CONARH

Eu já vi esse filme?

de Gumae Carvalho em 17 de agosto de 2017

Outra opção de título para este texto poderia ser algo na linha do que Jakie Rabinowitz disse no filme “O cantor de jazz” (“Vocês ainda não ouviram nada!”), mas com uma leve mudança: “Vocês ainda não viram nada!”. E essa mensagem é para você, RH! Sim! Mas, calma, vamos chegar lá.

Uma produção de 1927, o filme estrelado por Al Jolson foi um divisor de águas no cinema. Até então, o som que existia nas salas de projeção ou se resumia ao que saía de um piano (para dar ritmo às cenas) ou ao que atores que ficavam atrás da tela diziam, dublando quem aparecia no “ecrã”. Até então… “O cantor de jazz” foi o primeiro filme a não precisar desses trabalhadores, pois ele tinha o som (falas e canto) sincronizado com um disco de acetato.

E o que isso significou? Novas possibilidades de contar histórias, novos nomes surgindo no mercado…  E alguns saindo, literalmente, de cena, como o pianista e os dubladores. E quem não se lembra de “Cantando na chuva”, de 1952, que retrata isso? De um lado, a estrela da época muda que se vê sem voz apropriada para o novo momento. De outro, a moça singela que se revela um verdadeiro talento para ser a mocinha. E entre elas, Gene Kelly dançando e cantando magistralmente… na chuva!

(Antes, um parênteses: para aqueles que ainda teimam que essa onda ou revolução 4.0 não passa de fogo de palha, sinto avisar que algo parecido aconteceu com a próprio cinema. Muitas pessoas acreditavam que os antigos cinematógrafos eram uma moda passageira, que perduraria apenas em parque e exposições. Como trens fantasmas…)

Ao longo de quase 18 anos de vida na revista Melhor RH, sempre tive a sensação de que, de todas as áreas de uma empresa, a que mais passou por transformações nos últimos tempos foi a de recursos humanos. Do antigo DP até às mais diferentes nomenclaturas que encontramos hoje nas empresas, a área foi (re)descobrindo sua complexidade na mesma medida da complexidade do ser humano e de suas relações – num primeiro momento dentro e, depois, também fora das empresas.

Com o avanço da transformação digital, haja complexidade! E desafios.

E o que resta dizer? Pelas discussões apresentadas durante esta 43ª edição do CONARH, sobra frase cinematográfica “Vocês ainda não viram nada”… Sim, o futuro é um grande ponto de interrogação no mundo VUCA (do inglês Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo). E também instigante.

A exemplo do filme de 1927 dirigido por Alan Crosland, a questão dos empregos é um fato. Como o RH vai lidar com essa mudança ou se antecipar a ela? Como buscar esses novos profissionais e quais competências serão necessárias? E que outros processos de recursos humanos a tecnologia dará conta? Quem e como será esse RH digital? Teremos pessoas em RH?

Sim, teremos pessoas, sempre! E teremos também a inteligência artificial! E como será fazer a gestão de pessoas em um ambiente com gente e máquinas ou mais de um Hal (de “2001, uma Odisseia no espaço”)?

E a liderança? Se já é difícil formar novos líderes no atual cenário, será mais fácil no auge da revolução 4.0? E quem será esse líder? Aquele que não estiver atento a essa transformação ficará sem voz e, pior, sem vez…

E pensando mais adiante: na revolução 6.0, como será a empresa?

Uma coisa é certa, um perfil de líder já ficou para trás. Aquele personagem onisciente vai para o rol dos mitos ou das lendas. Não é possível ter todas as respostas, mas é crucial ter empatia. Temos, como líderes, de nos preparar para a escutar mais e falar menos. Respeitar mais e estrilar menos. Para alguns, serão momentos de choro e ranger de dentes. Mas, paciência: pode ser a chance de aparecem novos talentos. Digo, atores.

De todas as minhas conversas nesses três dias de evento, pude perceber que, ao lado do “high tech”, o “high touch” é fundamental – e perene. Sem o humano, a tecnologia não tem sentido. Talvez, até, ela ajude a gestão a ser mais “humanizada”. Paradoxal? Não. Lógico, talvez. Ou elementar demais, meu caro Watson (sem referências ao trabalho da IBM, mas apenas ao amigo de Sherlock Holmes).

As mudanças serão profundas e ainda não vimos nada… Ou será que já assistimos a esse filme em todos os processos de mudança tecnológicas e nada aprendemos?

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