Recrutamento e Seleção

Criação de vagas no mercado de tecnologia segue aquecida

Apesar da alta demanda no setor, faltam profissionais capacitados para assumir os cargos disponíveis

Com a crise sanitária e econômica gerada pela Covid-19, muitas empresas precisaram se digitalizar e processos que antes eram offline passaram para o online. Levantamento da plataforma Catho, divulgado na última semana de janeiro, mostra que o estado de São Paulo registrou um crescimento de até 671% nas vagas do setor de tecnologia em 2020. A empresa atribui esse aumento à transformação digital vivenciada por companhias de diversos segmentos que atuam na cidade e no estado.

“Tudo virou tecnologia. Antes ela era apoio, hoje é core business. Os departamentos técnicos nas empresas agora estão virando parte do negócio”, afirma Andrey Coelho, CEO da Yaman. Para ele, a pandemia acelerou os processos de digitalização que já estavam em curso.

Segundo Coelho, as organizações que estavam mais próximas de se digitalizar tiveram mais sucesso nesse período e entregaram os produtos e serviços com mais agilidade. Aquelas que não estabeleceram canais digitais com os clientes, por sua vez, ficaram para trás ou fecharam.

“O setor de e-commerce, por exemplo, foi um que passou por uma intensa transformação e crescimento”, afirma Carolina Carioba, chief people officer da Nuvini, grupo de empresas de SaaS (Software as a Service).

De acordo com Tatiana Chebat, superintendente sênior de recrutamento para tecnologia na Robert Walters, além do impulso dado pela pandemia, outra razão também contribui para esse aquecimento do mercado de TI. “As empresas diminuíram a procura por programadores em países como Índia e EUA e perceberam que seria melhor desenvolver softwares dentro delas porque facilita a manutenção e o controle do código”.

Embora haja uma procura enorme por profissionais no setor, Carioba afirma que a demanda ainda é muito maior que a oferta. Entre as causas, estão a falta de treinamento por parte das organizações e o fato de que a concorrência nessa área ocorre em nível internacional.  “Um bom desenvolvedor no Brasil pode trabalhar para fora e ganhar em dólar ou em euro”.

Nesse mesmo sentido concorda Chebat. Segundo ela, uma pesquisa realizada pela Robert Walters mostra que a tendência para os próximos três anos é que sobrem 100 mil vagas no setor por falta de pessoas preparadas para assumi-las.

“O grande desafio da maioria das startups é ter um CTO e investimentos para contratar desenvolvedores, engenheiros de software, especialistas em UX (User Experience)”, sustenta o CEO da Yaman.

Para ele, a falta de capacitação no mercado é em parte derivada de um problema histórico. A automação industrial sempre gerou falta de pessoas capacitadas nos períodos de mudança e o “boom” tecnológico atual intensificou esse problema. Aliadas a essa questão, estão a falta de educação para tecnologia e de foco em segmentos específicos.

“Cursos técnicos como os do Senac e Senai foram criados porque não dava para esperar que os futuros profissionais se formassem em universidades. Precisamos promover mais profissões tecnológicas. Hoje ainda se procura muito Direito, Administração, que são áreas que já estão sendo diretamente impactadas pelos processos de automatização”, defende.

Para incentivar a educação no mercado de TI, Coelho diz que a Yaman dará início a um programa de bolsas de estudo para capacitar jovens do ensino médio público. Serão cem bolsas com duração de um ano para a formação de técnicos na área, que poderão ter espaço para trabalhar dentro da empresa.

Devido à essa falta de preparo no mercado nacional, a executiva da Nuvini acredita que esse cenário ainda tem muito a avançar. “Não vai diminuir a procura por profissionais desse tipo porque há cada vez mais startups de tecnologia surgindo e sites que otimizam processos para resolver problemas antigos das empresas”. Para ela, o setor permanecerá aquecido pelo menos pelos próximos dez anos.

“É um caminho sem volta. Quando você muda um comportamento por quatro meses, ele vira um hábito. Antigamente, quando se pensava em supermercado se imaginava algo físico. Agora as compras online já viraram uma realidade”, defende Coelho.

Perfis procurados

Para atender todo o ecossistema de startups do grupo, a Nuvini tem realizado a contratação de freelancers para atendimento por projetos principalmente nas áreas de Desenvolvimento e de Customer Success.

A Yaman, por sua vez, está iniciando um processo de recrutamento de mais de cem colaboradores em setores como Engenharia em qualidade de software, Engenharia em performance de software, Segurança cibernética, e, assim como Nuvini, programadores também são requisitados.

De acordo com a consultora da Robert Walters, profissionais ligados à área de análise e gestão de dados têm sido muito procurados pelo mercado. “As empresas começaram a se orientar por dados e cargos como cientista e engenheiro de dados são muito requisitados”.

Outra característica também buscada pelo mercado é a capacidade de se relacionar com pessoas. Ela diz que é muito comum que os profissionais da área de TI sejam introvertidos e que prefiram trabalhar remotamente ao invés de irem até os escritórios. (por Raul Galhardi)

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