Qual a história de sua marca?

de Caroline Marino em 12 de setembro de 2017

Para fazer com que os funcionários se identifiquem com a empresa, o RH pode usar o storytelling. Mas isso deve estar conectado com o propósito
da organização e dos profissionais

Quem não se lembra dos discursos de Barack Obama? Da campanha Yes We Can, ao seu último pronunciamento como presidente dos EUA, Obama usou narrativas fortes e com propósitos claros. Sempre divididas em três partes – passado, presente e futuro, como a maioria das histórias contadas em filmes ou livros –, essas histórias foram capazes de mobilizar pessoas e angariar seguidores pelo mundo afora. Ele abusava, ainda, do tom da voz – ora mais baixo, ora mais firme –, com pausas para reflexão e para pesar bem suas palavras.

Luiza, do VivaReal: conectar as
pessoas por meio de histórias

Por trás dos discursos do ex-presidente americano está o storytelling, a arte de se apropriar de técnicas e linguagens narrativas para promover um produto, serviço ou empresa por meio de uma história. O conceito serve para marcar uma posição, transmitir uma mensagem e criar uma impressão duradoura. Um levantamento da Universidade Presbiteriana Mackenzie aponta que apenas 5% das pessoas se lembram de dados apresentados em forma de gráficos e estatísticas. Já quando uma história é contada, 63% do público é capaz de recordá-la. Um estudo feito na Universidade Harvard comprova a eficiência da técnica: histórias ativam partes do cérebro que ajudam as pessoas a transformá-las em suas próprias ideias e experiências, provocando emoções nos ouvintes e facilitando a lembrança das informações com mais precisão do que a simples apresentação de dados.

Nas empresas, especialmente para o RH, as histórias têm se mostrado uma boa maneira de atrair e fidelizar as pessoas, fazendo com que os funcionários se identifiquem com a marca. “As companhias são feitas de pessoas, cada uma com uma história de vida. O RH pode trazer essas histórias à superfície para criar empatia entre os colaboradores, despertar a autoconfiança e o orgulho de fazer parte do time, motivar e, até, recrutar talentos. Afinal, histórias nos conectam e nos inspiram”, diz o roteirista André Castilho, CEO da La Casa de la Madre.

No VivaReal, plataforma digital de imóveis, o storytelling é parte da estratégia de negócios – usado do processo de seleção às reuniões de equipe. A primeira atividade de qualquer novo funcionário, por exemplo, é conhecer o museu da empresa, que fica no 9o andar do prédio em que está a organização. Localizado ao lado da área de colaboração da empresa, o espaço conta com murais que retratam toda a história da companhia – desde o início até os dias atuais. E para que a história fique ainda mais viva para os funcionários, há uma réplica de onde a empresa iniciou as atividades, um pequeno “quartinho” (de 1,5m x 2m), em que Diego Simon, sócio da VivaReal, começou a trabalhar. A ideia é mostrar toda a história da empresa para que o colaborador se sinta parte dela.
Há, inclusive, como explica Luiza Rubio, gerente de desenvolvimento organizacional, o e-mail enviado por Brian Requarth, CEO e fundador do VivaReal, para o sócio brasileiro. “A ideia é conectar as pessoas por meio de histórias; isso ajuda na identificação dos valores dos funcionários e da empresa”, diz.

Além disso, a empresa aposta em programas como Por dentro da firma, que a cada 15 dias apresenta uma área da companhia, com as novidades de produtos e serviços, e o Reviva, que mostra mais da história da companhia, além de alguns imprevistos e como foram resolvidos. “As histórias que não deram certo também servem de lição. Abrimos um escritório na Índia, por exemplo, que não deu certo e foi fechado em três meses. Parecia uma boa ideia, mas não deu certo, o que pode acontecer com qualquer projeto. E nós aprendemos com os erros”, ressalta Luiza.

A história, segundo Castilho, pode ser contadas em diversos formatos – documental, como o escolhido pelo VivaReal, por meio da história da empresa e de seus fundadores, ou ficcional. Segundo o CEO da La Casa de la Madre, o mais importante é que os valores da empresa estejam embutidos na narrativa. “Histórias inspiram, criam identificação, fazem o espectador se reconhecer no outro, despertam um senso de pertencimento e propagam a cultura e os valores da empresa, dentro e fora dela”, completa.

Uso de personagens
No Peixe Urbano, site de compras coletivas, toda a estratégia de gestão de pessoas e comunicação está baseada no slogan Explore a cidade, que acompanha a empresa desde sua fundação, já que a ideia do negócio é ser um espaço para encontrar e interagir com todas as atividades de uma cidade. “Sempre tivemos como prioridade envolver os funcionários em um espírito de equipe, com o objetivo comum de criar parcerias e gerar conexões”, diz Anderson Valverde, diretor de RH da empresa. Segundo ele, toda a comunicação interna é realizada usando os termos “peixes”, “cardume” e “aquário”, e a decoração dos escritórios segue esse padrão.

Barack Obama: uso de narrativas fortes ao longo da carreira

Mas, já que existe o cenário urbano, a empresa decidiu adotar os mascotes Peixoto e Marina. Criados pelo time de product design & mobile para aproximar a empresa do usuário, eles atuam como guias para desbravar a cidade. “Na comunicação interna, são porta-vozes de informes do RH e de outras equipes, quando necessário, com o intuito de tornar a comunicação mais leve”, explica Valverde. O Dr. Peixoto, que anda impecável de terno e gravata, por exemplo, foi criado por iniciativa do departamento jurídico para esclarecer temas de interesse dos funcionários.

“Os personagens são versáteis, já marcaram presença até em festas da empresa”, conta Valverde. Dentro dessa estratégia há, ainda, o programa Papo de peixe, iniciativa dos fundadores para criar transparência. Trata-se de uma reunião mensal na qual são apresentados os resultados da companhia a todos os funcionários, seguida de uma confraternização com petiscos e bebidas. “É um momento de descontração e integração entre as áreas.”

Na visão de Valverde, o storytelling é importante, pois torna os valores e a missão da empresa mais tangíveis, contribuindo para o engajamento dos funcionários e a identificação com a marca. “Cria-se um sentimento de pertencimento e carinho pela empresa. É um modelo de comunicação mais descontraído, que mostra um RH acessível e aberto ao diálogo com a equipe”, afirma.

E, diante de gerações mais novas, isso é essencial. “O RH está muito carente de ações novas e os profissionais mais jovens demandam isso”, diz Regina Dorriguello, diretora de talent development da Stato, empresa de recrutamento e seleção. Mas, segundo ela, o uso de storytelling é eficaz para funcionários de qualquer idade – seja para disseminar valores, seja para apresentar um novo serviço ou produto, seja para aplicar um treinamento. “Levar atividades que sejam mais lúdicas ao ambiente de trabalho faz com que as pessoas absorvam o conteúdo de maneira mais rápida e se sintam engajadas. A leveza faz toda a diferença”, destaca.

Ou seja, onde exista uma ideia a ser apresentada, o storytelling pode ser usado. “A técnica pode ser empregada em diferentes áreas e atividades – na trama de um filme, na apresentação de um palestrante, no roteiro de uma propaganda, na comunicação ou lançamento de um produto ou projeto e em negociações”, reforça Maíti Junqueira, gerente de desenvolvimento de talentos da Lee Hecht Harrison (LHH).

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