Gestão

Fazer ou criar… eis a questão!

de Marcos Nascimento* em 17 de junho de 2011

Uma coisa me chama a atenção cada vez mais nas intervenções que faço, principalmente nas empresas de países latino-americanos: é a vontade de serem mais e mais competitivas e de expandirem suas fronteiras internas e externas. Entenda-se por fronteiras internas as barreiras que elas se impuseram durante anos, sujeitando-se a formas e conteúdos na maneira de gerir os negócios, sem se atentar para alguns riscos. O principal desses riscos era justamente acontecer o contrário do que buscavam: menos produtividade e, por consequência, menos competitividade. Isso porque passaram a focar, de forma até alienante, somente o “fazer”, esquecendo ou não colocando o devido esforço no “criar”. Mas seria isso um pecado organizacional? Em teoria não, mas com certeza os frutos dessa colheita podem não ser os melhores.

É nesse cenário que tenho vivenciado muitas situações de empresas, algumas seculares, que estão reunindo seus líderes pela primeira vez para falar sobre modelos de liderança, alinhamento, novas formas de conduzir suas unidades, necessidade de desenvolver seus subordinados, entre outras coisas muito básicas. O que mais me impressiona é que falamos de empresas líderes em suas indústrias, ícones de seus países. Ou seja, não são empresas sem recursos, informações ou bons profissionais. Contudo, ainda assim focaram “fazer” e acabaram por negligenciar, esquecer ou mesmo julgar que não eram capazes de “criar”, sobretudo sua própria história. Uma pena, pois o que tenho visto são profissionais atrofiados por processos de comando e controle que os colocaram em uma situação muito cômoda, em que uma troca injusta vem ocorrendo por muitos anos: um bocado de dinheiro por seu “pensar” e seu “querer”, desde que o seu “sentir” não entrasse na equação. Pode até parecer um pouco romântico, mas é justamente quando atacamos as questões organizacionais com um tríplice arquétipo – o do pensar, sentir e querer – é que percebemos quanto ficaram presos ao fazer, julgando que o “sentir” de nada serviria para seus planos futuros.

Mas, como sempre, há gente olhando para isso de forma diferente, com um senso de urgência adequado e equilibrado e tentando mudar a sua história e de suas organizações, procurando dar espaço para o “criar”. Vale analisarmos o custo que tivemos em simplesmente focar nossos melhores esforços no fazer, no ter o made in em nossas mentes e ações. E, claro, pensemos nos benefícios que poderemos trazer para mentes, corações e organizações se trabalharmos o created in, focando também no sentir, completando assim a integralidade dos profissionais e por que não das empresas. A isso muitos chamam de criação de imagem. Sinceramente, vejo essa situação mais como uma transformação, uma mudança profunda e irreversível na estrutura do que e no como fazemos na vida e nas empresas. A pergunta que fica é: o quanto você está disposto a ampliar sua zona de conforto e passar do “fazer” para o “criar”? É claro que isso gera ansiedade. Mas não há aprendizado sem “dor” e sem algum incômodo. Mas ao final vale a pena. A sensação é fantástica!

* Marcos Nascimento é consultor organizacional da McKinsey e educador

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