Gestão

Multitasking: um dos grandes mitos, diz especialista

de Redação em 20 de março de 2019
Crédito: Shutterstock

Sim, você já deve ter ouvido falar em multitasking. “Talvez até se considere excelente em desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, como digitar no celular, enquanto analisa um relatório e escuta a dúvida de um dos membros da sua equipe”, diz Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de neurociência organizacional.

“A maioria de nós está constantemente sobrecarregada de atividades. O avanço da tecnologia, e não é de hoje, fez maravilhas, sem dúvida. Mas trouxe também um volume de informação e um imediatismo que exige de nós um esforço grande para lidar com todas as demandas que surgem”, destaca Thaís.

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A consequência dessa avalanche é, ainda que não percebamos conscientemente, colocar nosso cérebro para funcionar em um modo pouco produtivo. “Um trabalho da Universidade Stanford mostrou que apenas 2% das pessoas são realmente eficientes em fazer mais de uma tarefa em paralelo. Para a maioria de nós, o multitasking é apenas um mito”, afirma a neurocientista.

Mas por que exatamente fazer várias coisas ao mesmo tempo, ou praticar o multitasking, é nocivo para nosso cérebro e nossa produtividade? Thaís mostra três razões para você evitar isso na sua rotina de trabalho (e pessoal):

1 – Desperdiça tempo
Ao tentar se concentrar ‘ao mesmo tempo’ em mais de uma atividade, normalmente acreditando que conseguirá entregar mais em menos tempo, você na verdade desperdiça tempo! Por que isso ocorre?

“Nosso processamento atencional só consegue dar conta de uma atividade por vez. Apesar de parecer que estamos realizando diferentes tarefas em paralelo, o que ocorre na verdade é um fenômeno conhecido como ‘switch atencional’. Ou seja, trocamos o foco da nossa atenção de uma atividade para a outra, de forma bastante rápida, e por isso temos a falsa sensação de que estamos fazendo duas coisas ou mais, simultaneamente”, explica Thaís.

Mas essa troca de foco tem um custo para o nosso cérebro: “Precisamos de um tempo para nos concentrarmos em uma atividade e nos tornarmos produtivos nela, e, ao trocar da tarefa A para a B, ‘perdemos’ esse precioso
tempo para nos engajar a cada vez”, diz.

2 – Aumenta o número de erros cometidos
Dado que nosso foco atencional só consegue estar direcionado para uma coisa de cada vez, quando tentamos fazer várias coisas aumentamos a quantidade de informações que passam despercebidas. “A atenção funciona como um filtro seletivo, que escolhe quais informações internas e externas serão processadas pelo cérebro com prioridade. Ao estar focado em uma tarefa, ignoramos muitos aspectos do nosso ambiente ao redor, para que aquela informação seja processada com riqueza de detalhes”, diz Thaís.

Aquilo que ignoramos passa como se não existisse. “Quando praticamos o multitasking, frequentemente aumentamos e muito os erros cometidos, o que na prática leva a muito retrabalho e mais perda de tempo. Pesquisas sugerem que os erros podem aumentar em até 20% quando praticamos o multitasking”.

3 – Aumenta a carga de estresse
A prática do multitasking também pode aumentar de forma significativa a percepção de estresse dos indivíduos. No ambiente de trabalho, no qual o estresse já faz parte da rotina, evitar práticas que aumentem ainda mais esse fenômeno pode impactar diretamente a saúde e qualidade de vida dos colaboradores. “Estudos sugerem que o multitasking pode levar à produção de hormônios e outros neuroimunomoduladores que afetam diretamente nossa saúde, como o hormônio cortisol, por exemplo.

Sendo assim, as organizações precisam construir uma cultura e incentivar seus gestores a trabalhar de forma a favorecer a capacidade de entrega de seus colaboradores. O multitasking não pode ser visto como uma habilidade desejada, mas sim como uma prática que vai contra o que a ciência vem mostrando nos últimos anos”, observa a neurocientista. “De fato, o que as pesquisas sugerem é que o multitasking pode gerar uma perda de produtividade de aproximadamente 40%”, diz.

*Conteúdo publicado na edição de março/2019, da Revista Melhor RH

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