Gestão

Salários magros

de *Fernando Mantovani em 11 de agosto de 2010

Há algumas semanas, recebemos a visita de um executivo dos EUA, que nos fez um alerta: naquele país, as empresas não estavam fazendo propostas financeiras à altura das expectativas dos candidatos. Pior ainda: muitas vezes, prometiam uma determinada faixa salarial para uma vaga em aberto e, no momento de fazer a proposta ao candidato, a remuneração se aproximava do valor mínimo anunciado. O alerta sobre o mercado americano fez com que percebêssemos que esse processo também está começando no Brasil. As propostas fracas por parte das empresas começam a incomodar os candidatos, prolongar os processos seletivos e afugentar a possibilidade de atrair talentos para as companhias.

Na prática, esse comportamento significa que as organizações não acompanharam o forte aquecimento do mercado. Ainda sofrendo um “susto” diante da inflação salarial dos últimos meses, as empresas querem cortar custos. O problema é que essa economia potencial acaba prejudicando-as: além de não atrair talentos, que normalmente são remunerados acima da média, elas correm um sério risco de não reter seus profissionais. Com medo de uma bolha salarial e excessivamente preocupadas em conter despesas para evitar problemas futuros, as empresas arriscam a evolução de seu capital humano.

Um exemplo disso é a duração dos processos seletivos, que se tornam mais longos e difíceis – podem durar de dois a quatro meses, enquanto o prazo ideal é de dois a quatro semanas. Os candidatos acabam desistindo e as empresas precisam começar novamente a seleção de profissionais, causando desgaste e muitas vezes prejuízos financeiros.

Esse comportamento “cauteloso” pode ser um efeito inercial do passado – há um ano, as empresas atraíam um bom profissional a uma remuneração mais baixa, mas, com o aquecimento do mercado, as propostas daquele período não funcionam mais. Os salários estão sendo impactados pelo aquecimento do mercado – e continuarão sendo. O alerta serve, principalmente, para as empresas que atuam no Brasil, mercado aquecido e com carência de bons profissionais. O país tem sido alvo de investimentos provenientes de todo o mundo, o que acirra a disputa por talentos e eleva os salários fixos e variáveis dos candidatos. Sabendo disso, eles se tornam mais exigentes e seletivos em busca de uma nova oportunidade profissional. Por isso, é importante frisar que uma economia de centenas de reais pode fazer pouca diferença para a empresa, mas é crucial para um candidato. Tornar a proposta um pouco mais robusta, sem excessos, é um diferencial para uma companhia que busca atrair talentos. Ofertas muito fracas podem atrair profissionais medíocres ou até mesmo gerar um problema de retenção, já que um bom executivo contratado por um salário abaixo da média do mercado tende a se sentir insatisfeito com sua remuneração em pouco tempo, e sem o suporte de um bom plano de cargos e salários, pode ser abordado pela concorrência com uma boa proposta. O risco para as companhias, neste caso, seria investir em um profissional com uma boa bagagem e vê-lo sair da empresa em poucos meses, atraído por melhores perspectivas.

*Fernando Mantovani é diretor Robert Half

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