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Os trabalhadores prateados no Brasil

O olhar jovem e a experiência de vida dividirão cada vez mais a bancada de trabalho. Em 2040, a projeção é que cerca de 57% da população em idade economicamente ativa tenha 45+

de Redação em 14 de setembro de 2020
Crédito: Shutterstock

Está em curso uma transformação demográfica que afeta diretamente a relação humana com o trabalho e a forma como planejamos o futuro profissional: a extensão de vida. Pela primeira vez na história, cinco gerações estão trabalhando lado a lado. A presença de profissionais maduros no ambiente corporativo tem, inclusive, uma trajetória cada vez mais ascendente.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), homens e mulheres que chegam saudáveis aos 60 anos, poderão estar fisicamente capazes de atuar profissionalmente até os 74 e 77 anos, respectivamente.

A força de trabalho ativa em todo o mundo está em franco crescimento; a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que a proporção de pessoas com 55 anos ou mais no mercado de trabalho cresceu cerca de 10% nas últimas décadas.

A perspectiva é que antes de 2030, os seniores alcancem uma taxa de participação na força de trabalho global mais alta do que a média entre toda a população com idade ativa. Essas são algumas das conclusões do TrendBook Pessoas, primeiro eixo do projeto FDC Longevidade, que traz um recorte sobre a distribuição etária e os novos capítulos da vida profissional.

Em um cenário de profunda mudança, em certa medida acelerada pela pandemia da covid-19, o FDC Longevidade, desenvolvido pela Fundação Dom Cabral, se apresenta como uma plataforma de gestão pioneira na geração e disseminação de conhecimento qualificado e relevante, destinado a promover uma visão estratégica da temática no campo da educação executiva.

O primeiro desdobramento da iniciativa – que conta com apoio técnico da Hype50+ e patrocínio da Unimed-BH – reúne conteúdos exclusivos e cases inspiradores, que terão como desdobramento eventos mobilizadores de um ecossistema com real potencial para impulsionar a gestão em longevidade no Brasil.

TrendBook Pessoas, que integra o primeiro eixo do FDC Longevidade – conduzido por colaboradores e professores da FDC, especialistas da Hype50+ e profissionais que são referência nacional e internacional em Economia Prateada  – traz análises e informações sobre o impacto da longevidade na vida das pessoas e tendências do futuro. 

Segundo Antonio Batista da Silva Junior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral, o envelhecimento populacional foi identificado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das quatro megatendências para o século XXI.

O Brasil deve ocupar a sexta posição do ranking, em 2050, dos países com maior número de pessoas com mais de 60 anos.

“A Revolução da Longevidade – considerada uma das maiores conquistas da humanidade – traz esperança de tempos melhores ao apresentar transformações socioeconômicas e médicas. Em contrapartida, o momento carrega desafios de diferentes tipos para a sociedade. Devemos preparar as escolas, os negócios, as organizações e, sobretudo, as pessoas para o aumento da expectativa de vida. É uma tarefa dos que buscam a construção de uma nação economicamente próspera e socialmente justa e inclusiva”, afirma.

Para Samuel Flam, diretor-presidente da Unimed-BH, embora tenha se tornado um costume dizer que o mundo mudou e que a vida não é mais como antes, esse discurso é automático, uma narrativa que carece de reflexão sobre as reais mudanças.

“A principal transformação que estamos vivenciando é a demográfica. A longevidade chegou para ressignificar a forma como vemos a realidade. Hoje, não estamos apenas vivendo mais, como estamos vivendo com qualidade, mantendo a produtividade e cultivando hábitos saudáveis”, afirma.

Veja alguns destaques do mapa da longevidade no mercado de trabalho:

>> O comportamento da distribuição etária da população em idade ativa e da força de trabalho no mundo revela muito sobre a relação entre longevidade produtividade.  Nas últimas três décadas, a proporção de pessoas com 55 anos ou mais nessas duas variáveis aumentou cerca de 10%; em 2030, a perspectiva é que esse crescimento seja ainda maior. 

>> Em 1990, cerca de 2,7% da força de trabalho estava na casa dos 65 anos; em 2000 esse número subiu para 3,2%; em 2010 para 3,3%; em 2030 deve ser de 5,3% da população mundial. Em contrapartida, na faixa etária de 15 a 24 anos houve decréscimo: 25,1% (1990); 20,6% (2000); 17,9% (2010); 13,6% (projeção para 2030).

>> O Brasil segue o padrão mundial de envelhecimento populacional. A previsão é que até 2031 conte com mais de 43 milhões de idosos, segundo o Ministério da Saúde.

>> Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que desde a década de 1990 a população economicamente ativa tem aumentado constantemente; em 2040, a projeção é que cerca de 57% da população nacional em idade economicamente ativa tenha mais de 45 anos.

“Entretanto, há um caminho a ser percorrido com mais efetividade pelas empresas que, hoje, não têm iniciativas consolidadas relativas à diversidade etária. Esse contexto mostra o quando o país está perdendo com a falta de trabalhadores seniores em seus quadros de profissionais. Diante das novas tecnologias de automação, habilidades como inteligência emocional e criatividade despontam como um diferencial a ser conquistado; em especial, com a combinação de equipes multigeracionais”, analisa Michelle Queiroz, professora associada da FDC e coordenadora do FDC Longevidade.

Nem-nem maduros

Há uma situação crítica que precisa ser endereçada: o aumento dos nem-nem maduros. De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2019, apesar de sete em cada 10 seniores brasileiros estarem aposentados, somente 21% exercem alguma atividade remunerada para arcar com as despesas.

Por outro lado, dentro dos domicílios onde vivem os prateados, existe uma parcela significativa de adultos que não trabalham. “Hoje têm crescido os nem-nem maduros, homens entre 50 e 64 anos que não trabalham e não são aposentados. De acordo com dados do Ipea, 10,5% dos homens nessa faixa etária estão nessa situação no país”, afirma Layla Vallias, especialista em Economia Prateada, cofundadora da Hype50+ e uma das coordenadoras do estudo.

A especialista aponta que há uma dimensão a ser considerada, que é a subjetiva. “Gostar de trabalhar e de ser produtivo não é uma exclusividade dos millennials. Para os maduros, continuar trabalhando é uma opção natural diante da conquista da longevidade”, afirma.

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