Gestão

Gestão desdobrada

de Fabíola Lago em 7 de janeiro de 2010

Toda sexta-feira, a partir das 4 horas da tarde, na Art It, especialista em soluções para o mercado de telecom, os teclados são trocados por violões, baterias e guitarras. “Profissionais de TI trabalham sob grande estresse e esse é um momento em que conseguimos parar por um instante e relaxar, o que é essencial para a produtividade”, afirma o líder técnico Marcos Davi Mendes, um dos colaboradores da empresa localizada em Campinas, interior de São Paulo. Considerado uma das feras quando o assunto também é moda caipira, Mendes acrescenta que esses momentos de relaxamento ajudam, e muito, a aproximar os colegas e, a reboque, ainda traz leveza para o ambiente.

Botar o povo da empresa para soltar a voz ou exercitar seus dotes artísticos é uma das ações de um amplo programa denominado Art em Movimento. Na verdade, o que a empresa fez foi reorganizar as várias ações que aconteciam no ambiente de trabalho e unificá-las num único projeto, que tivesse uma mesma base. Em outras palavras, o Programa Art em Movimento condensou tudo o que a companhia já vinha fazendo e relacionou o tema saúde em cinco áreas que afetam a vida dos colaboradores. Assim, todas as iniciativas estão divididas em: saúde corporativa; física; social; profissional; e financeira.

O diretor de RH e um dos sócios da empresa, Rômulo Cesar de Paula, explica que, diante da forte competitividade para atrair e reter talentos de TI na região de Campinas, a empresa resolveu investir no clima organizacional para reduzir a alta taxa de turnover, que, no segmento, atinge uma média de 20%. “Por isso, reorganizamos todas as ações e criamos esse programa”, conta.

O resultado, até o momento, não poderia ser melhor: a Art IT está entre as 60 melhores empresas para trabalhar no ranking do Great Place to Work; e, além disso, ocupa a nona posição no quesito alta escolaridade, a quarta em descontração e a décima melhor empresa de TI para trabalhar em Campinas.

E as expectativas são bem positivas: deve ter fechado 2009 com um faturamento total de 15,4 milhões de reais. Em 2008, esse volume foi de 13,5 milhões de reais. O diretor de RH explica que criar um clima organizacional descontraído e um sentimento de orgulho por trabalhar na Art IT passou a ser o diferencial da companhia. “Nossa expectativa, no ano passado, é ter registrado um índice de turnover em torno de 7,5% e a perspectiva é de que caia ainda mais em 2010. Fecharemos 2010 com 200 colaboradores”, adianta.

Murais
Com diretores na faixa dos 30 anos e 180 colaboradores com idade média de 25 anos, a empresa sabe exatamente a importância de seu capital intelectual. Por isso, muitas vezes, os trainees têm sua contratação efetivada antecipadamente, antes mesmo que o estudante conclua sua graduação, como explica Rômulo. “Eles iniciam na fábrica de testes e são avaliados durante noventa dias. Dependendo de sua avaliação, podem escolher um projeto para participar mais efetivamente”, explica Cesar de Paula. Ainda segundo ele, os estagiários começam com remuneração de 700 reais, além de benefícios como alimentação e seguro de vida, e podem chegar a ganhar cerca de mil reais, de acordo com o desempenho e tempo de casa. “Todos os colaboradores são avaliados periodicamente com critérios objetivos como pontualidade, frequência e resultados; e subjetivos, como comportamento, espírito de equipe e dedicação”, acrescenta.

Além de bancos de currículo e relacionamento próximo com as universidades, a Art It incentiva a indicação de profissionais quando há vagas. Um amigo apresentado, se efetivado, transforma-se em gratificação em dinheiro para quem o indicou. “Também incentivamos a troca de conhecimento. Se alguém conhece uma nova tecnologia ou algum pesquisador desenvolve uma ferramenta inovadora, temos abertura para fazer workshops, palestras, sempre no horário de trabalho para a troca de conhecimento”, explica o diretor de RH.

Esse espírito aberto também está contemplado na gestão transparente da empresa. Projetos, novos clientes, orçamentos e resultados são publicados em murais semestralmente – práticas que estão englobadas no Art Saúde Corporativa. Ou seja, todos sabem o que está acontecendo na companhia.

Benefícios variados
Para o diretor da faculdade de engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), professor doutor Francisco Carlos Paletta, a capacidade de inovação é que diferencia as organizações hoje. “Atualmente, a busca por talentos é mais crítica do que a busca por mercado. Se há um gap tecnológico, você pode conseguir empréstimos e comprar equipamentos, mas a inovação só pode vir dos recursos humanos de que a empresa dispõe”, analisa.

E esses recursos humanos que fazem a diferença, nem é preciso dizer, exigem não apenas remuneração digna, mas também reconhecimento, um ambiente de trabalho agradável e espaço para atitudes inovadoras. “Talentos são estimulados por outros fatores. Os gestores de RH devem estar atentos a questões como sustentabilidade, meio ambiente, ações sociais, qualidade de vida e lazer integrado. São valores intangíveis que contam para o profissional comprometer-se com a empresa em que vai trabalhar”, ressalta o professor Paletta.

