Profissionais de RH: os mestres da arte da influência
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Profissionais de RH: os mestres da arte da influência

Agora é o momento de os profissionais de recursos humanos assumirem a si próprios o protagonismo que sempre entregaram a outras partes

Vivemos tempos de certa angústia. Por outro lado, parafraseando Freud, é esse mesmo mal-estar na civilização que nos acendeu poderes desconhecidos. Uma resiliência individual, profissional e social antes impensada. Para aqueles, então, que têm uma posição de liderança, isso é ainda mais evidente. Sobretudo, aqueles responsáveis diretamente pelo bem-estar das pessoas. Nesse caso, apesar dos meus aplausos, não trato dos nossos heróis da medicina. Trato, sim, sobre os gestores de recursos humanos nas organizações. Afinal, são eles que cuidam dos médicos e paramédicos nos hospitais e centros de atendimento de saúde. Não podemos nos esquecer que os jalecos brancos também portam crachás.  

Tenho dúvidas se as pessoas que trabalham em RH têm consciência da importância da tarefa que realizam nas empresas e instituições. Comecei a minha carreira profissional no setor de recursos humanos da multinacional ABB nos anos 1990. Depois, como consultor, lidei com muitos gestores da área. Falo, portanto, por calejada experiência. Muito antes dos influenciadores digitais virarem os reis e rainhas do marketing e do endomarketing nas redes sociais, os profissionais de RH – obviamente, os bons profissionais de RH – já eram mestres na arte da influência.

Capacidade de influência e comunicação

Os especialistas em recursos humanos no Brasil têm uma escola de dar inveja em seus colegas internacionais. São profissionais que tiveram de lidar com sindicatos e dissídios salariais durante uma das maiores hiperinflações do mundo nos anos 1980. São profissionais que tiveram de lidar com empresas, executivos e trabalhadores com as contas bancárias bloqueadas no início dos anos 1990. Enfim, são profissionais que tiveram de lidar com uma das maiores crises cambiais do planeta quase nos anos 2000. Antes da palavra resiliência ter sido importada da física, já eram resilientes. E uma parte do segredo dessa habilidade já era a capacidade de influência.

Para falar a verdade, capacidade de influência e de comunicação. Algo que, infelizmente, não é uma verdade para todos os setores de uma empresa. Não é à toa que a principal causa da falha de projetos nas organizações, com 76% das menções em uma pesquisa do Project Management Institute (PMI) no Brasil, é por conta de processos e rotinas inadequadas de comunicação. O mesmo levantamento diz que 53% das corporações consideram essa como a habilidade mais deficiente de seus profissionais.

O ponto preocupante é que também a maior parte das crises organizacionais nasce de assuntos internos das empresas, nada menos do que 55% delas, em uma pesquisa do IC Index com ocorrências relatadas pela imprensa em todo o país, tais como acidentes de trabalho, disputas trabalhistas, assédios e maus-tratos.

Assim, se a comunicação é o ponto alto do pessoal de recursos humanos, também é a maior pedra no sapato desses profissionais.

Compartilhar as experiências e competências

Todos os anos, algumas startups de RH realizam um levantamento denominado “Pesquisa tendências: como será a comunicação interna”. Invariavelmente, somente 20% das quase 400 empresas inquiridas estão satisfeitas com os seus sistemas endógenos de divulgação e de relacionamento. E, também invariavelmente, o principal desafio apontado nesse tema pelas organizações é o de “engajar as lideranças”.

Sabemos que os consultores e as empresas podem ser muito criativos para estabelecer um verdadeiro “museu de novidades” de gestão e de ferramentas tecnológicas para resolver essas questões de falhas, crises e engajamento. Sacamos do bolso um programa de “employee advocacy”, um “Scrum”, um “Sprint”, um “Yammer”, um “Slack”, um “Telegram”, e uma série incrível de boas iniciativas e plataformas digitais. Nada contra. A pergunta que me faço é se, no caso específico da comunicação interna, não bastaria apenas ao pessoal de RH compartilhar para valer a sua boa, testada e aprovada habilidade de influência.

Como poderíamos definir essa competência em uma só imagem? Sem medo de errar, diria que se trata do “Dom da palavra”. A formação humanística do pessoal de RH e a intensa vivência relacional daqueles que vêm de estudo técnico criaram, juntas ou separadas, a sabedoria do uso do vernáculo. Não é algo a ser subestimado em um país que infelizmente até os alunos das escolas particulares estão na parte debaixo do ranking de leitura e escrita do teste internacional Pisa.           

Victor Hugo, autor da obra imortal “Os Miseráveis”, afirmava que “as palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade”. Uma inteligente maneira de se definir “influência”, não é mesmo? Em outros termos, o escritor francês acreditava que as palavras, ainda que abstratas, eram o verdadeiro motor de motivação das pessoas e, assim, de transformação do mundo.

Tive o privilégio de escrever na companhia de grandes gestores de recursos humanos. Sabiam conceber a mensagem a partir da mente daqueles que a iriam receber, treinados como eram em sucessivas e complexas negociações. Sabiam transformar conceitos em imagens, com a preocupação de acertar as várias camadas do público. E, mais importante que tudo, sempre convocavam a colaboração, transformando os receptores em protagonistas.

Acostumados sempre a se colocar como facilitadores ou intermediários, acredito que agora é o momento de os profissionais de recursos humanos assumirem a si próprios o protagonismo que sempre entregaram a outras partes. Essa nova faceta, que batizo como Influenciador de RH, parece ser a resposta interna para o estado de inflexão que as empresas vivem atualmente. Enquanto as organizações se transformam em arquipélagos de pessoas – o tal “novo normal” –, o “Dom da palavra”, devidamente compartilhado entre as demais lideranças, deverá ser o mais sólido amálgama a manter a cultura e o propósito corporativo.         

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Luiz Chinan

Luiz Chinan é fundador da iniciativa Berkeley Institute