentido

de Marcos Nascimento em 13 de novembro de 2012

Volta e meia, o custo do trabalhador brasileiro aparece em inúmeras rodas de discussão em empresas e até fora delas. Nesses debates, a parte tangível desse valor (e há uma intangível) é clara, pois sempre se falou que um trabalhador custa, em média, duas vezes mais do que ele recebe. Numa conversa com amigos, recentemente, tratamos desse tema e, ao nos depararmos com essa conta surgiu um misto de incredulidade e indignação – comum a todos que pensam sobre o assunto.

Tamanha a indignação que fizemos uma parada e começamos a trabalhar para verificar realmente do quanto falávamos. Para surpresa de muitos, chegamos a um número maior: o custo é exatamente 2,83 vezes mais (ou 183%) do salário que um trabalhador recebe. Várias foram as análises e fontes, mas a que nos trouxe esse número vem de uma boa discussão sobre um estudo que o Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgaram faz pouco tempo. Um fator interessante foi que a pesquisa contemplou mais de 30 componentes nesse custo (o 13º, adicional de férias, vale-transporte, INSS do empregador, administração de pessoal, licença maternidade, FGTS). E olha que não estão os custos potenciais como, por exemplo, o de um afastamento por doença, que inclui não só o custo do tratamento, mas também o da ausência do trabalhador. 

O bacana de toda essa história é que mesmo no custo tangível existem os fatores que não estão sob controle. E foi justamente o que focamos: quanto custa um trabalhador, sob as duas dimensões? Se já é difícil encontrar uma resposta exata, mesmo para a dimensão que se pode medir, imagine quando se toca na dimensão intangível? E com isso nos referimos às disfunções comumente encontradas nas organizações: desalinhamento do que chamamos de resultados, objetivos e metas (ROM), falta de engajamento, liderança despreparada, retrabalho… A variação desses componentes intangíveis é imensa. 

O custo do trabalho no Brasil é alto sim, mas o que fazer para diminuir isso? Trabalhar os tangíveis é mais complexo, por incrível que pareça, pois depende de fatores externos (impostos, taxas e tributos). Entretanto, quando trazemos a discussão para a dimensão menos tangível, há esperanças. Mais que isso, há inquietude e vontade de trabalhar o tema de forma ampla, assumindo o protagonismo que gestores maduros devem ter. 

O custo do trabalho no nosso país não diminuirá. Portanto, não reclame por reclamar, fazendo parte apenas do problema. O convite, aqui, é ser parte da solução, como líderes verdadeiramente preocupados com a sustentabilidade e a excelência do que está colocado sob sua responsabilidade, administrando, gerenciando e gerindo com a eficácia e eficiência que a importância do tema nos demanda. Não se trata apenas de cálculo dos tangíveis, mas, mais importante que isso, se trata da reflexão sobre os intangíveis e como efetivamente gerar valor para e nas organizações. Preocupemo-nos com o custo, mas coloquemos mais atenção na geração de valor. Faz mais sentido, é mais prazeroso e traz mais impacto.


Marcos Nascimento
é partner na Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams

 

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