Esses aspectos não estão fora da agenda da Art It. Tanto que, no que se refere às ações do programa relativas à saúde social, a companhia estimula o voluntariado entre os seus colaboradores e a participação destes em campanhas promovidas por ela, tais como coleta de agasalhos, brinquedos e alimentos para doação às comunidades carentes. E algumas dessas campanhas podem ser sugeridas pelos colaboradores.

Aliás, manter um canal aberto de comunicação para ouvir os funcionários é uma ação importante para quem deseja melhorar o clima organizacional. Na empresa de Campinas, por exemplo, é uma das formas encontrada para receber uma crítica, uma sugestão ou até mesmo uma solução a um problema. A grande questão é não virar as costas para essas contribuições e saber reconhecê-las. “Trabalhamos com jovens com alto nível de escolaridade – pós-graduados e mestres – e como o mercado da região é muito aquecido, ter uma política de retenção exige capacidade de acolher essas observações”, acredita Rômulo Cesar de Paula.

E no que se refere a ações de reconhecimento e motivação, a empresa parece estar bem servida. Neste último caso, por exemplo, vale citar o prato de bateria que existe em cada andar da companhia. Assim que uma equipe ou colaborador alcança uma meta, vai lá e bate no instrumento. O mesmo acontece quando se conquista um cliente ou fecha-se um projeto. Ou, ainda, quando há a necessidade de comunicar algo como uma sugestão para corrigir algum aspecto de um projeto, por exemplo. Mas há um detalhe: se for uma boa notícia, as chances de comemorar o feito com champagne são grandes. E para todos.

Jam sessions
A liberdade no horário e a possibilidade de trabalhar remotamente por meio de um programa VPN (do inglês Virtual Private Network ou Rede Particular Virtual, uma rede de comunicações privada normalmente utilizada por uma empresa ou um conjunto de instituições, construída em cima de uma rede de comunicações pública, como internet) são outros atrativos do programa, além das palestras sobre educação financeira que são ministradas. “Já tivemos palestras com a Bovespa para entender como investir em ações, como melhorar planilhas de gastos pessoais e a importância de se pensar em longo prazo nesse aspecto”, lembra a analista de sistemas Samantha Possobom.

Para ela, outro aspecto interessante do Art em Movimento são as informações de saúde. “Um dia, recebemos um comunicado falando sobre um determinado suco e suas propriedades; no outro, ele foi distribuído para toda a empresa experimentar e ver que é bom mesmo”, conta.

O programa contempla, ainda, palestras sobre postura e ergonomia, organização de eventos esportivos (como campeonatos de futebol e grupos de corrida), acompanhamento da saúde dos colaboradores e sessões de quick massage, sempre que possível.

Com o auxílio da intranet, os funcionários vão se inteirando sobre as ações programadas e podem, também, compartilhar fotos de iniciativas já realizadas. Um deles é o Art Music, um dos primeiros movimentos, ou iniciativas, acolhidos no programa Art em Movimento. Eram pequenas jam sessions que rolavam na companhia desde 2004 e das quais Marcos Davi Mendes, o líder técnico que aparece no início deste texto, participava. Ainda na intranet a empresa disponibiliza os profissionais de destaque nas divisões do programa. Em 2008, por exemplo, dentro de saúde corporativa, Mendes foi a revelação. “Fiquei muito feliz, inclusive porque o anúncio foi feito durante uma festa de comemoração e os clientes estavam presentes. Foi um projeto que exigiu muito de nós e conseguimos atender o prazo de entrega, mostrar comprometimento e isso valoriza o nosso trabalho”, lembra.

Cinco esferas da saúde

Para vencer o problema do turnover, que é marcante em todo o setor de tecnologia da informação, a Art It resolveu investir no bem estar do funcionário e na criação de um ótimo clima organizacional. Incorporou num único programa as várias ações já disponíveis na companhia e, tendo como base o tema saúde, propôs atividades em cinco áreas que envolvem o bem-estar do colaborador: saúde corporativa; saúde física; saúde social; saúde profissional; e saúde financeira. Dentro desse “guarda-chuva”, são realizadas várias iniciativas como, por exemplo:

– Saúde corporativa: eventos de integração entre os colaboradores, realização de bazares, divulgação dos resultados da empresa.

– Saúde física: palestras sobre postura e ergonomia, organização de eventos esportivos (como campeonatos de futebol e grupos de corrida), acompanhamento da saúde dos colaboradores.

– Saúde social: estimulo à participação dos funcionários em ações sociais e programas
de voluntariado.

– Saúde profissional: realização de treinamentos contínuos, com foco em aptidões específicas e liderança.

– Saúde financeira: realização de palestras sobre finanças pessoais e outras iniciativas para orientar o colaborador em suas finanças.

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